28/01/2013 07h34 - Atualizado em 28/01/2013 14h08

Trabalhadores da GM aprovam acordo firmado com sindicato

Votação ocorreu em assembleia na porta da montadora nesta segunda.
Setor da fábrica de São José que iria fechar será mantido até dezembro.

Carlos SantosDo G1 Vale do Paraíba e Região

Trabalhadores da GM aprovam acordo firmado com sindicato (Foto: Carlos Santos/G1)Segundo o sindicato, 90% dos metalúrgicos na assembleia aprovaram o acordo. (Foto: Carlos Santos/G1)

Trabalhadores da General Motors de São José dos Campos, no interior de São Paulo, aprovaram na manhã desta segunda-feira (28) o acordo firmado entre a montadora e o Sindicato dos Metalúrgicos.

A votação foi realizada às 7h durante assembleia na porta da montadora que contou com a participação de cerca de 5.000 operários. De acordo com o sindicato, cerca de 90% votaram a favor do firmado em negociação. Outros 2.000 irão votar no período da tarde em nova assembleia para referendar o resultado.

O objetivo do acordo, estabelecido no último sábado (26), é manter o emprego de parte dos 1,5 mil funcionários do setor de automóveis que corriam o risco de demissão após o anúncio de fechamento do setor de Montagem de Veículos Automotores (MVA). A negociação entre GM e sindicato se estendeu por quase seis meses. Mesmo assim, cerca de 650 operários ainda correm risco de desligamento.

O compromisso prevê a extensão por mais dois meses do prazo de layoff (licença remunerada) que atinge 800 trabalhadores. Inicialmente, estava previsto que o prazo terminaria neste sábado (26). Depois desse período, cerca de 650 operários que compõem o grupo de layoff podem ser desligados. Os 150 restantes têm estabilidade. A negociação estabelece ainda que para cada um que for demitido, a GM terá de pagar, como multa, o valor de três salários.

Um dos itens previstos no acordo é a retomada da produção do sedã Classic até dezembro, o que garante trabalho para parte dos funcionários na linha de automóveis por esse período e a manutenção do setor.

Como a montadora já havia planejado parar de fabricar o sedã em São José no próximo dia 26, a produção do modelo não poderá ser retomada imediatamente por falta de autopeças. Por isso, foi decidido ainda que os trabalhadores saiam de férias coletivas e retornem ao trabalho no dia 14 de fevereiro.

Trabalhadores da GM aprovam acordo firmado com sindicato (Foto: Carlos Santos/G1)Trabalhadores acompanham a assembleia sobre acordo com a montadora para evitar parte das demissões na unidade da GM em São José dos Campos. (Foto: Carlos Santos/G1)

Apesar da aprovação, os metalúrgicos que estão em layoff se sentiram prejudicados pelo acordo negociado pelo sindicato. Para muitos deles, a demissão após a extensão do layoff é inevitável.

"O que o acordo prevê é que muitos pais de família vão ficar sem emprego. Quem está em layoff está fora. Votei contra porque não foi favorável para nós", afirmou o operário Evaldo Guedes de Carvalho, de 41 anos.

Já para o metalúrgico Luiz Augusto Barbosa, de 26 anos, o acordo colocado em votação na assembleia provoca uma divisão na categoria. "Votei contra, o acordo não foi digno. O acordo coloca funcionário contra funcionário. Quem está dentro da empresa é a favor porque luta para se manter e quem está fora é contra porque luta para voltar. Encobertaram as demissões", disse.

Trabalhadores da GM aprovam acordo firmado com sindicato (Foto: Carlos Santos/G1)Metalúrgicos questionaram o acordo firmado pelo
sindicato com a GM. (Foto: Carlos Santos/G1)

Após a assembleia, um grupo de cerca de 20 trabalhadores em layoff cobrou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antonio Ferreira de Barros 'Macapá', sobre o acordo firmado. Eles questionaram os itens do acordo que, segundo eles, não impede as demissões, principal motivo da negociação.

