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Patriota diz que explicação dos EUA sobre espionagem foi insuficiente

Agência de Segurança Nacional americana é acusada de espionar as comunicações brasileiras

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, (à esq.) ao lado do ministro da Defesa, Celso Amorim, (à dir.) durante audiência pública conjunta na semana passada
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, (à esq.) ao lado do ministro da Defesa, Celso Amorim, (à dir.) durante audiência pública conjunta na semana passada Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, considerou insuficientes os esclarecimentos enviados pelo governo dos Estados Unidos sobre as denúncias de espionagem das comunicações brasileiras. Segundo o ministro, novas explicações serão solicitadas. Dados sobre ações da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) no Brasil começaram a ser revelados pelo GLOBO no dia 7 de julho.

- Alguns esclarecimentos foram fornecidos. Consideramos insuficientes. Está reunido um grupo técnico aqui no Brasil com representantes dos ministérios da Justiça, Defesa, Itamaraty, GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Ciência e Tecnologia para elaborar uma lista de perguntas e solicitarmos esclarecimentos adicionais - afirmou o ministro.

Segundo Patriota, os países do Mercosul ainda estão se organizando para efetivar uma decisão tomada na sexta-feira passada. Na ocasião, em repúdio às ações de governos europeus que impediram o trânsito do avião presidencial boliviano, o bloco decidiu que fossem convocados para consultas os embaixadores em Espanha, França, Itália e Portugal, para que informem sobre os fatos ocorridos. Havia a suspeita de que, no avião boliviano, estivesse escondido o ex-técnico da CIA Edward Snowden, que revelou um amplo sistema de espionagem do governo dos EUA.

Patriota também comentou as declarações do presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, de recusar a reintegração ao bloco. O país está suspenso desde junho de 2012, quando o Congresso do país aprovou o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo, num processo que durou menos de 24 horas e que, segundo os demais países do bloco, transgrediu as regras do jogo democrático. O chanceler lembrou que a presidente Dilma Rousseff propôs que todos os presidentes do Mercosul estejam presentes na posse do presidente paraguaio, sugestão que foi aceita pelos demais países.

- É importante ouvir o que o novo governo tem a dizer, uma vez no pleno exercício do poder. O novo governo está falando como governo eleito, mas não ainda como governo empossado. Isso será a partir do dia 15 de agosto.

As declarações de Patriota foram dadas após encontro com o ministro das Relações Exteriores da Nigéria, Olugbenga Ashiru, em que os dois discutiram o aprofundamento dos negócios entre os dois países. Também ficou acertado que o Brasil vai apoiar a candidatura nigeriana a um assento temporário no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para o biênio 2014-2015.

Sessão com Shannon no Senado poderia ser fechada

Também em Brasília, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) visitou o embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon, nesta segunda-feira. Após a reunião, Ferraço, que preside a Comissão de Relações Exteriores, afirmou que o representante americano aguarda autorização de Washington para comparecer à Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Shannon foi convidado a falar na comissão sobre as denúncias de espionagem feitas pelo ex-técnico da CIA, Edward Snowden, e reveladas pelo GLOBO, a respeito de um esquema de espionagem do governo dos EUA que incluiu o Brasil. De acordo com Ferraço, não há previsão de quando o embaixador poderá comparecer.

- O embaixador afirmou que a presença dele no Senado só é possível se Washington permitir. Fui convidá-lo pessoalmente para convencê-lo de que precisamos fazer um diálogo em torno a essas denúncias de espionagem. Ele não está obrigado a vir, mas seria uma oportunidade para ajudar a esclarecer à sociedade brasileira fatos da maior gravidade. Ele disse que também vê isso como uma oportunidade, mas não há expectativa de quando isso ocorrerá - disse Ferraço.

O senador destacou ainda que há possibilidade de uma sessão fechada no Senado, caso o embaixador solicite esta forma de audiência com os senadores. De acordo com Ferraço, por questões estratégicas, há previsão constitucional para isso.

- Se Shannon solicitar uma sessão reservada, isso pode ser feito sem problemas, caso haja informações estratégicas que não possam ser reveladas. Há previsão constitucional para isso - completou Ferraço.

O senador disse ainda que, na conversa com Shannon, o embaixador justificou que desde 11 de setembro de 2001 os Estados Unidos intensificaram as medidas antiterroristas no país. Para Ferraço, há uma tentativa do governo americano de usar o discurso antiterrorista para respaldar a espionagem em outros países.