24/10/2014 06h00 - Atualizado em 24/10/2014 06h42

Alunos brasileiros criam miniaturas de F1 para competição internacional

País participa pela 1ª vez do projeto 'Fórmula 1 nas Escolas'.
Estudantes desenvolvem os carrinhos e levantam fundos para competição.

Cauê FabianoDo G1, em São Paulo

Com o clique de um botão, um carrinho de Fórmula 1 feito de madeira desaparece em meio a uma pequena explosão de um cilindro de gás carbônico comprimido, deixando para trás uma escuderia com olhos atentos e percorrendo uma pista 25 metros de comprimento em menos de dois segundos. Em vez de engenheiros e mecânicos encapuzados, estudantes do ensino médio acompanham e verificam os resultados da arrancada, obtidos a partir do protótipo que eles mesmos desenvolveram.

Cristobal Sciutto, Gabriel Saruhasho, Pedro Oliveira e Thomas Giordano, com idades entre 15 e 17 anos, representam metade da escuderia “Força Canindé”, uma das três equipes do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, que tentarão uma vaga na etapa mundial do Fórmula 1 nas Escolas.

Esta será a primeira vez em 12 edições que o evento oficial da Fórmula 1 contará com a participação de estudantes brasileiros. A etapa nacional, que tem ainda uma equipe do colégio FourC, de Bauru (SP), será neste sábado (25), na Faculdade Impacta (Av. Rudge, 315, Bom Retiro, São Paulo), em um evento aberto ao público que ocorre das 9h às 17h.

O G1 acompanhou um dia de treinamento da equipe, realizada em uma faculdade na região do Bom Retiro, em São Paulo, utilizando a única pista no país voltada para a competição, onde os carrinhos superam 60 km/h em linha reta.

A competição, criada no Reino Unido e presente em 40 países, tem como objetivo aproximar os alunos de forma interativa, prática e divertida a temas como engenharia, aerodinâmica, desenvolvimento de protótipos, e criação e organização de orçamentos. São os próprios alunos que buscam patrocinadores para bancar o projeto por meio de crowdfunding, espécie de financiamento coletivo.

Etapa nacional irá eleger campeão que irá para os Emirados Árabes Unidos representar o Brasil na competição  (Foto: Cauê Fabiano/G1)Etapa nacional irá eleger campeão que irá para os
Emirados Árabes Unidos representar o Brasil na
competição (Foto: Cauê Fabiano/G1)

O time vencedor seguirá para Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos para a etapa mundial, onde os campeões vão ganhar bolsas de estudos de graduação e pós-graduação na Universidade de Londres, na Inglaterra.

Além da consagração do campeão mundial, há outras 21 premiações no evento, que incluem melhor engenharia de carro, apresentação verbal, pesquisa e desenvolvimento, patrocínio e marketing, entre outros.

De 0 a 100
"Ninguém do grupo tinha conhecimento de software para construir um carrinho do zero. Os organizadores disponibilizaram instruções, manuais, mostrando como montar esse carrinho. Não temos conhecimento de graduação, tudo foi na base de Google, de pesquisa", contou Thomas Giordano, de 15 anos, intitulado diretor de marketing da escuderia.

Com uma oratória afiada, o jovem, que pretende prestar engenharia aeronáutica, assumiu a parte de gerenciamento de marketing da Força Canindé, que cuida do relacionamento da escuderia com patrocinadores.

O nome do time, ao contrário do pensamento dos maníacos por futebol, não tem nenhuma relação com o estádio da Portuguesa, mas sim com o pássaro sul-americano. "Abrimos um dicionário de tupi-guarani e vimos 'canindé'. [O nome] foi por conta da arara que tem as cores do Brasil", explicou Thomas.

Carrinho criadio pela escuderia 'Força Canindé', uma das 4 equipes brasileiras no Fórmula 1 nas escolas (Foto: Divulgação/Força Canindé)Carrinho criadio pela escuderia 'Força Canindé',
uma das 4 equipes brasileiras no Fórmula 1 nas
escolas (Foto: Divulgação/Força Canindé)

Todo o trabalho é feito pelos alunos: design, fabricação do carrinho de madeira (que tem rodas feitas com impressora 3D), plano de marketing, busca por patrocinadores e até os uniformes da equipe. Cada equipe recebe dos organizadores o software de desenho auxiliado por computador (CAD, em inglês), oferecido em parceria com a empresa Autodesk.

"Procuramos em diversas áreas quem poderia ajudar a gente. O tanto de telefonemas que fizemos e não foram correspondidos dá para fazer uma lista enorme", lembrou Thomas, enquanto acompanhava os resultados dos testes do terceiro protótipo de carrinho feito pelo grupo, o Kaper #03.

Competição saudável
"O foco é empreendedorismo, colocar os alunos em situações autênticas", destacou Cristiana Assumpção, coordenadora de tecnologia educacional do Colégio Bandeirantes e uma das responsáveis por guiar os alunos do projeto. Já o engenheiro e professor de química, Franco Ramunno, de 25 anos, orientou os estudantes na parte teórica de desenvolvimento dos carrinhos.

"A gente acredita muito na formação completa do aluno, e nada como a imersão na situação, com prazos, cobranças, pessoas de fora avaliando", disse a coordenadora. "Eles aprenderam resiliência, persistência - ‘como resolvo esse problema?’ Aí vem um, dá uma ideia, vem outro. Isso não tem preço, essa vivência só tem quando a gente vai começar a trabalhar."

Cristiana comentou também que o clima entre as três equipes da instituição era de uma disputa bastante acirrada, com as escuderias não mostrando os projetos finais dos carrinhos nem mesmo para seus tutores, mas que existe bastante cooperação entre os times, inclusive com equipes de outros países. "Tem a competição, mas tem também a colaboração. É uma competição saudável", assegurou, contando que os estudantes tiveram contato com equipes de Portugal e da Grécia que participaram da competição, para pegar dicas sobre o desenvolvimento dos carrinhos.

Em pé, Manoel Belém, os professores Franco Ramunno e Cristiana Assumpção, Waldemar Battaglia, e os alunos membros da Força Canindé: Thomas Giordano, Gabriel Saruhashi, Pedro Oliveira e Cristobal Sciutto  (Foto: Cauê Fabiano/G1)Em pé, Manoel Belem, os professores Franco Ramunno e Cristiana Assumpção, e Waldemar Battaglia. Agachados, metade da escuderia Força Canindé: Thomas Giordano, Gabriel Saruhashi, Pedro Oliveira e Cristobal Sciutto (Foto: Cauê Fabiano/G1)

Expansão do projeto
O empresário Manoel Belem, ao lado do sócio Waldemar Battaglia, são franqueados do F1 nas Escolas no Brasil, e responsáveis pela entrada do país na competição internacional. Belem afirma que, nesta edição, o projeto funcionou como um piloto, e sublinhou a importância da aproximação dos jovens e seus professores com esse tipo de competição.

"Não é uma aula, não é um curso, é uma atividade extracurricular", definiu Manoel. “Alimentar um cérebro é uma coisa que muitas crianças precisam. Você está ensinando muita coisa e aprendendo muita coisa.” Segundo ele, um dos maiores interesses dos organizadores internacionais é exatamente prospectar talentos para a própria Fórmula 1. Para o ano que vem, o programa pretende incluir equipes de escolas públicas.

Protótipo utilizado nos testes da escuderia 'Força Canindé' foi desenvolvido pelos próprios alunos (Foto: Cauê Fabiano/G1)Protótipo utilizado nos testes da escuderia 'Força Canindé' foi desenvolvido pelos próprios alunos (Foto: Cauê Fabiano/G1)
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