Edição do dia 11/05/2013

11/05/2013 21h48 - Atualizado em 11/05/2013 21h48

Cisternas garantem colheita o ano todo em região de caatinga

Mesa das famílias está sempre farta e o excedente é levado para uma feira de produtos orgânicos.

Pequenos agricultores do interior de Pernambuco têm conseguido produzir alimentos se utilizando de métodos simples – mesmo em meio a uma das maiores secas da história.

No caminho em busca da água, aridez no lugar do pasto, terra ferida. Este cenário já foi visto décadas atrás. Mas por que depois de tanta experiência com a estiagem, de novas tecnologias que surgem, isso ainda se repete?

Um estudo do Centro Técnico Aeroespacial de São Paulo, feito há 35 anos, analisou dados de um século de chuva no Nordeste.

“Se chegou à conclusão de que existem intervalos de 26 anos de seca no Nordeste, e intervalos de 13 anos de secas menores”, revela o pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco.

Esta é uma das maiores, e as perspectivas não são boas para os sertanejos.

“A partir de agora são oito meses sem expectativa de precipitação. Então, a situação do sertão já está definida”, diz Marcelo Asfora, diretor-presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima.

Mas nem todos sofrem tanto. Um contraste: ao redor tudo é seca, é caatinga, mas no meio há uma horta, uma comunidade que, na região mais sofrida do sertão, produz alimentos o ano inteiro. A plantação não conhece tempo ruim.

“Temos um acompanhamento, uma especialização que nos ensina a trabalhar com pouco desperdício e mais qualidade nos produtos”, conta o agricultor Alessandro Vitorino da Silva.

A água vem de um poço. A orientação, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

“Se os agricultores têm uma demanda de água, eles conseguem produzir várias coisas durante o ano inteiro”, diz uma técnica.

A colheita é abundante. A mesa das famílias, sempre farta. O excedente, eles levam para a feira de produtos orgânicos.

“Nós temos melhores condições da compra também no mercado”, a agricultora Maria Alexandrina da Silva.

O agricultor João Lourenço Dunga também tem sobra na produção. Distribui com os vizinhos. Começou a plantar depois que construiu duas cisternas de alvenaria. Uma capta água de chuva do telhado e tem capacidade para 16 mil litros. A tecnologia foi desenvolvida pela ASA, que criou também outra, de 52 mil litros. Sobre o que chama de calçadão corre a água da chuva que será estocada para as plantas e os animais.

“Antes aqui só era caatinga e pedra. Agora tem fartura”, comemora o agricultor.

Já são mais de 460 mil cisternas, construídas em parceria com o governo federal e os estaduais. A meta é chegar a um milhão. No semiárido, é preciso planejar e estocar.

“Essa tecnologia tem o objetivo de contribuir com as famílias para conviver. Para esquecer o velho conceito de que se combate a seca, se combate as características do semiárido. Isso não é verdade, se convive”, ressalta João Laércio Ferreira, presidente do Centro Educação Comunitária.