Economia

Dólar tem dia volátil e fecha em alta de 0,09% a R$ 2,12; Bolsa descola dos EUA e sobe

Aldo Mendes, diretor de política Monetária do BC, disse que Brasil terá que conviver com real mais fraco, o que fez moeda subir

SÃO PAULO - Depois de atingir a cotação máxima de R$ 2,15 nesta terça-feira, o dólar comercial cedeu no fim do dia e encerrou quase estável, com alta de 0,09% frente ao real, sendo negociado a R$ 2,127 na compra e R$ 2,129 na venda. A sessão foi marcada por muita volatilidade. Pela manhã, a moeda americana deu sequência à desvalorização de segunda e bateu a mínima de R$ 2,113. Mas declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, em Londres, afirmando que a alta do dólar é inevitável e que o Brasil terá de conviver com uma taxa de câmbio mais fraca fez a divisa subir e atingir a máxima do dia. Mesmo Mendes reiterou que o BC voltará a intervir no mercado sempre que indentificar uma alta mais forte do dólar no mercado interno do que em relação a outras moedas no exterior. Isso fez com que a moeda perdesse força no fim do dia, segundo analistas.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o destaque foram as ações da Oi, com ganho de mais de 16% após o anúncio de que Zeinal Bava, atual presidente-executivo da Portugal Telecom, será o novo presidente da empresa. Os papéis PN da Oi subiram 16,79% a R$ 4,80 enquanto as ações ON se valorizaram 15,72% a R$ 5,30. Mesmo com a alta de hoje, as ações ON ainda se desvalorizam 37,46% no ano, enquanto os papéis PN perdem 36,81%.

O Ibovespa, principal índice do pregão brasileiro, também teve um dia volátil. Seguiu a tendência negativa dos principais índices acionários dos EUA, mas acabou fechando em alta de 0,14% aos 54.017 pontos e volume negociado de R$ 7,01 bilhões.

- É inevitável que o dólar se valorize e a moeda americana já está em um novo patamar em comparação a divisas de países emergentes. Não tenho nenhuma preocupação com o câmbio. Mas se essa dinâmica da economia americana se ligar a outros movimentos, não há nada que se possa fazer. O real está andando como as outras moedas em relação ao dólar. É normal - afirmou Aldo Mendes.

Para o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, o dólar inverteu a trajetória de queda após a fala de Mendes. Segundo ele, foi um sinal ao mercado de que mudou o patamar de flutuação do dólar.

- A declaração inverteu a tendência de baixa da moeda do início do dia. Foi mais um sinal ao mercado de que o Banco Central está disposto a tolerar uma banda de flutuação entre R$ 2,10 e R$ 2,15, mas intervirá quando identificar especulação. Com isso, quando a moeda americana se aproximou do nível de intervenção do BC, muita gente vendeu para embolsar o ganho - disse Galhardo.

Segundo o gerente de câmbio da Treviso, pela manhã, a moeda americana cedeu com o leilão de de Notas do Tesouro Nacional-Série A3 (NTN-A3), indexados ao dólar. Esses títulos estavam em poder do Banco Econômico, que decretou falência em 1994 e está em liquidação extrajudicial. No total, foram oferecidos US$ 3,8 bilhões em NTN-A3.

Para o especialista em câmbio e sócio da corretora Pionner, João Medeiros, a tendência do dólar é de alta no curto prazo. Segundo ele, a queda do fluxo de dinheiro estrangeiro para o Brasil, exportações em baixa e importações em alta são fatores que pressionam a divisa. No exterior, o movimento também é de alta do dólar.

- O dólar se valorizou frente ao dólar australiano, canadense e outras moedas, com a sinalização da volta de crescimento nos EUA e a possibilidade de que o banco central americano reduza o programa de estímulo à economia, através da compra de títulos - diz Medeiros.

O diretor de câmbio da corretora NGO, Sidnei Nehme, avalia que o BC deveria retirar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações de estrangeiros em renda fixa no Brasil. Isso atrairia mais capital externo para financiar o déficit em conta corrente.

- O quadro das contas externas tende a piorar, o que trará mais pressão altista para o dólar. É preciso se precaver - afirma Nehme.

Oi: mercado vê com bons olhos novo presidente

Na Oi, Bava, de 46 anos, substituirá José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha, que estava como presidente interino desde a saída de Francisco Valim, em janeiro. O mercado reage positivamente à indicação, já que Bava tomou decisões que fizeram a Portugal Telecom ser uma das empresas de telecomunicação mais rentáveis da Europa, diz um analista. Na segunda-feira, segundo operadores, as ações ON da Oi dispararam e fecharam com alta de 6,76% a R$ 4,58, a maior alta do Ibovespa, depois que o nome de Bava começou a circular nas mesas de operação como possível novo presidente da empresa. No pregão, de segunda os papéis PN da Oi subiram 3,53% a R$ 4,11 e tiveram volume de negócios de R$ 64,9 milhões, quase o dobro da média diária.

