09/03/2013 15h30 - Atualizado em 09/03/2013 15h30

Artistas de Olinda e Recife fazem homenagem às duas cidades

Olinda encanta Geraldo Maia, Alceu, Guita Charifker e Expedito Baracho. Já Recife enche os olhos de Capiba, Romero de Andrade Lima e Rossi.

Duas das cidades mais antigas do Brasil comemoram aniversário na próxima semana. Doze de março é dia de festa para Olinda e Recife, as vizinhas pernambucanas que ao longo dos anos mudaram muito, cresceram para os lados, para o alto, se encheram de habitantes. E é pelos olhos dos artistas, que têm a sensibilidade à flor da pele, que o Espaço Pernambuco deste sábado (9) bate palmas para as duas cidades.

Em Olinda, durante 478 anos, as colinas na beira do mar acolheram os colonizadores portugueses, foram reivindicadas pelos holandeses, uma vila foi erguida, saqueada, reconstruída e já faz muito tempo que é referência de beleza e de história. Geraldo Maia, nascido no Recife, grava as próprias músicas e as de outros compositores que tocam o coração dele. Do poeta Carlos Pena Filho, tomou emprestada uma canção que ganhou o arranjo de Vinícius Sarmento no violão de sete cordas. Veja no vídeo acima esta e outras canções.

“Eu acho que ela [Olinda] é poética em si. Ela, no fim das contas, se traduz nisso. Numa coisa que remonta o que há de melhor num homem. Que é a poesia, a música, a literatura. A arte em geral. Eu acho que é uma cidade que traz isso pra dentro de você”, afirma Geraldo.

O cantor e compositor Alceu Valença, morador de Olinda, viu – e vê – muita poesia ao redor. Compôs uma música que virou quase um hino da cidade.

Quando abre as portas da sua casa, numa das ladeiras da cidade, a artista plástica Guita Charifker se sente plena. “É como se eu tivesse nascido aqui. Eu nasci no Recife, mas eu tenho mais amor a Olinda do que ao Recife. Porque no Recife, eu vivi uma época um pouco complicada, e aqui não. Desde que eu vim pra essa casa, eu me sinto feliz”, revela. Para ela, o espaço ao redor, favorece o bem estar. “Abro a porta da frente, tem essa ladeira tão bonita, né? Tem a igreja aqui defronte que toca. Domingo, eu ouço a missa todinha porque é bem alto. Sem sair de casa”, conta Guita.

O violonista Expedito Baracho é apaixonado pelas músicas do compositor Capiba. Gravou várias, ainda no tempo dos discos de vinil. Também é louco por Olinda. “Eu sou do Rio Grande do Norte. Mas cheguei em Olinda tinha doze anos. Minha vida foi toda praticamente em Olinda”, afirma. Para ele, Olinda é muito mais que a exuberância histórica da cidade alta. Ele se sente profundamente unido à cidade. “O primeiro banho de mar que tomei foi aqui, no Carmo. Levei uma lavada da onda. Até hoje eu ainda estou rolando por aí”, brinca.

Recife é um pouco mais jovem. Olinda engatinhava quando os colonizadores construíram um porto um pouco ao sul. Logo, um novo povoado. Hoje, uma metrópole.

Veja no vídeo à esquerda a homenagem dos artistas ao Recife.

O Recife é mesmo um lugar muito inspirador. Já os artistas holandeses que estiveram aqui no século XVII tiraram de letra a tarefa de retratar o lugar para as autoridades explicarem na Europa que terra estavam dominando. Frans Post chegou a Pernambuco na comitiva do conde Maurício de Nassau e pintou aldeias, igrejas, engenhos... O colecionador Ricardo Brennand tem vinte quadros dele em exposição.

Recife chega agora aos 476 anos. Depois dos holandeses vieram muitas pessoas que encontraram paisagens encantadoras de sobra e tudo isso foi se traduzindo em telas e mais telas. “Eu resolvi um dia fazer uma homenagem a todos os pintores que eu gostava e que já tinham pintado o Recife. João Câmara, Francisco Brennand, Cícero Dias, Reynaldo Fonseca”, diz o artista plástico Romero de Andrade Lima. Romero, que é recifense, já passou por vários ateliês e diz que agora gosta de pintar é na beira do Rio Capibaribe, no Poço da Panela. “Não tenho nem vontade de sair da beira do rio nem do Recife. Todo mundo pergunta porque é que eu não vou pra Europa, mas é quase uma sensação de responsabilidade tomar conta do bairro, tomar conta da cidade”, diz o artista.

“O Recife foi a cidade do Capiba, né? A cidade de imaginação, quando ele era criança, em Campina Grande, sempre sonhava com o Recife, daí sua ligação com o Santa Cruz, e quando ele chega aqui, em setembro de 1930, Capiba era, ele amava essa cidade. Então pra ele o mundo a capital era o Recife. O resto era periferia”, explica o historiador Leonardo Dantas.

Na Rua do Bom Jesus, uma das mais antigas da cidade, outro apaixonado pelo recife, o jornalista Antônio Maria, parece zelar pelo lugar. O cronista Joca Souza Leão esteve com ele algumas vezes e lembra uma música que tocou a alma de recifenses, de muita gente que esteve aqui de passagem... Ou que apenas ouviu um dia: “Sou do recife com orgulho e com saudade, sou do recife com vontade de voltar. O rio passa levando a barcaça pro alto do mar... Isso é saudade pura”, cita.

Até o Rei do Brega, Reginaldo Rossi, se arrisca a cantar um frevo quando se trata de homenagear o Recife. “Então a música minha cidade abrange a parte jocosa do Recife, tem muita cachaça, muita mulher, é um paraíso tropical. Depois algumas pessoas não notaram, tem a localização geográfica do Recife. Tudo tem muita beleza. E tem a parte também histórica. Recife é a cidade que vi surgir trechos maiores heróis da nossa nação. Então a musica é extensa, porque eu quis retratar tudo do Recife. É como o hino nacional, não se canta o hino inteiro, só se canta duas partes”, descreve Rossi.

Olinda e Recife: duas cidades, e o que se pode chamar de almas gêmeas. Elas têm muito em comum: nasceram para ser cantadas e traduzidas em todas as formas de arte.

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