Economia

Petrobras planeja sair do Peru e coloca ativos no país à venda

Empresa quer focar no desenvolvimento da produção no Brasil, especialmente no pré-sal

LIMA - A Petrobras planeja deixar seus negócios no Peru, disseram à Reuters seis fontes de alto nível de dentro e fora da companhia. A decisão acontece num momento em que a estatal brasileira quer se livrar de ativos no exterior para focar no desenvolvimento da produção no Brasil, especialmente no pré-sal. As fontes não disseram em quanto os ativos peruanos à venda (que basicamente consistem em dois blocos de gás natural) poderiam estar avaliados.

Globalmente, a empresa tem um plano de desinvestimento de 9,9 bilhões de dólares. A Petrobras opera ao sul do Peru em um bloco chamado lote 58, e tem participação de 46% no lote 57, onde atua com a espanhola Repsol. A estatal já mostrou ativos para potenciais compradores, de acordo com três das fontes.

Uma decisão final para sair do Peru ainda não foi tomada e pode demorar alguns meses, de acordo com outras duas fontes -- uma de dentro da unidade peruana da empresa e outra da indústria de petróleo local. A empresa não quis comentar o assunto.

— A Petrobras não discute os seus planos de venda de ativos específicos e, no caso de uma venda, só tornaria público o negócio quando ele estivesse completo — disse um assessor de imprensa da empresa no Brasil.

A sexta fonte, do governo do Peru, disse que qualquer decisão não teria relação com a situação regulatória do país e, ao contrário, estaria relacionada à situação financeira da empresa. Duas das fontes, executivos da indústria de petróleo do Peru, disseram que seria uma retirada total.

— A Petrobras está deixando o país totalmente — afirmou uma delas, na condição de anonimato.

Outra fonte disse que a Petrobras estava vendendo seus ativos valiosos ao lado dos campos de gás natural de Camisea. Segundo ela, a Petrobras quer vender sua participação de 46 por cento no lote 57, que compartilha com a Repsol, e seu lote 58.

— Mas as coisas para o lote 58 estão atrasadas porque precisa primeiro terminar a perfuração para encontrar mais reservas provadas, o que traria mais valor — afirmou.

Cada lote de gás no Peru tem reservas comprovadas com 2 trilhões de pés cúbicos (TCF, na sigla em inglês). Mas, no ano passado, Pedro Grijalba, que na época era o presidente da Petrobras Peru, disse que os lotes 57 e 58 poderiam ter de 8 a 10 TCFs. Um outro ativo da empresa no Peru, um bloco de exploração de petróleo, é relativamente pequeno e não iria gerar muito dinheiro, disseram as fontes.

De acordo com reportagens anteriores da Reuters, a Petrobras está tentando vender campos de petróleo, direitos de exploração, refinarias e outros ativos na Argentina, África, Japão e Estados Unidos, em um esforço para levantar dinheiro para ajudar a financiar um plano de investimento de 237 bilhões de dólares em cinco anos --o maior programa de gastos corporativos do mundo. O plano visa aumentar a produção da Petrobras para mais de 5 milhões de barris por dia até 2020, tornando-a uma das maiores produtoras do mundo.

Outras empresas

Se deixar o Peru, a Petrobras se tornaria a terceira companhia petrolífera estrangeira a sair do país andino ao longo do último ano. A ConocoPhillips afastou-se de dois blocos de exploração no Peru, em outubro do ano passado, como parte do plano estratégico da companhia de petróleo dos EUA de reduzir ativos não essenciais no exterior. Um mês antes, a canadense Talisman Energy Inc desistiu de produzir óleo no país após oito anos.

A retirada da Petrobras poderia prejudicar os esforços do presidente Ollanta Humala de fazer do Peru autossuficiente em energia. Mas algumas empresas também compraram ativos peruanos no setor recentemente. A Royal Dutch Shell adquiriu em fevereiro um pacote de activos de gás natural liquefeito da espanhola Repsol por 6,7 bilhões de dólares. O negócio incluiu operações no Peru, Trinidad e Tobago, e a baía de Biscay.