"Existe um limite e daqui ia para o estouro. Se não chegasse a esse acordo e a gente insistisse com manifestações a manchete dos jornais seria 'Sindicato rejeita proposta da GM e 1.500 são demitidos'. A dificuldade nisso tudo foi a posição da empresa em querer fazer as demissões. Se a gente não fecha esse acordo, ia ter demissão, ia fechar o MVA e não ia ter conquista nenhuma para os trabalhadores", explicou ao G1.

Na próxima quinta-feira (31), às 10h, o Sindicato dos Metalúrgicos realiza uma assembleia com os trabalhadores em layoff para discutir a situação dos empregados. 

Como é a fábrica
O complexo de São José dos Campos possui, ao todo, cerca de 7 mil funcionários. O setor que estava para fechar era o MVA, onde o único remanescente na linha era o Classic, cuja produção seria encerrada no fim do mês. Em outros setores, a unidade produz a picape S10 e o utilitário Trailblazer. Além de São José, o Classic, um dos modelos campeões de venda da GM, é produzido em São Caetano do Sul (SP), onde fica a sede da empresa.

Investimento e salário menor
O acordo foi firmado após 9 horas de reunião no sábado (26)  contém 16 itens. Entre esses itens estão o investimento de R$ 500 milhões na unidade até 2017 e a redução para R$ 1.800 do piso salarial dos novos funcionários, ponto cobrado pela GM durante toda a negociação. Atualmente, o piso na unidade de São José é de R$ 3.100, considerado alto demais pela montadora.

Com a crise em São José, a GM estava levando lançamentos para serem fabricados em outras unidades. como foi o caso do hatch Onix, produzido em Gravataí (RS). Neste sábado, Moan também aproveitou para anunciar contratações para a planta gaúcha e para a fábrica de motores de Joinville (SC).

Entenda o caso
A GM anunciou em julho passado a intenção de fechar o MVA, dois anos depois de não chegar a um acordo com o sindicato para a atração de novos investimentos para a planta.No ano passado deixaram de ser produzidos em São José dos Campos 3 dos 4 modelos daquela linha: Meriva, Zafira e Corsa hatch, que foram 'aposentados'. Com a redução na produção, a montadora avaliou que a mão de obra do MVA, que empregava em agosto 1.840 funcionários, era excedente. Além disso, a direção considerava a planta de São José pouco competitiva por conta do elevado custo da mão de obra em comparação com a concorrência. Em um ano, mais de 1.100 trabalhadores foram desligados por meio de Programas de Demissão Voluntária (PDV), segundo o sindicato.

Veja abaixo os principais pontos do acordo:
1)Investimentode R$ 500 milhões no setor de motores e transmissões da planta de São José dos Campos entre 2013 e 2017;
2) Piso salarial reduzido para novos funcionários reduzido a R$ 1.800;
3) Negociar com a planta de São José dos Campos a produção de futuros veículos;
4) Jornada de trabalho extraordinária de até 2 horas por dia e compensação da jornada – a compensação permite que a carga horária seja reduzida, caso o mercado esteja em baixa, em um montante total de 12 dias por ano. Com o mercado em alta, será permitido compensar a jornada que foi reduzida no momento de baixa do mercado;
5) Renovação das cláusulas sociais, como a PLR deste ano;
6) Redução do nível de garantia na base de manuseio de material que terá até 900 empregados;
7) Produção do Classic até dezembro impedindo o fechamento do MVA;
8) Extensão em mais dois meses do prazo de layoff que atinge 780 funcionários e três meses de multa aos operários que forem demitidos;
9) Multa de três meses de salário para os funcionários demitidos;
10) Antecipação da aposentadoria.

Para ler mais notícias do G1 Vale do Paraíba e Região, clique em g1.globo.com/vanguarda. Siga também o G1 Vale do Paraíba no Twitter e por RSS.