Economia

Lucro de empresas aéreas deve atingir US$ 12,7 bilhões em 2013

Se projeção se confirmar, será o terceiro melhor ano para o setor desde os atentados de 11 de Setembro

CIDADE DO CABO - O lucro das empresas aereas deve alcançar US$ 12,7 bilhões este ano ou 67% acima do registrado em 2012 (US$ 7,6 bilhões), segundo dados revisados divulgados nesta segunda-feira pela Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que representa cerca de 240 companhias ao redor do mundo. Se a projeção se confirmar, será o terceiro melhor ano para o setor desde os atentados de 11 de Setembro, quando a indústria da aviação mergulhou numa profunda crise.

Espera-se que o fluxo mundial de passageiros seja de 3,1 bilhões de pessoas, entre embarques e desembarques, o que fará de 2013 o primeiro ano que a marca de 3 bilhões de passageiros será ultrapassada, um crescimento de 5,3% em relação a 2012.

A última projeção para 2013, anunciada em março, era a de que as companhias aéreas teriam um ganho de US$ 10,6 bilhões. Ou seja, a previsão divulgada hoje, durante a abertura da 69ª Conferência Anual da Iata, na Cidade do Cabo, África do Sul, é 20% maior. Segundo o diretor geral da Iata, Tony Tyler, o melhor uso da capacidade dos aviões, com taxas de ocupação mais elevadas, e o aumento das receitas auxiliares, como taxas cobradas para assentos mais confortáveis e cancelamento de reservas, serão as responsáveis pelo aumento substancial no lucro das companhias aéreas. Ainda assim, ele afirmou que o desempenho financeiro do setor está longe do ideal.

— Os números são melhores, mas não satisfatórios. No ano passado, o lucro das companhias aéreas era de US$ 2,5 por passageiro, ou o preco de um café. Este ano, será de US$ 4 por passageiro, menos do que o preço de um sanduíche —comparou Tyler.

A taxa de ocupação deve bater um recorde de 80,3% em 2013. Quanto às receitas auxiliares, elas devem responder por mais de 5% do faturamento do setor este ano. Em 2007, elas representavam apenas 0,5% e, em 2012, responderam por exatos 5% ou US$ 36 bilhões. A receita total das empresas, incluindo a receita com as passagens, deve alcançar US$ 711 bilhões este ano. Em 2012 foi de US$ 680 bilhões.

Tyler reconheceu que parte dos ganhos maiores com receitas auxiliares se deve ao fato de as empresas estarem cobrando por serviços que antes eram gratuitos ou embutidos no preço dos bilhetes. No Brasil, há inúmeros exemplos dessas cobranças. A Azul, por exemplo, cobra R$ 20 pelo chamado Espaço Azul, mais confortável por estar situado nas primeiras fileiras de assentos. A Gol cobra R$ 25 na ponte aérea Rio-Sao Paulo daqueles que querem se sentar ao lado de uma poltrona vazia (por limitações de infraestrutura do aeroporto Santos Dumont, a companhia tem de voar com menos passageiros que a capacidade do avião, logo, sempre há assentos vazios).

— Teremos as duas coisas - disse Tyler quando perguntado se as receitas auxiliares vão crescer porque as aéreas vão oferecer novos produtos ou vão cobrar por serviços que não cobravam antes. — As companhias criaram novas maneiras de adicionar valor à experiência dos passageiros e as pessoas estão pagando por aquilo que elas dão valor.

O cenário econômico também vai contribuir para a melhora no desempenho das empresas aéreas. O preço do barril do petróleo deve ficar em US$ 108 em 2013, abaixo da média de 2012, de US$ 111,8 o barril. E a previsão para o crescimento da economia global para 2013 sofreu leve melhora de 2,1% em marco para 2,1% agora.

Perguntado se o cenário mundial mais otimista faria as duas grandes companhias brasileiras, TAM e Gol, melhorarem seu resultados, Tyler respondeu que o setor tem peculiaridades no Brasil. Ele apontou o alto preço do combustível e as tarifas aeroportuárias como razões para os prejuízos bilionários que as duas empresas registraram em 2012. Tanto TAM como Gol tiveram perdas de mais de R$ 1 bilhão no ano passado.

O lucro das aéreas latino-americanas para este ano é estimado em R$ 600 milhões, com crescimento de 9,8% da demanda de passageiros. Foi a única entre as grandes regiões que não sofreu alterações de projeção de crescimento entre o anúncio feito em março e o anúncio feito hoje. As empresas da região da Ásia/Pacífico devem ter um ganho de US$ 4,6 bilhões (ante US$ 4,2 bilhões na projecao anterior); as da América do Norte devem registrar ganhos de US$ 4,4 bilhões (ante US$ 3,6 bilhões previstos); as da Europa devem alcançar lucro de US$ 1,6 bilhão (o dobro dos US$ 800 milhões previstos); as do Oriente Médio, US$ 1,5 bilhão (ante US$ 1,4 bilhão) e as da África, apenas US$ 100 milhões.

Apesar do mercado fraco, a África foi apontada por executivos do setor como a nova aposta da aviação para os próximos 20 anos. Não à toa, a 69ª Conferência Internacional da Iata está sendo realizada na África do Sul. É a terceira vez que o continente sedia o evento em 69 anos.

O diretor geral da Iata disse, porém, que há grandes desafios para que a África torne o potencial de crescimento em algo concreto. O principal deles é a segurança. No ano passado, houve 75 acidentes aéreos com 414 mortes envolvendo companhias associadas da Iata. O índice de acidentes das aéreas africanas ficou 18 vezes acima da média mundial.

As aéreas africanas têm até 2015 para se adequarem às normas de segurança da Iata. O compromisso foi assumido em maio de 2012.

* A repórter viajou a convite da Iata.