07/04/2013 11h58 - Atualizado em 07/04/2013 12h10

Bioenergia produzida com bagaço da cana abastece região Norte de AL

Energia elétrica da biomassa é rentável por questões finaceiras e ambiental.
Indústria sucroenergética vende força sobressalente para a Eletrobras.

Waldson CostaDo G1 AL

arte (Foto: arte)

Em busca de uma maior eficiência produtiva, faturamento, melhor realinhamento no mercado e diante das atuais exigências sociais e ambientais, empresas apostam em tecnologia de ponta para se adequar aos novos tempos.

Este é o caso de duas agroindústrias alagoanas que vêm investindo na exploração de fontes renováveis para geração de bionergia. Uma aposta na produção inovadora de etanol de segunda geração através do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. A outra, na geração de energia elétrica, que também faz uso da biomassa.

Confira na série Energia Verde as reportagens Empresa de biotecnologia vai gerar etanol com palha da cana em Alagoas e Bioenergia produzida com bagaço da cana abastece região Norte de AL e veja como algumas das empresas que atuam no principal setor econômico de Alagoas vêm inovando o mercado. Leia também a reportagem Lei estadual sobre fim da queima de cana é aprovada com veto em AL, que fala sobre a legislação que estabelece critérios para redução da queima controlada na colheita da cana-de-açúcar, procedimento praticado pelas indústrias alagoanas.

Painel de controle  (Foto: Waldson Costa/G1)Painel de controle monitora a transferência de biomassa em energia elétrica  (Foto: Waldson Costa/G1)

O que na década passada era considerado descarte e um problema ambiental para a Usina Santo Antônio – a sobra do bagaço da cana de açúcar –, tornou-se lucro com a geração da bioeletricidade. Energia elétrica limpa, sustentável e renovável que alimenta e reforça, no período de alta demanda e baixa oferta de transmissão, o parque industrial da usina, que fica localizada no município de São Luís do Quitunde, em Alagoas, e a rede de transmissão que distribui eletricidade para as cidades do litoral norte.

A indústria é qualificada agora como sucroenergética e não mais como sucroalcooleira, devido à capacidade de cogeração da tríplice produção: açúcar, álcool e energia elétrica. O grupo da usina Santo Antônio investiu, em 2001 – pico da crise energética do país, o chamado “Apagão” –, cerca de R$ 15 milhões para se transformar em usina sucroenergética e, assim, poder cogerar biomassa da cana-de-açúcar, energia elétrica limpa e renovável, suficiente para manter a indústria em funcionamento e ainda vender a força sobressalente para a Eletrobras Distribuição Alagoas.

“Com o “Apagão”, em 2006, o preço da eletricidade subiu e o governo federal incentivou a busca de fontes alternativas. Assim, foram estabelecidas políticas de crédito e garantia da compra da força por um contrato de 20 anos que vai gerar R$ 400 milhões para empresa. Algo totalmente agregador e rentável”, conta o superintendente da sucroenergética, Cláudio Soares Cavalcante.

Gerador de energia  (Foto: Waldson Costa/G1)Gerador é o responsável pela transformação da energia térmica em elétrica (Foto: Waldson Costa/G1)

Atualmente, com a biomassa da cana-de-açúcar, produto que era descartado no campo, a indústria consegue gerar durante seis meses, período da safra, 25 megawatts, dos quais 12 são consumidos dentro da indústria para movimentar os maquinários e 13 são vendidos para Eletrobras.

“A energia sobressalente repassada para o sistema da Eletrobras é suficiente para abastecer com tranquilidade uma cidade com até 100 mil habitantes. E essa energia abastece diretamente duas cidades, São Luís do Quitunde e Matriz do Camaragibe nos períodos mais críticos do ano, no verão, quando a geração de energia por água diminui. Todo ano a Eletrobras liga para saber se vamos conseguir fornecer energia elétrica pelos seis meses”, completa Cláudio Cavalcante, ao estimar que a venda da energia da biomassa corresponde a 5% do lucro da indústria.

Biomassa de cana-de- açúcar forma uma montanha no parque indústrial da usina (Foto: Waldson Costa/G1)Biomassa forma uma montanha no parque
indústrial da usina (Foto: Waldson Costa/G1)

Retorno financeiro
A rentabilidade é comprovada, na prática, diante da conjuntura mundial que preza pela economia aliada ao desenvolvimento sustentável. A exemplo da usina Santo Antônio, até 2001, o bagaço da cana era tratado como rejeito. Durante esse período, para não ficar com um grande volume de bagaço espalhado pelo parque industrial, a usina vendia parte das toneladas da matéria prima para empresas que fazem papel, aglutinados para fornalhas e produtores de gado. O restante era espalhado pelo campo.

À época, o valor pela tonelada não ultrapassava os R$ 15. Hoje, com a mesma tonelada de biomassa, a empresa consegue produzir cerca de 60 kw/h e tem uma média de R$ 50 de lucro com a venda da energia limpa. Um aumento de quase 300% pelo mesmo volume do resíduo.

Ao explicar a transformação da biomassa em energia elétrica, o engenheiro elétrico da empresa, Josinaldo Cavalcante, expõe que o terceiro produto da sucroenergética é relativamente tão rentável quanto o açúcar e o álcool.

“É um processo rentável porque a cogeração também melhorou o desempenho produtivo da usina. Até porque a empresa passou de consumidora para geradora de energia, em um processo que a deixou autossuficiente diante da redução de custos e do aumento da arrecadação. E o melhor é que tudo foi feito de forma limpa, com baixo impacto ambiental”, expôs Josinaldo Cavalcante.