Economia

Dólar fecha em queda de 0,7% cotado a R$ 2,12

Expectativa de nova intervenção do BC no câmbio e queda na atividade industrial dos EUA fizeram divisa recuar frente ao real

RIO e SÃO PAULO — No primeiro dia útil de junho, o dólar comercial se desvalorizou 0,74%, após cinco sessões de altas, e encerrou a segunda-feira negociado a R$ 2,125 na compra e R$ 2,127 na venda. Na máxima do dia, a moeda americana bateu em R$ 2,142 e na mínima chegou a R$ 2,127. A divisa também perdeu força no exterior após o enfraquecimento inesperado na atividade industrial dos Estados Unidos em maio, segundo analistas. Na sexta-feira passada, o dólar bateu no maior patamar em quatro anos - R$ 2,143 na venda - o que levou o Banco Central (BC) a realizar sua primeira intervenção no mercado de câmbio em dois meses.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), encerrou a sessão em alta de 0,82% aos 53.944 pontos e volume financeiro negociado de R$ 7,5 bilhões, depois de uma manhã volátil. A alta de mais de 4% das ações da Vale puxou a alta do índice. No ano, o índice tem perda de 11,5%.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso, o dólar recuou nesta segunda com a expectiva de que o Banco Central voltasse a intervir no mercado oferecendo contratos de swap cambial tradicionais, uma operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro. Na sexta-feira, o BC chegou a consultar as mesas de câmbio de corretoras e bancos no fim do pregão sobre a demanda do mercado para mais um leilão nesta segunda, que acabou não acontecendo.

- O mercado acredita que hoje o novo teto para o dólar é de R$ 2,15. Apesar da queda de hoje, avalio que a moeda deve ficar rondando o patamar de R$ 2,13 e R$ 2,14. O fato de o Banco Central ter deixado a divisa se valorizar acima de R$ 2,10 criou incerteza no mercado. Há algumas semanas,a banda de fltuação ficava entre R$ 2,00 e R$ 2,05 - diz Galhardo.

Os economistas do Itaú BBA também acreditam que o BC vai tolerar o dólar flutuando entre R$ 2,10 e R$ 2,15, dada a situação delicada da inflação. Para o Itaú BBA, o Banco Central tem reservas suficientes - US$ 370 bilhões - para controlar e estabilizar o câmbio. Os economistas do Itaú BBA também têm expectiva de que o governo possa remover o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para as aplicações de investidores estrangeiros em renda fixa, o que atrairia mais dólares. O IOF é de 6%.

Segundo Paulo Petrassi, analista da Leme Investimentos, os fatores internos continuam pressionando a moeda para cima, com fluxo cambial fraco, questões fiscais do Brasil. Além disso, a última sinalização mais recente do Banco Central deveria ter puxado o dólar para cima, para uma cotação maior, diz ele.

De acordo com Galhardo, o mercado também aguarda a realização nesta terça do leilão de Notas do Tesouro Nacional -Série A3 (NTN-A3) títulos públicos federais indexados ao dólar Notas do Tesouro Nacional em poder do Banco Econômico, que está em liquidação extrajudicial. Serão leiloados 3,593 milhões de títulos, que poderão somar US$ 3,8 bilhões, e equivale a uma venda de dólares no mercado.

- Talvez o BC não tenha atuado nesta segunda, esperando o resultado doeste leilão - diz o gerente de câmbio da Treviso.

No exterior, a retração da atividade industrial americana , em maio, na primeira baixa desde novembro de 2012, segundo o Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), fez o dólar recuar frente a outras divisas, como o euro e o iene. O Dollar Index, que acompanha o desempenho da divisa americana em relação a uma cesta de moedas, apresenta desvalorização de 0,70%.

O índice da atividade industrial dos EUA ficou em 49 no período, depois de ficar em 50,7 em abril. Números abaixo de 50 indicam contração da atividade econômica. O mercado esperava um índice de 51. A leituradeste dado mais fraco é que o Federal Reserve (Fed) pode não interromper antecipadamente o programa de estímulo à economia, através da compra de títulos públicos.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, disse, no fim de semana, que a alta do dólar frente ao real tem sido menor que em relação a outras moedas e que deve ter impacto limitado na inflação. Ele também afirmou que a autoridade monetária vai intervir no mercado de câmbio quando houver “volatilidade excessiva”.

