04/11/2014 16h12 - Atualizado em 04/11/2014 21h12

Ocupação em São Gonçalo, RJ, reúne 1,4 mil pessoas em 4 dias

'Não queremos outra favela', afirmam ocupantes de terreno.
Coordenador de movimento pede programa de habitação.

Henrique CoelhoDo G1 Rio

Moradores da ocupação trabalham para colocar barracos em pé (Foto: Henrique Coelho/G1)Moradores da ocupação trabalham para colocar barracos em pé (Foto: Henrique Coelho/G1)

Mais de 350 famílias completaram, nesta terça-feira (4), o quarto dia de ocupação de uma área de 60 mil m² em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, segundo cálculos dos novos moradores. Os ocupantes afirmam que não querem que o local se torne mais uma favela no município. Segundo a Prefeitura de São Gonçalo, o terreno pertence à empresa G Bastos Comércio e Indústria de Embalagens Plásticas LTDA, de propriedade de Walter Gonçalves Bastos.

"Pelo contrário, queremos chamar a atenção para um problema social que aflige vários locais do Brasil. Queremos um programa de habitação devidamente popular", afirmou Felipe Brito, um dos representantes do movimento de ocupação.

A ocupação da área, que segundo moradores está abandonada há pelo menos 30 anos, foi organizada por coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Guilherme Guimarães, um dos representantes do movimento no país, afirmou que foi contactado por famílias do entorno há seis meses e que, depois de verificar o terreno, começou a conversar com líderes de comunidades na divisa entre os bairros de Jardim Catarina e Santa Luzia.

Mais de 1400 pessoas já estão no local, no Bairro Santa Luzia, em São Gonçalo (Foto: Henrique Coelho/G1)Mais de 1400 pessoas já estão no local, no Bairro
Santa Luzia, em São Gonçalo
(Foto: Henrique Coelho/G1)

"Viemos conversando com líderes comunitários de várias comunidades, e na sexta-feira (31) resolvemos que era a melhor hora", conta ele, para quem a solução para o déficit habitacional na região passa pela construção de unidades habitacionais do programa "Minha Casa, Minha Vida", do governo federal.

"Com todos os problemas, o modo 'entidades' do Minha Casa, Minha Vida pode trazer a solução para os que moram em áreas de risco ou simplesmente não possuem essa moradia, que é um direito universal", disse. Segundo ele, duas pessoas, em dias diferentes, foram até o local alegando serem donas do terreno, mas sem apresentar documentos.

A água do acampamento é fornecida por uma vizinha, que disponibilizou o poço artesiano de sua residência. Os banheiros são improvisados e a luz elétrica é feita através de ligações clandestinas. Ainda esta semana, Guilherme afirma que a ocupação será dividida em grupos, com cozinhas coletivas para cada um deles.

Queremos chamar a atenção para um problema social que aflige vários locais do Brasil. Queremos um programa de habitação devidamente popular"
Felipe Brito,
representante da ocupação

Acampamento pegou fogo
Enquanto montavam habitações precárias, erguidas em bambu e lonas de plástico, no domingo (2) os ocupantes tiveram uma desagradável surpresa: um incêndio tomou conta de de uma parte do acampamento durante a noite.

"Foi criminoso, para nos intimidar. Mas não vamos sair até a situação ser resolvida", afirma Felipe Brito.

Após o episódio, foi lançada nas redes sociais a campanha "Menos Ódio, Mais Moradia". Parlamentares, artistas e ativistas sociais encamparam a ideia e postaram fotos apoiando a ocupação, que foi batizada como Zumbi dos Palmares.

Em nota, a Prefeitura de São Gonçalo afirmou que a área não é pública e já solicitou um ofício para que o dono do terreno se apresente em cartório. A nota diz ainda que está sendo conversada a melhor forma de resolver o problema. Segundo a própria prefeitura, o déficit habitacional na cidade é de 20 mil pessoas, de uma população de 1,2 milhão de pessoas.

Bruno Pereira, de 32 anos, mora na ocupação em São Gonçalo desde o último sábado (1).  (Foto: Henrique Coelho/G1)Bruno Pereira, de 32 anos, mora na ocupação em
São Gonçalo desde o último sábado (1).
(Foto: Henrique Coelho/G1)

Esperança e trabalho
Thaís Rosa da Silva, de 19 anos, cortava o bambu por volta do meio-dia, debaixo de um sol escaldante, para separar sua barraca dos vizinhos. Ela chegou no acampamento no sábado (1º), vinda de Magé, na Baixada Fluminense.

"Estava pagando um aluguel de R$ 350, e meu namorado me avisou. Aí vim para cá com ele. Quero uma casa só minha. Aqui é a minha melhor opção. Acho que vamos continuar aqui muito tempo", afirma ela.

Ariane Méri, de 22 anos, que morava na favela do Cano Furado, próxima à ocupação, afirma que nunca soube de qualquer utilização pública para a área. "Isso aqui era usado para desmonte de carro, homicídio, só coisa ruim. Uma prima minha foi estuprada após ser levada para essa área aqui há cerca de duas semanas. Aqui era terrível", afirma. "Agora está mais seguro para andar por aqui".

Quase no limite do acampamento, mora Bruno Pereira, de 32 anos, e o filho de 2 anos. A mulher de Bruno, desempregado desde junho após trabalhar no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), trabalha em um posto de gasolina na Avenida Amaral Peixoto, próximo ao local.

"Fui demitido com mais 600 e estava morando de favor no quintal da minha mãe, no Cano Furado. Resolvi vir depois que conversei com a minha mulher. É uma chance de ter algo só meu, né?", disse ele, com o filho nos braços.

Grupo de 100 pessoas chegou ao local na última sexta-feira (31) (Foto: Henrique Coelho/G1)Um grupo de 100 pessoas chegou ao local na sexta-feira (31) (Foto: Henrique Coelho/G1)

 

 

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