10/12/2014 11h03 - Atualizado em 10/12/2014 19h52

Maria do Rosário desabafa e diz que vai processar Bolsonaro após ofensas

Na terça, deputado disse que só não a estupraria porque ela 'não merece'.
Deputada se emocionou durante entrevista nesta quarta à Rádio Gaúcha.

Do G1 RS

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário (Foto: Antonio Cruz/ABr)Maria do Rosário (PT-RS) diz que vai processar o
deputado Jair Bolsonaro (Foto: Antonio Cruz/ABr)

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) fez um desabafo na manhã desta quarta-feira (10) após as declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que afirmou em discurso no plenário da Câmara na terça (9) que só não a estupraria porque ela "não merece". Maria do Rosário disse que foi agredida como mulher, parlamentar e mãe e prometeu que vai processá-lo.

“Fui agredida como mulher, como parlamentar, como mãe. Chego em casa e tenho que explicar isso para a minha filha”, afirmou Maria do Rosário em entrevista à Rádio Gaúcha. “Vou processá-lo criminalmente”, acrescentou a petista, ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos.

A deputada se emocionou durante o relato e não teve condições de encerrar a entrevista. “Não quero meu nome na voz de alguém que tem uma atitude como esta. Vocês me desculpem, fiquei bastante emocionada. Vou seguir meu trabalho. Não tenho mais condições de seguir a entrevista. Sugiro que as mulheres que tenham força e dignidade para seguir esta luta”, finalizou.

Entenda
A polêmica envolvendo o deputado Jair Bolsonaro começou na terça-feira, quando ele reagiu a um discurso da deputada Maria do Rosário contra a ditadura militar, que chamou o período de “vergonha absoluta”. Bolsonaro repetiu ofensa dirigida à mesma deputada em 2003, quando os dois discutiram em um corredor da Câmara.

Os deputados Jair Bolsonaro e Maria do Rosário (Foto: Gabriela Korossy e Luis Macedo / Câmara dos Deputados)Jair Bolsonaro dirigiu ofensas à Maria do Rosário
na tribuna da Câmara nesta terça-feira (Foto:
Gabriela Korossy e Luis Macedo / Câmara dos
Deputados)

Bolsonaro, que é militar da reserva, foi à tribuna em seguida. No momento da fala do deputado, Maria do Rosário deixou o plenário. "Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir", disse.

Ao discursar, Maria do Rosário tinha afirmado que “homens e mulheres (...) se colocaram de joelhos diante dela [da ditadura] para servirem ao interesse da tortura, da morte, ao interesse de fazer o desaparecimento forçado, o sequestro”.

A ex-ministra criticou também as manifestações de rua que pedem a volta dos militares. Segundo ela, os manifestantes “deveriam ter consciência do escárnio que promovem indo às ruas pedir a ditadura, pedir o autoritarismo e o impeachment. Ora, figuras de linguagem desvalidas porque colocadas no pior lixo da história”.

Jair Bolsonaro disse que, para ele, a data é o “Dia Internacional da Vagabundagem”. “Os direitos humanos no Brasil só defendem bandidos, estupradores, marginais, sequestradores e até corruptos”, declarou. E acrescentou ataques à presidente Dilma Rousseff.

Duas pastas federais divulgam nota
As secretarias de Políticas para as Mulheres e de Direitos Humanos da Presidência divulgaram nesta quarta-feira (10) uma nota conjunta de repúdio às declarações de Bolsonaro. A nota manifesta solidariedade à parlamentar e destaca que o estupro é considerado crime hediondo desde 1990 no país.

"É inaceitável que um deputado utilize seu posto para verberar um discurso de ódio e incitação ao crime – um crime que atinge, humilha e reduz as mulheres", diz o texto, que destaca que "ofender as mulheres, inclusive a partir da tribuna parlamentar, tem sido uma prática reiterada do deputado".

"O país inteiro e o governo vêm se posicionando crescentemente contra este crime, seja por meio de expressões de repúdio, seja por meio da criação e implementação de políticas públicas de enfrentamento à violência praticada contra as meninas, as jovens e as mulheres", diz o texto.

A nota também critica declarações do deputado contrárias ao Dia Internacional dos Direitos Humanos. "Este país não aceita qualquer desrespeito aos direitos humanos no seu passado, no seu presente ou no seu futuro. Assim, receba, deputada e ex-ministra Maria do Rosário, todo o apoio e solidariedade deste governo do qual a senhora fez parte", diz o texto.

PT-RS reage a ofensas
A bancada do PT no Rio Grande do Sul, domicílio eleitoral da deputada federal Maria do Rosário, reagiu contra o deputado Jair Bolsonaro. Em nome do partido, o deputado estadual Valdeci Oliveira repudiou a manifestação e afirmou que Bolsonaro deveria ser alvo de um processo por quebra do decoro parlamentar e incitação à violência.

"É uma barbaridade que um parlamentar diga isto", disse Valdeci, lembrando que em 2003 Bolsonaro já havia insultado Maria do Rosário e a presidente Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, por elas terem criticado a ditadura militar no Brasil (1964-1985). "Estimular a violência e o estupro é demais, ultrapassa qualquer limite. O Congresso tem que punir este cidadão. Ele não pode, na tribuna daquela Casa, ter atitudes machistas, retrógradas e insanas como esta", disse o parlamentar gaúcho.

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