Caneta é roubada do Museu da República

Fechar comentários

Caneta é roubada do Museu da República

Caneta de ouro que pertenceu a Afonso Pena, roubada do Museu da República
Caneta de ouro que pertenceu a Afonso Pena, roubada do Museu da República Foto: Terceiro / Divulgação
Catharina Wrede - O Globo
Tamanho do texto A A A

RIO - Era horário de visitação e o Museu da República, no Catete, estava funcionando normalmente na tarde de terça-feira. Por volta das 15h, porém, uma das vitrines do terceiro andar do palacete foi arrombada, e a caneta de ouro cravejada de brilhantes que pertencera ao ex-presidente da República Afonso Pena, roubada em plena luz do dia. O objeto era exibido na exposição permanente “A Res Publica Brasileira”. Nenhuma das 23 salas da instituição tem alarme ou câmera de segurança.

De acordo com Magaly de Oliveira Cabral Santos, diretora do museu e mãe do governador Sérgio Cabral, a Polícia Federal foi acionada no instante em que o furto foi percebido, chegando ao local imediatamente. Segundo a diretora, a polícia voltou ao local ontem, para fazer a perícia e interrogar testemunhas.

— Também entramos em contato com a CET-Rio, porque é possível que eles tenham alguma imagem para oferecer — diz Magaly.

Até o momento, o principal suspeito é um homem que teria entrado sozinho no museu e que, de acordo com os seguranças da instituição, mostrava uma agitação fora do normal. Segundo Magaly, duas guardas vão prestar depoimentos hoje, na tentativa de construir o retrato falado do suposto ladrão. A instituição, no entanto, não tem nenhum alarme ou câmera de segurança para monitorar as visitas. E para vigiar as 23 salas, há 12 guardas.

— Isso é um problema muito sério. Além disso, não temos guardetes suficientes —desabafa Magaly, referindo-se aos seguranças do interior da instituição. — Desde 2010 venho pedindo um reforço de seguranças, um em cada sala, mas isso me foi negado.

Fundador do Ibram: cultura é esquecida

Segundo a diretora, o roubo aconteceu no momento em que o guarda que vigiava a sala onde a caneta se encontrava precisou se deslocar para outro cômodo, por causa de visitantes que chegavam ao local. O suspeito teria ficado sozinho com a peça durante alguns minutos.

— O Ibram acabou de fazer um curso de prevenção de riscos no Rio, onde o foco principal foi a segurança — conta José do Nascimento Júnior, ex-presidente e fundador do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), cargo que ocupou por dez anos até o último dia 8, quando foi afastado pela ministra da Cultura, Marta Suplicy. — O problema não é apenas do Museu da República, mas de toda uma estrutura dos museus e instituições culturais do país. Vamos sediar grandes eventos em breve, e a tendência é isso (a ocorrência de roubos) se agravar. Está se olhando muito para a infraestrutura de aeroportos e transporte público, mas está se esquecendo do legado cultural onde estão nossos acervos. O país precisaria destinar, no mínimo, R$ 70 milhões ao ano às instituições culturais. Hoje, o que vai para os museus é muito inferior a esse valor.

A caneta de ouro furtada de uma das vitrines de vidro do terceiro andar do Museu da República, exposta no módulo República Oligárquica da mostra “A Res Publica Brasileira”, data da primeira década do século XX. Os três brilhantes em formato de folhas e os contornos de pena de ave selvagem sempre lhe conferiram o status de obra de arte. Na haste lisa, também de ouro, lê-se a inscrição “Dr. A.P. — Lei do Sorteio / Homenagem do Exército ao Dr. A. Pena”. A caneta foi oferecida ao então presidente Afonso Pena pelo Exército brasileiro, em 1908, na ocasião das leis de pensões do exército, como a Lei do Sorteio, que tornava obrigatório o ensino militar nos colégios secundários.

O Museu da República oferece ao visitante um panorama da história republicana, com fotos, documentos, objetos, mobiliário e obras de arte dos séculos XIX e XX. Um grande parque, teatro, livraria, cineclube, brinquedoteca e loja de design integram a estrutura.

Galerias