Nesta terça, as ações PN da empresa movimentaram R$ 193 milhões em negócios, quase cinco vezes mais do que a média dos últimos pregões. Já os papéis ON tiveram giro financeiro de R$ 38 milhões, mais do que o dobro dos R$ 17 milhões negociados diariamente, na média.

- Bava é bem conceituado pelo mercado e homem de confiança da Portugal Telecom. Por isso, o mercado reagiu positivamente à indicação, até com certo exagero. Ele terá uma tarefa muito difícil que é equacionar o endividamento alto da empresa, com manutenção de investimentos e pagamento de dividendos. Por isso, a nomeação do novo presidente é positiva, mas o mercado reagiu com certo exagero, já que os desafios são enormes - diz Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.

Para o estrategista da corretora Futura, Luís Gustavo Pereira, as ações da Oi vinham sofrendo após a saída de Valim em janeiro. Entre o dia 22 e 25 de janeiro, quando começaram os rumores sobre a destituição de Valim até sua saída, a Oi perdeu R$ 1,7 bilhão em valor de mercado. Segundo cálculos da empresa de informações financeiras Economática, no dia 25 de janeiro, a companhia valia R$ 13,6 bilhões ante R$ 15,4 bilhões no dia 22.

- Havia muitos investidores com posições vendidas em Oi e muita gente saiu comprando para cobrir essas posições após o anúncio do novo presidente - diz Pereira, da Futura.

As ações da Portugal Telecom, que detém cerca de 20% da Oi, subiram mais de 6% no pregão desta terça-feira na Europa, depois de cinco dias de queda e de uma desvalorização de 13,57% nesse período.

“A nomeação de Zeinal Bava para liderar a Oi é positiva para a Portugal Telecom como um todo”, disse Frederic Boulan, analista do Nomura ao Jornal de Negócios, de Portugal. Segundo ele, “uma melhor gestão na Oi pode também criar valor ao grupo Portugal Telecom”.

O otimismo com Bava mostra que o mercado prevê uma maior aproximação entre as duas empresas, inclusive com a possibilidade de um fusão no futuro, segundo os analistas. A Oi tem uma posição de 10% no capital da empresa portuguesa.

Juros futuros sobem com alta da produção industrial

Na BM&F, os contratos futuros de depósitos interfinanceiros (DIs) mais curtos fecharam estáveis á espera da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quinta-feira. O contrato de DI com vencimento em janeiro de 2014 teve taxa de 8,45% a mesma de segunda. Já os DIs mais longos devolveram as altas dos últimos dias. O papel com vencimento em janeiro de 2017 teve taxa de 9,68% contra os 9,75% de segunda.

No exterior, o mercado repercutiu os dados da balança comercial americana, que teve déficit de US$ 40,3 bilhões em abril, contra uma expectativa de um déficit de US$ 41,5 bilhões. Os principais índices acionários dos EUA, que abriram em alta, inverteram o sinal e acentuaram a baixa após a presidente do Fed do Kansas, Esther George, defender redução do programa de compra de bônus pelo Federal Reserve (Fed). Ela advertiu nesta terça-feira que alguns mercados mostram sinais de um indesejável vício no dinheiro barato dos bancos centrais.

Declarações da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, que disse nesta terça-feira que os EUA não estão crescendo como poderiam devido a “feridas auto-impostas” também pesaram sobre os índices americanos, que fecharam em queda. O S&P500 cedeu 0,55%; o Dow Jones perdeu 0,50% e o Nasdaq teve queda de 0,58%.

Na zona do euro, o índice de preços ao produtor registrou queda de 0,2% em abril na comparação com o mesmo período do ano passado. A expectativa era de uma alta de 0,2%. Em março, o índice apresentou alta de 0,6%.

"Esse comportamento mais favorável da inflação reforça a expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) poderá adotar novas medidas de política monetária", avalia a equipe de economistas do Bradesco.

Os principais pregões europeus fecharam em alta, com a expectativa de que o Fed mantenha os estímulos aos crescimento da economia americana. O índice Ibex, da Bolsa de Madri, subiu 0,95%; o Dax, da Bolsa de Frankfurt, avançou 0,12%; o Cac, de Paris, teve alta de 0,13% e o FTSE, da Bolsa de Londres, se valorizou 0,51%.