Economia

Zeinal Bava assume a Oi e ação sobe 16,7%

Segundo comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Oi informou que Bava ficará no cargo até agosto de 2014, quando vai ocorrer nova Assembleia Geral Ordinária

Após quase cinco meses sem presidente, a Oi anunciou na manhã desta terça-feira que Zeinal Bava vai assumir o comando da companhia
Foto: Mário Proença / Agência O Globo
Após quase cinco meses sem presidente, a Oi anunciou na manhã desta terça-feira que Zeinal Bava vai assumir o comando da companhia Foto: Mário Proença / Agência O Globo

RIO e SÃO PAULO – Anunciada nesta quarta-feira, a nomeação do moçambicano Zeinal Bava para a presidência da Oi marca o início de uma nova fase na companhia e parece enterrar de vez o projeto de uma supertele nacional, amplamente defendido pelo governo e que já consumiu cerca de R$ 18,3 bilhões em empréstimos do BNDES desde 1998. De acordo com especialistas e bancos, a chegada ao Brasil do executivo, no comando da Portugal Telecom (PT) desde 2008, é o primeiro passo da Oi rumo à fusão com a operadora portuguesa e à diluição dos sócios nacionais, que hoje apostam em “uma virada” na companhia. Com o anúncio, as ações preferencias (PN, sem direito a voto) da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registram alta de 16,79% ontem. Já os papéis ordinários (ON, com direito a voto) subiram 15,72%. Mesmo com a valorização de ontem, as ações registram queda acumulada de 46% este ano, segundo a Economatica.

A Oi é controlada pela holding Telemar Participações, que tem entre seus principais acionistas a Andrade Gutierrez Telecom (AG), de Sérgio Andrade; a La Fonte, de Carlos Jereissati; e a PT. Também integram o bloco de controle os fundos de pensão das estatais e o próprio BNDES. A PT alinhou sua entrada na Oi em 2010 com a ajuda do governo federal, após vender sua fatia de 50% na Vivo. Hoje, tem uma participação direta e indireta de 23,26% na Oi, atrás apenas de La Fonte e AG.

A escolha de Zeinal já vinha sendo negociada há meses pelos controladores, que evitaram contratar um executivo que não conhecesse a companhia, pois “não havia mais tempo para transição, já que a Oi não está no seu melhor momento”. Todos os acionistas da tele aprovaram o nome do executivo.

— O Zeinal já conhece a Oi, pois ele lidera o comitê de tecnologia, inovação e engenharia. Hoje, as duas companhias (Oi e PT) já vêm fazendo muitas coisas juntas, como a compra de aparelhos, a instalação de cabos submarinos e o desenvolvimento de novos projetos, como o serviço de TV por assinatura da Oi. Não há mais tempo a perder — disse uma fonte.

Além da presidência da Oi, Zeinal vai acumular o comando das operações em Portugal. Para o lugar de Zeinal no grupo — que está presente ainda em seis países, de África e Ásia — quem assume é Henrique Granadeiro. Segundo comunicado da empresa portuguesa, Zeinal vai focar na sinergia dos projetos estratégicos e de inovação conjuntos entre a Oi e a PT. O consultor Virgílio Freire, ex-presidente da Lucent e da Vésper, afirma que o fato de Zeinal acumular as duas operações representa o primeiro passo para uma fusão.

— Isso indica, sem dúvida, uma negociação de as empresas dividirem recursos, por exemplo. Assim, a criação da supertele parece estar cada vez mais distante não só para a Oi, mas também para o governo, que hoje parece estar mais preocupado com outras questões, como a inflação — disse Freire.

Segundo o banco JPMorgan, a nomeação do executivo pode ser vista “como um primeiro passo para uma fusão completa com a Oi”. Porém, o relatório do banco diz que uma união pode ser “improvável” devido à estrutura societária complexa da Oi. Já o PNB Paribas afirma em seu relatório que a mudança é positiva para a Oi, pois o executivo conhece o mercado brasileiro de telefonia há mais de dez anos, quando fazia parte do conselho da Vivo, empresa controlada com a espanhola Telefónica.

— Do ponto de vista da Portugal Telecom, é crítico acelerar o programa de turnaround (recuperação) da Oi através de uma materialização das sinergias entre as empresas — disse Henrique Granadeiro.

