Economia

S&P revisa para cima perspectiva para economia dos EUA e dólar bate R$ 2,16

Moeda americana chegou a bater em R$ 2,16 na máxima desta segunda-feira

SÃO PAULO, RIO E NOVA YORK – Nem mesmo uma forte atuação do Banco Central — que interveio com US$ 2,1 bilhões — foi capaz de conter a escalada do dólar. A moeda americana fechou nesta segunda-feira em alta de 0,7%, cotada a R$ 2,148, o maior patamar desde maio de 2009. Na máxima do dia, a divisa chegou a bater os R$ 2,16. A valorização do dólar ganhou nesta segunda-feira um fôlego extra com a decisão da agência de classificação de riscos Standard & Poor’s (S&P) de elevar a perspectiva da nota soberana dos EUA, classificada como AA+, de negativa para estável. As principais justificativas para a mudança foram o aumento da arrecadação e a recuperação da economia. A medida, anunciada menos de uma semana depois de a agência adotar um viés mais pessimista em relação à economia brasileira, rebaixando sua perspectiva de estável para negativa, contribuiu para a saída de recursos do país.

Segundo analistas, a reavaliação não poderia ter vindo num momento pior pois aumenta o fluxo de dólares para o mercado americano, intensificando um movimento já verificado nas últimas semanas com a expectativa de redução da política de es

Esta é a quarta vez que o Banco Central intervém desde o dia 31 de maio, com operações equivalentes à venda de dólar no mercado futuro, para segurar a cotação da moeda americana. A última vez em que a autoridade monetária teve de recorrer a dois leilões num único dia para segurar a moeda foi em 26 de dezembro, quando ofereceu US$ 1,8 bilhão. E, segundo operadores, somente em setembro de 2011 vendeu um montante superior ao de nesta segunda-feira.

Segundo analistas, a reavaliação não poderia ter vindo num pior momento pois aumenta o fluxo de dólares para o mercado americano, intensificando um movimento visto nas últimas semanas com a expectativa de redução da política de estímulos promovida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Além disso, reduz a margem de atuação do governo brasileiro para conter a escalada do dólar num momento em que tenta manter a inflação sob controle.

Para Fabio Kanzuc, professor de economia da Universidade de São Paulo, a perspectiva negativa para a nota de risco do país, bancos e estatais coloca o Brasil entre as prioridades de saques de recursos de investidores estrangeiros. Kanzuc avalia que as intervenções do BC não serão suficientes para conter a alta da moeda, que estaria ligada a uma questão de credibilidade do país.

— Isso faz o movimento de valorização do câmbio e de queda da Bolsa ter uma magnitude maior. O estrangeiro quer tirar investimento de emergentes para aplicar nos EUA, por causa da recuperação da economia. Quando olha o portfólio de investimentos em emergentes, vê que o Brasil está pior do que os outros — diz Kanzuc.

Segundo Felipe Pellegrini, gerente da mesa de operações do banco Confidence, os investidores teriam intensificado saques de recursos do país para aplicar em títulos do tesouro americano.

— A recuperação da economia americana já vinha provocando essa busca pelos títulos públicos dos EUA. O mercado também se prepara para um período de menor liquidez global, com a possível redução do programa de recompra de títulos públicos nos EUA — explicou Pellegrini.

Cotação incomoda por pressão inflacionária

Na semana passada, após zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para aplicações de estrangeiros em renda fixa, uma das medidas do governo para atrair dólares ao país e baixar a cotação, o ministro Guido Mantega disse que o BC deixaria o dólar flutuar livremente, sem muitas intervenções do BC. Mas sempre que a moeda americana chegou ao nível de R$ 2,15 o Banco Central interveio para derrubar sua cotação. Dólar em alta pressiona os preços de matérias-primas e produtos importados, o que ajuda a alimentar a inflação.

— Ficou claro que, embora o Ministro da Fazenda diga que o câmbio vai flutuar livremente, uma cotação acima de R$ 2,15 incomoda do ponto de vista da inflação, que está no teto da meta de 6,5% nos últimos 12 meses — disse o sócio da corretora Pionner e especialista em câmbio, João Medeiros.

Já o Ibovespa, principal índice do pregão, encerrou nesta segunda-feira com baixa de 0,59% aos 51.316 pontos e volume negociado de R$ 6,2 bilhões. As ações ON da Marfrig tiveram a maior alta do pregão: 6,17%, a R$ 7,91. Os contratos de juros futuros também fecharam em alta, pressionados pela valorização do dólar e por uma expectativa de Taxa Selic mais alta este ano. O contrato para janeiro de 2015, o mais negociado, atingiu 9,36%, frente 9,23%.