Economia

Após crise, gastos dos americanos com alimentos para o lar crescem 13% e somam US$ 294 bilhões

Apesar de gastarem mais com a casa, aumentou a capacidade dos consumidores dos EUA de cortar custos, encontrar ofertas e pagar preços mais baixos

Cresce nos EUA a venda de produtos para consumo em casa, mais baratos diante dos serviços cobrados em restaurantes e bares
Foto: David Coates / AP
Cresce nos EUA a venda de produtos para consumo em casa, mais baratos diante dos serviços cobrados em restaurantes e bares Foto: David Coates / AP

RIO – A crise econômica de 2008 deixou parte da população dos Estados Unidos mais consciente com relação aos seus gastos. Uma das principais consequências da quebra do Lehman Brothers para a sociedade americana, de acordo com pesquisa da consultoria britânica Mintel obtida pelo GLOBO com exclusividade, foi o aumento da capacidade dos consumidores de cortar custos, encontrar ofertas e pagar preços mais baixos. Diante desse novo cenário, a aquisição de produtos e serviços de categorias de consumo destinados para o lar, entre 2007 e 2012, passou de US$ 260 bilhões para US$ 294 bilhões, crescimento de 13%. Especializada em inteligência de mercado, a consultoria analisou os impactos da crise financeiro no consumo na dos Estados Unidos.

Na dianteira desse processo, está a venda de snacks (produtos para lanches), que registrou alta de 30% no período. Neste segmento, destacam-se os iogurtes, que tiveram incremento de 40% nas suas vendas. Pesam nesta decisão, aponta a pesquisa, duas questões: a influência econômica e as preocupações com os gastos fora de casa.

— Os snacks ganham força por uma questão de mudança de estilo. De uma perspectiva econômica, se eu vou a um supermercado ou restaurante, eu consigo pagar por uma porção menor de itens para lanche que comprar produtos para uma refeição completa — analisa Fiona O´Donnell, analista de Estilos de Vida e Lazer da Mintel. — Os restaurantes já perceberam este movimento e estão oferecendo refeições com porções menores — reitera.

A analista ressalta ainda que, embora os americanos estejam gastando mais com o lar, eles aumentaram os esforços para cortar o orçamento em decorrência da crise. Mais de 50% da população pesquisada afirma que nos últimos cinco anos estão mais propensos a prestar atenção ao preço dos produtos, realizar comparações e comprar itens somente se houver necessidade. Há ainda os que passaram a acumular cupons com mais frequência e que afirmam aguardar descontos antes de comprar itens considerados mais caros.

Considerando apenas o período pós crise, a população dos Estados Unidos aumentou 3,9%, o que equivale a um adicional de 12 milhões de pessoas. No entanto, em comparação com os cinco anos anteriores, o crescimento ocorreu a um ritmo muito mais lento devido a uma taxa de natalidade em declínio, bem como menor níveis de imigração, o que significa que as empresas não poderão contar com o crescimento da população para aumentar o volume de vendas, e como resultado, precisarão ser mais criativas para convencer os consumidores a gastarem e assim, lucrarem.

Gastos com bebidas alcoólicas cresceram 11%

Ainda mais quando os hábitos antes mais rotineiros se modificam. Com a crise, beber em casa se tornou uma atividade mais comum entre os americanos. De 2007 a 2012, o total de gastos com bebidas alcoólica cresceu 11%, passando de US$ 77 bilhões para US$ 86 bilhões. Para os padrões americanos pré-crise é um movimento considerado estável, relata a Mintel. Pouco mais da metade (52%) dos 29% dos entrevistados que estão cortando a quantidade de álcool fora de casa, compram o produto para consumo em casa.

— Em todas as gerações, as vendas no varejo de bebidas alcoólicas têm se beneficiado do consumidor que adquire o produto para beber em casa, o que se tornou um hábito após o início da recessão — afirma Jenny Zegler, analista do setor de bebidas da Mintel.

Apesar de 33% dos americanos afirmarem que estão comendo fora com menos frequência da a economia empobrecida que afetou a renda da população, a indústria de restaurantes cresceu 14% entre 2007 e 2012, passando de US$ 377 bilhões para US$ 429 bilhões.

Os números recentes disponíveis indicam que entre 2007 a 2011, o poder de compra da população recuou, em média, 8,1%. De acordo com a Pew Research, a “recuperação” atual, diferentes do ocorrido em qualquer período pós-crise das últimas quatro décadas, ainda não mostrou seus efeitos sobre a renda da população.

— Os consumidores preferem negociar para baixo, dar descontos e fazer promoções em vez de desistir de jantar fora. A contínua preocupação com a economia faz com que consigam o melhor negócio possível — analisa Julia Gallo-Torres, gerente da categoria de Alimentos e Serviços da consultoria.

Beleza em alta

Não há crise que faça o setor de cosméticos diminuir o seu ritmo de vendas. Mesmo com um em cada dez americanos (10%) relatar que gasta menos em Beleza e Cuidados Pessoais no ano de 2012 em relação ao ano anterior, a categoria continua aquecida. Destaque para o crescimento nas vendas de produtos para unha no período: mais de 70%. As projeções indicam que de 2012 a 2017, os gastos dos consumidores irá passar de US$ 55 bilhões para US$ 60 bilhões.

Apesar dos gastos com estes produtos serem apontados como tipicamente femininos, as mulheres continuam a ser a camada da população mais diretamente envolvida com as compras e o orçamento familiar, sendo mais propensas que os homens a mudar seus comportamentos em um esforço para economizar dinheiro.

Para a Mintel, o fato de as pessoas estarem gastando mais com produtos para a casa e para cuidados pessoais reflete um outro problema da economia americana: embora a inflação esteja em patamares considerados baixos, os custos estão crescendo. Esse resultado advém dos preços terem aumentado consideravelmente nas categorias Alimentos para Casa, Alimentação Fora de Casa, Bebidas (tanto no segmento Alcoolica quando o Não Alcoolico), Vestuários, Acessórios e Belezas e Cuidados Pessoais.

— Note que quando falamos de EUA, não falamos de “expansão”, mas de “recuperação”, portanto, como qualquer paciente que está se recuperando, se você retirar os medicamentos antes do tempo pode ter uma recaída — afirma Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil — Só para exemplificar esse ponto de vista, mesmo mantendo a média de criação de vagas em 200 mil por mês (acima da média de antes da crise), só no final desse ano os EUA vão recuperar as vagas perdidas desde o início da crise.