Economia

O novo oráculo do mercado financeiro americano

David Einhorn acertou previsões como a derrocada do Lehman Brothers

David Einhorn, o presidente e cofundador da Greenlight Capital, é o novo oráculo do mercado financeiro nos Estados Unidos
Foto: Scott Eells/Bloomberg
David Einhorn, o presidente e cofundador da Greenlight Capital, é o novo oráculo do mercado financeiro nos Estados Unidos Foto: Scott Eells/Bloomberg

NOVA YORK – Quando David Einhorn fala, o mercado financeiro – geralmente – escuta. Aos 44 anos, o cofundador do Greenlight Capital, fundo de hedge com ativos avaliados em US$ 8,8 bilhões, é um novo oráculo do mercado nos Estados Unidos, posição que conquistou ao prever quedas desastrosas e inesperadas de empresas como os bancos Allied Capital e Lehman Brothers.

As profecias de Einhorn parecem se realizar mais quando ele detona uma empresa do que quando tenta levantá-la. Foi assim com a empresa de materiais de construção Martin Marietta Materials (MLM), que viu seus papéis caírem 14% em oito minutos após ser “fritada” pelo investidor. A Dick’s Sporting Goods (DKS), de material esportivo, perdeu 6% em três minutos.

As previsões foram feitas em maio de 2012, durante a Conferência Anual do Ira Sohn Investment Research, em Nova York, para uma plateia de gestores de fundos que ouviam ávidos as apostas do especialista.

Durante o “show”, ele sacou do paletó uma varinha mágica e entoou um feitiço para fazer jus à fama que ganhou. Ele concluiu sua apresentação dizendo que tinha "inventado uma coisa". Um novo tipo de ações preferenciais no mercado, com características que podiam fazer as companhias destravarem bilhões de dólares em valor. A essa descoberta ele nomeou “Uso Oportuno Greenlight de Preferenciais” ou Greenlight Opportunistic Use of Preferreds, em inglês, o que gera a sigla go-up, no idioma, algo como “para cima”, em português.

Má fama de "comprador curto"

Jornalistas e blogueiros que cobrem o mercado financeiro prestam atenção não só ao que Einhorn diz, mas também ao que ele não diz. Só por não mencionar a Herbalife, na ocasião, após uma queda brusca nas ações, ele ajudou as ações da empresa a se recuperarem.

No que se refere ao apego que tem com seus investimentos, ele é a antítese do megainvestidor Warren Buffett, da Berskshire Hathway, que fez sua fortuna adquirindo papéis pensando sempre no longo prazo e ignorando flutuações nos preços.

Para Buffett, investir em uma ação é como um casamento; para Einhorn, seguindo a mesma analogia, um caso de uma noite. Ele tem reputação de comprador “curto” (short), tipo de investidor que aposta que a ação vai perder valor. Apesar disso, seus defensores asseguram que a Greenlight tem mais capital investido em ações que estão em ascensão do que o contrário.

“A imprensa começou a referir-se a mim como um ‘comprador curto’, um rótulo com o qual eu não me importava”, escreveu Einhorn em seu livro “Enganando algumas pessoas o tempo todo” (em tradução livre), em que ele conta seu lado da luta pública que travou em 2002 com o Allied Capital Corp., um banco americano.

No mundo dos investimentos, investidores de longo prazo, como Warren Buffet, recebem mais respeito e admiração de seus pares.

Ajudando a derrubar um gigante

Em 2002, Einhorn causou sensação na conferência anual ao expor, metodicamente, a acusação de que o Allied estava fraudando seus livros-caixa.

Em julho de 2007, Einhorn começou a se voltar contra o Lehman Brothers, que segundo ele estaria assumindo riscos muito grandes com os CDOs (títulos imobiliários derivados do mercado "subprime" americano, de altos níveis de calote), e não estaria sendo transparente em seus documentos a respeito desta exposição.

Durante uma conferência em maio do ano seguinte, ele anunciou que venderia suas ações, por acreditar que elas entrariam em queda livre. Em setembro de 2008, o banco de investimentos pediu falência. Há quem sustente, no mercado americano, que as críticas de Einhorn ajudaram na derrocada da instituição.

O exercício de opções de venda dos papéis da companhia cresceu quase 50%, após o discurso de Einhorn na conferência, complementado por um longo artigo em que ele explicava suas razões. A diretora financeira do Lehmans, Erin Callan, tentou acalmá-lo, mas Einhorn rebateu publicamente os argumentos dela. Semanas depois, o banco relatou perdas de US$ 2,8 bilhões em um trimestre e Erin Callan foi demitida.