Economia

Alta do dólar fará exportações crescerem US$ 7 bi no próximo ano, diz AEB

Apesar da batalha contra o câmbio para conter inflação, comércio exterior se beneficia com cotação elevada

A carioca Jeanne Faria exporta joia e prevê aumento da lucratividade com alta do dólar frente ao real
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A carioca Jeanne Faria exporta joia e prevê aumento da lucratividade com alta do dólar frente ao real Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

BRASÍLIA Enquanto a área econômica do governo enfrenta uma batalha atrás da outra para evitar que o dólar continue subindo para segurar a inflação, muitos segmentos do setor exportador festejam a valorização da moeda americana. Uma estimativa mostra que, em média, o preço do produto brasileiro no exterior, nos últimos três meses, está 10% mais competitivo. Cálculos da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam que o impacto maior da desvalorização do real se dará nas vendas de produtos manufaturados, e a perspectiva de alta no valor da receita exportada na balança comercial brasileira, no próximo ano, é de, no mínimo, US$ 7 bilhões. Isso reflete também o aumento do volume de produtos embarcados para o exterior.

Entre os setores beneficiados pela valorização do dólar frente ao real — a moeda americana este ano já acumula alta de 16,74% — estão fabricantes de produtos industrializados, como veículos, químicos, máquinas, calçados, têxteis, cosméticos, joias e móveis. Também são beneficiados segmentos do agronegócio, como suco de laranja e açúcar refinado. Com a alta do dólar, ficaram menos suscetíveis à concorrência dos importados no mercado doméstico, como os produtos asiáticos, e mais fortes para competir no exterior com outros parceiros internacionais.

— Ainda temos um mercado internacional retraído e há outras moedas, além do real, desvalorizando-se. Não sabemos, também, se o dólar ficará em R$ 2,30 ou R$ 2,40. Mas de uma coisa temos certeza: a situação está bem melhor para as exportações de manufaturados. Já começamos a ver luz no fim do túnel — disse o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

De janeiro a julho, a balança comercial brasileira registra déficit de US$ 4,9 bilhões, com exportações de US$ 135,2 bilhões e importações de US$ 140,2 bilhões.

Calçadistas refazem contas

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a partir do cenário atual já é possível projetar um incremento leve nas exportações do setor este ano. Ele observou que, nos sete primeiros meses do ano, o valor das exportações foi praticamente o mesmo do ano passado, que já havia sido o pior em 25 anos (US$ 1,09 bilhões). Por outro lado, em pares de calçados, a exportação cresceu quase 11% neste período.

— O motivo é, justamente, o dólar valorizado, que fez com que o exportador brasileiro conseguisse um preço mais competitivo no mercado externo — explicou.

No mercado interno, contudo, Klein comentou que as vendas de calçados vêm caindo, devido ao forte endividamento das famílias. O mesmo pensa Ricardo Wirth, calçadista do Vale dos Sinos (RS) que ressaltou que as empresas da região tentam voltar sua produção ao mercado externo.

— O dólar desvalorizado foi o fator que mais nos prejudicou nos últimos anos. A curto prazo, a situação continuará difícil, mas acreditamos em melhora.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Têxteis (Abit), Fernando Pimentel, reforçou a premissa de que as coisas vão, finalmente, melhorar para o setor. Ele lembrou que é preciso esperar para ver o que deve acontecer com a economia americana.

— A alta do dólar é favorável ao setor, mas não dá para prever ou fazer estimativas de curto prazo — diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Moveleira (Abimóvel), Daniel Lutz.

Pequena empresa confiante

As boas perspectivas quanto ao futuro também animam micro e pequenos empresários, de acordo com o presidente do Sebrae, Luiz Barretto. Ele enfatizou que, neste primeiro momento, o impacto está ocorrendo, principalmente, na receita dos exportadores, que recebem mais em real pelos produtos.

— Para as empresas que exportam, a alta do dólar já está contribuindo para tornar seus produtos mais competitivos — afirmou Barretto.

Para Simone Valladares, fabricante de cosméticos naturais de Nova Friburgo, as negociações dos exportadores estão “mais interessantes”. Ela exporta hidratantes, óleos de banho e fortalecedores de unha, que têm em sua composição alecrim, lavanda e produtos da Amazônia, como cupuaçu e castanha, para Japão, França e Austrália.

— Agora estamos de olho no mercado americano. Com a alta do dólar, as negociações estão mais interessantes, pois temos retorno quase que imediato. Nossos produtos ficam mais baratos em dólar e recebemos mais em reais — disse.

Eneida França começou a exportar regularmente peças com pedras naturais para países como França, Áustria, Grécia, Japão e EUA. No ateliê da Barra, a designer desenvolve peças que incluem turmalina, ametista e acabamento com banho de ouro.

— A variação do dólar tem efeito nas duas pontas para a empresa. A compra de algumas pedras em outros países e a lapidação também feita lá fora ficam mais caros, mas em compensação o preço fica menor para o importador. Acabo ganhando mais do que perco. A alta no meu caso é positiva — disse Eneida.

Após 7 anos, mais exportadoras

Dona de outra empresa no Rio, Jeanne Faria trabalha com joias feitas à mão, o que valoriza seus produtos lá fora. Ela começou a exportar em 2006 para Equador, EUA, Panamá, Venezuela, Argentina e França.

— Em outubro, vou participar de uma feira nos EUA e, se a situação se mantiver como está, vamos obter mais lucratividade. Mas é preciso cautela, porque os insumos importados também sofrem alteração. O ouro já subiu, a prata ainda não — observou.

A área de comércio exterior do governo também comemora a alta do dólar e isso ficou claro na recente declaração do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Em um dia em que a moeda americana bateu R$ 2,45, Pimentel disse considerar “ótima” a cotação do dólar.

Segundo os técnicos da pasta, pela primeira vez, em sete anos, a diferença entre o total de empresas exportadoras que abriram as portas e as que encerraram as atividades foi positiva. De janeiro a julho, surgiram 19 empresas. O volume pode ser pequeno, mas sugere melhora daqui para a frente, avaliou uma fonte.