Granadeiro, que não quis comentar os rumores de uma fusão da PT com a Oi, afirmou que a “realidade é que temos uma aliança estratégica com participações cruzadas e, uma aliança estratégica que corra bem vai se aprofundando à medida que as sinergias se evidenciam”.

Marco Geovanne, diretor de Participações da Previ, que tem 9,69% de participação na Telemar Participações, disse que Zeinal poderá fazer a esperada virada na Oi e tocar os planos de expansão da companhia tanto no Brasil quanto no exterior. Segundo ele, Zeinal será a palavra-chave para mudar a cultura da companhia e aumentar a qualidade.

— Há muito dever de casa ainda para fazer e colocar a empresa na trilha do crescimento. Mas, nós, como acionistas a longo prazo, acreditamos que é preciso olhar oportunidades em outros mercados. É preciso ter escala para ficar mais competitiva. Hoje, não vejo acionistas saindo da Oi, pois o futuro é promissor. Se alguém quer sair, não deveria ser agora, pois só se vende na alta e não na baixa (na Bolsa). Mas pode fazer sentido em algum momento. Hoje, o próprio governo abandonou (a ideia de supertele). Tem de ser supertele em qualidade. Essa será a tônica da empresa. O endividamento da empresa não desestabiliza, pois há mecanismos para isso, e acionistas, como os fundos de pensão e o BNDES — disse Geovanne.

Zeinal assume no lugar de José Mauro Mettrau, que presidia interinamente a companhia desde 22 de janeiro deste ano, quando Francisco Valim deixou o comando da Oi por desentendimento com os acionistas. Segundo comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Oi informou que Zeinal ficará no cargo até agosto de 2014, quando vai ocorrer nova Assembleia Geral Ordinária.

CVM deu início a investigação preliminar

O executivo, no entanto, chega na Oi com muitos desafios pela frente. O primeiro é aumentar a geração de caixa da empresa e reduzir o endividamento, de R$ 27,495 bilhões no fim de março deste ano — um aumento de 63,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Além disso, terá, segundo analistas do setor, de manter os investimentos em alta, sobretudo na construção de redes de fibra ótica.

Segundo Alex Pardellas, analista de Telecom da CGD Securities, a escolha de Zeinal foi acertada justamente por já conhecer a companhia. Com isso, diz Pardellas, ele conseguirá acelerar a venda de produtos convergentes. O analista lembra que desde a saída de Valim, no fim de janeiro, as ações da Oi acumulam queda superior a 45% na Bolsa.

— A alta das ações hoje (ontem) recupera parte das perdas da companhia no ano. Mas o endividamento é preocupante. Ela só vai conseguir manter seu pagamento de dividendos neste ano (de R$ 2 bilhões, em agosto) se conseguir manter a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa abaixo de 3%. Hoje, está em 3,05%. Estamos prevendo para esse ano uma geração de caixa em torno de R$ 9,2 bilhões.

Na segunda-feira, segundo operadores, as ações ON da Oi já tinham fechado com alta de 6,76%, depois que o nome de Zeinal começou a circular nas mesas de operação. No pregão de segunda os papéis PN da Oi subiram 3,53%.

— Zeinal é bem conceituado pelo mercado e homem de confiança da PT. Por isso, as ações reagiram positivamente à indicação. Mas ele terá uma tarefa muito difícil, que é equacionar o endividamento alto da empresa — diz Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.

Fontes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) relataram que a oscilação das ações da Oi na segunda-feira e ontem tiveram comportamento atípico e que, por isso, entraram em investigação preliminar da autarquia para auferir se houve irregularidades na negociação dos papéis. A CVM diz que “acompanha e analisa as operações e informações envolvendo companhias abertas e adota as medidas cabíveis, quando necessário”.

Chamou atenção também o fato de as ações ordinárias (PN, sem voto) da Jereissati Telecomunicações, uma das acionistas controladoras da Oi, terem tido negociação mais de duas vezes superior à média do ano (R$ 86 mil), com giro de R$ 206 mil no pregão de ontem. Os papéis ON subiram 5,77% ontem e 0,65% anteontem. Já as ações da PT subiram mais de 6% ontem. ( Colaboraram João Sorima Neto e Daniel Haidar )