— Nossa depreciação tem sido mais moderada do que a de outras moedas. Quanto ao repasse para a inflação, considerando o regime de câmbio flexível, o que é o caso no Brasil, o contágio deve ser limitado — disse Tombini, em entrevista após particiar de uma conferência em Istambul, na Turquia.

Apesar da desvalorização do dólar nesta segunda-feira, os economistas do mercado financeiro consultados no boletim Focus, divulgado nesta segunda-deira pelo Banco Central, elevaram em suas previsões a taxa de câmbio esperada para o fim do ano, refletindo a escala da moeda na semana passada. Para o fim de 2013, a previsão subiu de R$ 2,03 para R$ 2,05 em 2013. Nas expectativas para 2014, a taxa prevista foi elevada de R$ 2,07 para R$ 2,10, segundo a média das projeções.

Segundo Nathan Blanche, economista da Tendências Consultoria, uma valorização de 7% no dólar comercial, como ocorreu no mês passado, tem potencial para impactar em 0,35 ponto percentual a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Essa transmissão aos preços, segundo Luis Otavio Leal, do banco ABC Brasil, ocorre na medida em que os estoques de empresas começarem a ser substituídos.

Para o mercado, o avanço do câmbio preocupa num momento em que a inflação começa a afetar o crescimento da economia. O avanço dos índices de preço ajudaram a desacelerar o consumo das famílias, que vinha sendo o principal motor do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). Na quarta-feira passada, o IBGE divulgou que PIB cresceu apenas 0,6%, abaixo do esperado pelo mercado. No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou em 0,5 ponto percentual os juros básicos da economia, a Taxa Selic, para 8% ao ano.

Pregões internacionais em queda

Entre as principais blue chips da Bovespa, Vale PNA subiu 4,53% a R$ 29,95. Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) aponta que a desvalorização do real é positiva para siderúrgicas e para a Vale, reafirmando sua recomendação de compra das ações da mineradora. Já os papéis PN da Petrobras avançaram 1,19% a R$ 20,30. Com melhora de dados de produção da petrolífera, o Credit Suisse reforçou a recomendação de compra para os papéis da empresa, seguindo decisão do Bofa tomada na semana passada. OGX Petróleo ON ganhou 0,72% a R$ 1,39; Itaú Unibanco PN perdeu 0,80% a R$ 32,14 e Bradesco PN perdeu 2,79% a R$ 33,40.

A maior alta do pregão foi dos papéis ON da OI, com alta de 6,76% a R$ 4,58, enquanto a maior baixa ficou para as ações PN da GOL com perda de 3,87% a R$ 8,95. A Gol sofre com a alta do dólar, já que tem custos e dívida em moeda estrangeira.

Na Europa, as principais Bolsas, que abriram em alta, fecharam no campo negativo após o dado negativo da atividade industrial nos EUA. A notícia de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a estimativa para o crescimento da Alemanha para 0,3% este ano também pesou. O PMI industrial da China, medido pelo HSBC, caiu para 49,2 em maio, em comparação à leitura preliminar de 49,6, embora o PMI oficial tenha subido para 50,8, de 50,6 em abril.

O índice Ibex da Bolsa de Madri, perdeu 0,44%; o Dax, do pregão de Frankfurt, se desvalorizou 0,76%; o Cac, da Bolsa de Paris, recuou 0,71% e o FTSE, da Bolsa de Londres, caiu 0,88%.

Nos EUA, o S&P 500 subiu 0,59% e o Dow Jones se valorizou 0,92% e o Nasdaq ganhou 0,27%.

Contratos de juros futuros em alta

As taxas de contratos de juros futuros terminaram a segunda-feira com leve alta, apesar das declarações do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Ele disse que a alta do dólar terá impacto limitado sobre a inflação, mas mesmo assim o mercado vê riscos de elevação do IPCA ao longo do ano com o repasse cambial.

Na BM&FBovespa, o contrato de DI com vencimento em outubro de 2013 encerrou com taxa de 8,16% de de 8,14% no ajuste de sexta. O DI com vencimento em janeiro de 2014 tinha taxa de 8,45%, ante 8,43% na sexta. O papel com vencimento em janeiro de 2015 apresentava taxa de 9,00% ante 8,94%. O contrato com vencimento em janeiro de 2017 tinha taxa de 9,75%, a mesma de sexta-feira.