Edição do dia 24/03/2013

24/03/2013 22h10 - Atualizado em 24/03/2013 22h33

Número de mortes induzidas em hospital de Curitiba pode ser maior

A equipe chefiada pelo auditor Mário Lobato está analisando mais de 1,7 mil prontuários dos últimos sete anos e também as provas do processo.

O Fantástico voltou ao caso das mortes suspeitas na  UTI de um hospital em Curitiba.

Entrevistamos, com exclusividade, o auditor do Ministério da Saúde que coordena a sindicância na unidade. Ele diz que o número de vítimas pode ser ainda maior.

A morte de Ivo Spitzner em janeiro deste ano é um dos sete casos do processo contra a médica Virgínia Helena Soares de Souza, ex-chefe da UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba.

Além dessas, o Ministério Público investiga outras 20 mortes ocorridas no tratamento intensivo da instituição. Mas para o doutor Mário Lobato, auditor do Ministério da Saúde e coordenador da sindicância aberta no hospital, o número de mortes suspeitas é muito maior, como ele conta nesta entrevista exclusiva.

“São mais de 20 casos já, e nós temos quase 300 já para fazer o fechamento”, diz Mario Lobato. 

A equipe chefiada pelo auditor está analisando mais de 1,7 mil prontuários dos últimos sete anos, e também as provas do processo. “O depoimento das pessoas que trabalhavam lá dentro confere praticamente, totalmente, com os prontuários que foram analisados”, aponta Mario.

Pacientes que precisam de respiração por aparelhos, como aconteceu com Ivo Spitzner, recebem diferentes percentuais de oxigênio, conforme a necessidade. Em casos irreversíveis, a equipe médica e a família podem decidir regular a máquina para o mínimo de 21%. Com essa concentração, a morte acaba vindo naturalmente - é o que se chama de ortotanásia, um procedimento que não é ilegal no brasil.

O prontuário de Ivo Spitzner, obtido com exclusividade pelo Fantástico, mostra que às 6h do dia em que morreu, ele recebia oxigênio a 45%. Duas horas depois, passou a receber 22%, quase o limite mínimo, sem que a família soubesse.

Na prescrição médica, às 9h39, foram administrados três medicamentos. Um deles é o Pavulon.

O Pavulon faz todos os músculos pararem, inclusive os da respiração. Quando usado corretamente, ele permite que o aparelho controle toda a respiração, sem que o corpo precise se esforçar.

Às 10h30, uma hora depois de receber as medicações, ele morreu. Para o Ministério Público e o coordenador da sindicância, foi essa combinação de procedimentos que matou Ivo e os outros pacientes da UTI.

“Todos eles o mesmo modus operandi, têm a mesma relação entre a droga e o óbito, o horário bate”, afirma o Dr. Mário Lobato.

O doutor Mário Lobato, cardiopediatra com 30 anos de carreira, revela ainda que alguns dos doentes estavam acordados e conscientes, momentos antes da morte.

“Um deles estava consciente, sob nebulização, não estava ligado ao respirador. A outra foi uma paciente que pediu um copo de água para a enfermeira”.

A médica Virgínia Soares de Souza foi solta esta semana, depois de um mês em uma prisão especial. Vai responder em liberdade como os outros sete réus. Nenhum deles quis gravar entrevista.

O advogado de Virgínia diz que ela não fez nada de errado. “Nós poderemos, em breve, provar que tudo que aconteceu naquela UTI tem justificativa na literatura médica”, afirma Elias Mattar Assad.

O presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, José Mário Meira Teles, se manifestou pela primeira vez desde o início das investigações. Ele não quis falar sobre nenhum caso específico, mas diz que decisões normais tomadas numa UTI podem ser mal interpretadas. “A não introdução de medidas que são fúteis, que são inúteis ou a retirada de procedimentos que não têm nenhum beneficio ao paciente pode ser interpretado pela promotoria, às vezes, como um procedimento que possa apressar, que possa acelerar o processo de morte”, aponta .

O Ministério Público anunciou que vai pedir amanhã à Justiça que a médica Virgínia Helena Soares de Souza volte para a cadeia. A alegação é que a prisão é necessária para a garantia da ordem pública, e para evitar pressão sobre testemunhas.

“Agora eu quero Justiça”, pede a viúva de Ivo.

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