A Votorantim Cimentos suspendeu, até 11 de setembro, sua oferta pública de ações. Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa disse que interrompeu a análise com base no artigo 10, da instrução 400, da autarquia.
A maior fabricante nacional de cimentos não detalhou as razões da suspensão da oferta pública de ações, que previa levantar no mercado pelo menos R$ 7 bilhões. O motivo, no entanto, deve-se às condições desfavoráveis do mercado neste momento, inibindo o apetite dos investidores em papéis de empresas brasileiras.
Caso suspenda a oferta em definitivo, a companhia terá de buscar outras alternativas para financiar seu plano de crescimento. Somente no Brasil, entre 2013 e 2015, a Votorantim Cimentos planeja investir R$ 3,5 bilhões em expansão e mais R$ 1,4 bilhão a título de outras despesas de capital, segundo prospecto da operação protocolado na SEC, órgão regulador do mercado de capitais americano.
Como resultado desse investimento, a capacidade de produção de cimento no país deverá chegar a 40,4 milhões de toneladas anuais até dezembro de 2015, ante 30,1 milhões de toneladas anuais em 31 de março.
Conforme a Votorantim, 45% dos recursos líquidos da oferta seriam utilizados para dar continuidade à estratégia de expansão orgânica e diversificação de portfólio no Brasil, e potenciais aquisições de empresas de materiais b ásicos de construção ou ativos fora do país. Outros 40% seriam destinados a reforço de capital de giro e 15%, a "investimentos estratégicos para posterior melhoramento da eficiência" das operações.
Em 2012, a Votorantim Cimentos obteve receita consolidada de R$ 9,48 bilhões, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de R$ 3,07 bilhões e lucro líquido de R$ 1,64 bilhão.
IPO seria termômetro da indústria
A oferta pública de ações da Votorantim Cimentos seria um teste do sentimento do investidor estrangeiro em relação ao país. É o que destaca reportagem publicada no site do jornal britânico “Financial Times”. A publicação lembrou que a proximidade da Copa do Mundo, que ocasionou a construção ou renovação de 11 estádios em todo o país, além de empreendimentos para as Olimpíadas de 2016 e outros projetos de infraestrutura que valem bilhões de dólares, lançou luz sobre “um dos setores menos glamourosos do país”: a produção de cimento.
Segundo o “FT”, o setor estaria sobre escrutínio mundial já que o IPO da Votorantim Cimentos, maior produtora do material no país com participação de 37% no mercado nacional, seria p segundo maior do mundo este ano, segundo a consultoria Dealogic.
A operação seria um “teste num momento em que os investidores estão fugindo de mercados emergentes e têm sérias dúvidas sobre o histórico de crescimento brasileiro”, previu o “FT”. A publicação lembrou que um boom imobiliário ajudou a fazer do Brasil o quarto maior comprador mundial de cimento, atrás de China, Índia e os EUA. E o consumo de cimento por pessoa aumentou 81%, de 2003 para 2012, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
A taxa de crescimento do Brasil, porém, preocupa — no trimestre, a economia do país avançou apenas 0,6%, um freio imposto por problemas estruturais como os altos impostos e os altos custos trabalhistas, que têm impacto direto na indústria.