Saúde

Remédio promete reduzir nível de dependência ao álcool em 61%

Testes aprovam uso de nalmefeno para bebedores abusivos

Jovens em consumo abusivo do álcool. Remédio prevê reduzir dependência em adultos
Foto: Rafael Andrade / Agência O Globo
Jovens em consumo abusivo do álcool. Remédio prevê reduzir dependência em adultos Foto: Rafael Andrade / Agência O Globo

LONDRES- Autoridades sanitárias do Reino Unido aprovaram a venda, desde esta segunda-feira, de um remédio que foi capaz, em testes clínicos, de reduzir a dependência pelo álcool. O nalmefeno, como se chama o princípio ativo, fez que consumidores abusivos do álcool bebessem menos 61%, em média, depois de seis meses de tratamento.

Vendido na Europa com o nome comercial Selincro, a droga não é indicada para aqueles que já estão no fundo do poço, com sintomas de abstinência e necessidade imediata de desintoxicação, mas sim para quem está um nível antes. Serve para quem bebe em excesso, o que para a Organização Mundial de Saúde significa tomar mais de quatro doses por dia, ou quatro latas de cerveja, no caso de homens. Para mulheres, o limite do abuso está acima de três doses diárias.

O álcool é uma das causas de mais de 60 tipos de doenças e lesões. Fatores genéticos e do ambiente em que se vive são importantes no desenvolvimento da dependência, mas estima-se que o DNA tenha 60% de contribuição nos riscos de se tornar alcoólatra.

Acompanhamento social

O teste clínico feito pelo laboratório que produz o medicamento, da Dinamarca, constatou que os beberrões que tomavam 12,75 doses de álcool por dia conseguiram cortar o consumo para cinco doses. O remédio não pode ser prescrito sem um acompanhamento médico. No mesmo teste, aqueles que se excediam na bebida 23 vezes por mês passaram a fazê-lo nove vezes durante o mês.

— Para os dependentes que têm crises de abstinência, já existem drogas no mercado que são mais indicadas — explica psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de dependências da Santa Casa da Misericórdia do Rio. — O nalmefeno é mais um remédio para se juntar ao arsenal que temos para reduzir o consumo abusivo, mas sempre com algum grau de supervisão médica.

A psiquiatra chama a atenção para o fato de o remédio, sozinho, não funcionar. O consumo de drogas, lícitas ou não, está ligado também ao ambiente social do dependente. O acompanhamento médico é fundamental para que o paciente consiga romper com as situações que o leva a beber. De acordo com a fabricante do Selincro, a Lundbeck, os pacientes testados não eram alcoólatras típicos, mas pessoas ainda com família e trabalho.

O remédio, que ainda não vendido no Brasil, é uma ramificação da naltrexona, substância estudada há quase 30 anos, usada para o tratamento do vício de opiáceos, como a heroína. Seis meses de tratamento com o Selincro custa o equivalente a R$ 1580.