19/03/2013 20h55 - Atualizado em 19/03/2013 21h54

Laudo aponta que os seis dedos de silicone eram de médicos do Samu

Documento revela dois novos nomes envolvidos no caso.
Polícia de Ferraz está ouvindo funcionários do Samu.

Pedro Carlos LeiteDo G1 Mogi das Cruzes e Suzano

O laudo concluído pela perícia da Polícia Civil de Ferraz de Vasconcelos, identificou as digitais dos seis dedos de silicone que estavam com a médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Thauane Nunes Ferreira no dia em que foi flagrada passando as próteses no ponto eletrônico. O documento, divulgado nesta terça-feira (19), aponta os nomes dos médicos Caio José Losito Mantovani, Ronnie Munis de Oliveira, Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes, Aline Monteiro Cury, além da própria Thauane. Os peritos cruzaram as digitais dos dedos falsos com os dados que estavam cadastrados no ponto eletrônico.

Os nomes de Caio e Ronnie até então não haviam sido relacionados ao caso. Os de Aline, Rodrigo e Felipe foram descobertos no próprio flagrante com os comprovantes dos nomes que saíram da máquina de ponto quando Thauane foi flagrada supostamente comentendo a fraude. Até o momento, somente a médica Thauane foi indiciada por falsificação de documento.

O resultado da perícia foi entregue no fim da tarde de segunda-feira (18) ao delegado Wagner Lombisani, que está conduzindo as investigações. Na fase atual, funcionários do Samu, entre enfermeiros e motoristas, deverão ser ouvidos.  “O mais importante é identificar os dias que foram trabalhados e os que não foram trabalhados pelos médicos. A partir daí, cruzaremos estas informações com os registros do ponto eletrônico”, explica Lombisani.

Laudo da perícia lista os nomes dos médicos donos das digitais dos dedos de silicone (Foto: Pedro Carlos Leite)Laudo da perícia lista os nomes dos médicos donos das digitais dos dedos de silicone (Foto: Pedro Carlos Leite)

O delegado afirma que é preciso “fechar o cerco” e provar que os dedos eram usados para que os médicos recebessem sem ter trabalhado no plantão. “O médico pode alegar que o dedo de silicone foi uma brincadeira. Precisamos provar que foi usado para obter uma vantagem ilícita”. Nenhum dos médicos ainda foi indiciado. O delegado acredita que o crime seria de peculato.

Os dedos de silicone estavam guardados em pequenos potes de plástico identificados com as iniciais de cada médico. O dedo falso de Thauane estava com o pote marcado com um "T", enquanto que o de Aline levava um "A", Felipe "F", Caio "C", Ronnie "R" e Rodrigo Gil "G".

Produção dos dedos
Em vídeo gravado pelo secretário municipal de Segurança, no dia em que foi flagrada, Thaune afirma que o médico Felipe de Moraes providenciou os dedos falsos. Contudo, as investigações até agora apontam para outro caminho. “Nós não temos certeza. Pessoas disseram que não foi o Felipe. Poderia ser uma pessoas que não trabalha mais lá. As investigações prosseguem”, afirma Lombisani.

Detalhe do laudo da Polícia Civil que mostra os dedos de silicone com os comprovantes do ponto eletrônico que revelam os nomes dos donos das digitais (Foto: Pedro Carlos Leite)Detalhe do laudo da Polícia Civil que mostra os dedos de silicone com os comprovantes do ponto eletrônico e os os nomes dos donos das digitais (Foto: Pedro Carlos Leite)

O delegado  explica que no dia do flagrante, Thauane passava três dedos falsos no ponto, além de seu próprio dedo. "Neste dia, Thauane era a única que ia realmente trabalhar. Ela estava passando também o dedo falso da Aline, que deveria ser sua companheira de plantão. Os dedos do Rodrigo e do Felipe também foram passados porque eles deveriam estar fechando o turno da noite", explica o delegado Lombisani. No momento em que foi flagrada, Thauane tinha apenas três dedos em sua posse. Os outros três a médica foi buscar em sua casa.

Afastamento
O secretário de Saúde, Juracy Ferrira da Silva afirma que precisa aguardar a prefeitura ser acionada oficialmente. "Este laudo da perícia ainda não chegou até nós. Quando isso acontecer afastaremos os médicos Ronnie e Caio e abriremos sindicância para apurar o envolvimento deles, assim como fizemos com os outros", afirmou. Thauane, Aline, Felipe, Rodrigo e Jorge Cury, coordenador do Samu e, segundo Thauane, mentor do esquema, foram afastados de suas atividades e estão sendo investigados pela administração municipal.

Outro lado
A reportagem do G1 tentou entrar em contato com os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes, Aline Cury e Thauane Nunes Ferreira, mas não conseguiu. Caio José Losito Mantovani e Ronnie Munis de Oliveira também não foram localizados.

Jorge Cury se manifestou apenas em 10 de março, quando o caso foi descoberto, e afirmou: "Sou funcionário da prefeitura há 25 anos. Eu nunca soube disso. Passo no Samu todo domingo e nunca faltava funcionário. Hoje que não fui aconteceu isso.”

Em nota à produção do Fantástico, enviada no domingo (17), o advogado de Felipe de Moraes disse que o médico "não participou de nenhum esquema de fraude e que nunca recebeu dinheiro sem que tivesse trabalhado nos plantões".

Entenda o caso
Em 10 de março, a Guarda Municipal gravou imagens do momento em que a médica Thauane fraudava o sistema. Com a médica, foram apreendidos seis dedos de silicone e comprovantes impressos pelo equipamento que controla o horário dos funcionários. Ela chegou a ser detida por falsificação de documento público, mas foi solta porque a Justiça concedeu um habeas corpus. Em depoimento ao Ministério Público, Thauane contou como era o esquema e apontou que ele seria chefiado pelo então coordenador do Samu, Jorge Cury.

O secretário municipal de Segurança, Carlos César Alves, disse que os médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tinham que repassar o valor ganho pelos plantões não trabalhados ao coordenador da unidade, Jorge Cury.  A vantagem dos profissionais seria a flexibilização da agenda para poder trabalhar em outros locais. “Cada médico que participava do esquema pagava R$ 1,2 mil por turno de 24 horas aos fins de semana para o Jorge Cury”. Alves ainda afirmou que o pagamento era feito por transferência bancária.

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