Rio

Protestos chegam ao caminho dos peregrinos

Espanhola teria sido detida durante passeio por ruas do Leblon. Voluntários temem pela segurança de visitantes

O protesto de quarta-feira levou medo às ruas do bairro e preocupa organizadores da JMJ
Foto: Marcelo Carnaval/17-07-2013
O protesto de quarta-feira levou medo às ruas do bairro e preocupa organizadores da JMJ Foto: Marcelo Carnaval/17-07-2013

RIO - Os protestos no Leblon na noite de quarta-feira se chocaram com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Na confusão, uma peregrina espanhola teria sido detida. Apesar da possibilidade de ocorrerem novas manifestações na semana que vem, os peregrinos afirmam ter confiança de que não haverá problemas. Os voluntários que os acolhem, porém, mostram-se mais preocupados. A peregrina espanhola, por exemplo, apenas caminhava quando foi detida e levada para a 14ª DP (Leblon), conta o advogado Gustavo Proença, integrante da comissão de Direitos Humanos da OAB e coordenador dos plantões da entidade durante os protestos.

— Ela foi detida com um grupo de 50 pessoas. No entanto, esse procedimento não é permitido pela Constituição. Ao sair da delegacia ela não quis dar qualquer declaração, apesar de estar assustada — afirmou o advogado, lamentando o fato de a peregrina não ter deixado contato.

O peregrino venezuelano Eduardo Barrios, de 21 anos, disse, após ver a violência no Leblon, que está acostumado com protestos mais exaltados em seu país. Mas admitiu ter se surpreendido.

— Os protestos daqui já estão sendo noticiados na Venezuela há algum tempo. Isso me surpreende porque tinha a percepção do Brasil como uma potência da América Latina e, por isso, achava que o país não tivesse grandes problemas. Acho que estava enganado — disse Barrios, ao retirar seu kit peregrino no Sambódromo.

Hospedado com uma família em São Gonçalo, ele contou ter recebido, antes da viagem, orientações de segurança, como evitar aglomerações desconhecidas e fugir em caso de confrontos.

Alojado temporariamente em um hostel em Copacabana, o sacerdote argentino Alejandro Lich chegou na quarta-feira. Acostumado a protestos em seu país, ele afirmou que, desde que não sejam violentos, os atos são legítimos. Com relação à possibilidade de manifestações durante a JMJ, ele garantiu não estar preocupado:

— A expectativa é a melhor possível.

Já Esperança Alvarez Moller, de 71 anos, moradora do Leblon, não está assim tão tranquila. Ela já recebeu uma das três peregrinas que ficarão em sua casa durante a Jornada.

— A dominicana Ester tem 24 anos e estava dormindo quando tudo aconteceu. Senti-me na obrigação de contar, e ela achou muito estranho o fato de a polícia não ter conseguido conter a manifestação — disse Esperança. — Sou avó e sei que ela é uma menina de família. Fico preocupada.

Padre: ‘Eles estão aqui em missão de paz’

A aposentada Elizabeth Santos Brandão, de 64 anos, também moradora do Leblon, vai acolher quatro peregrinos. Ela teme que algum deles se machuque durante os protestos:

— Acho que alguém poderia propor uma trégua de protesto durante a Jornada. Os peregrinos não têm nada a ver com os problemas do país.

Todos os peregrinos receberão um guia de segurança, já usado em outros eventos. As orientações incluem não falar ao celular na rua, não ostentar joias ou equipamentos, não sair com cartões de banco e evitar andar sozinho em locais desertos ou pouco iluminados. A Secretaria de Segurança do Estado do Rio não pretende produzir material adicional, apesar de as manifestações terem sido listadas, pelo Centro de Inteligência Nacional, como uma das seis fontes de ameaça à JMJ.

A maior preocupação diz respeito ao encontro do Papa com o governador Sérgio Cabral e a presidente Dilma Rousseff na próxima segunda-feira, no Palácio Guanabara, onde já houve protestos. Mas para o padre Jorjão, da Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, não há o que temer:

— Tenho certeza de que os jovens que vão às manifestações sabem que os peregrinos estão aqui em missão de paz. Acredito que o exemplo dos peregrinos por si só acaba inibindo a violência.