Economia

Videogames deveriam estar nas Olimpíadas, diz ex-diretor criativo de 'Warcraft'

Rob Pardo argumenta que jogos atraem milhares de espectadores, e seus praticantes são hábeis e competitivos
Cerca de 8 mil pessoas tomam o Maracanazinho para a Final Regional Brasileira de "League of Legends", em julho Foto: Divulgação / BGS
Cerca de 8 mil pessoas tomam o Maracanazinho para a Final Regional Brasileira de "League of Legends", em julho Foto: Divulgação / BGS

RIO - Videogames competitivos — conhecido como e-sports — deveriam ser incluídos nos Jogos Olímpicos, segundo Rob Pardo, um dos criadores de "World of Warcraft", disse à BBC. Pardo, que até julho foi diretor de criação na Blizzard Entertainment, criadora do título, disse que "esporte" agora tem uma definição mais ampla.

— Videogames estão bem posicionados como um esporte para espectadores — disse ele ao BBC 5 Live.

Eventos profissionais de  e-sports atualmente atraem um público de milhões de pessoas. Uma recente grande final do jogo "League of Legends" realizada em Seul, na Coreia do Sul, encheu um estádio de 40 mil pessoas — com muito mais espectadores assistindo on-line  em todo o mundo.

— Esse é um argumento muito bom para e-sports estar nas Olimpíadas — completou  Pardo, que também foi designer-chefe de  "Starcraft: Brood War", um jogo muitas vezes creditado como propulsor do fenômeno e-sports. —  E-sports são um conjunto de habilidades muito competitivas. Você olha para estes jogadores profissionais,  seus reflexos são relâmpagos, e eles têm que tomar decisões muito rápidas, na mosca.

Em julho, o ginásio do Maracanãzinho recebeu 8 mil jovens  para acompanhar para assistir à Final Regional Brasileira de "League of Legends", o maior evento de e-sport já realizado no país. Além do público in loco, o streaming pela internet foi acompanhado, em média, por cerca de 100 mil pessoas simultaneamente.

No entanto, ele admitiu que os jogos de videogame enfrentam uma batalha cultural para ganhar  aqueles que seguem esportes mais físicos.

— Se você quer definir esporte como algo que tem um monte de esforço físico, então é difícil argumentar que videogames devem ser um esporte, mas, ao mesmo tempo, quando eu estou olhando para as coisas que já estão nas Olimpíadas, eu começo questionar a definição — comparou ele.

Ter novos esportes admitidos na lista olímpica é um processo moroso e, uma vez que o Comitê Olímpico Internacional (COI), limitou o número de esportes permitidos nos Jogos, tornou-se cada vez mais difícil.

Mesmo se os e-sports fossem reconhecidos como um esporte olímpico, isso não significa que eles serão incluídos nos Jogos — isso significa apenas que o caso pode ser apresentado ao COI.

Tome xadrez, por exemplo. Os jogadores de xadrez, por exemplo,  há muito tempo reinvidicam a sua inclusão nos Jogos, mas o COI tem sido relutante, considerando-o um "esporte da mente" e, portanto, não bem-vindo nas Olimpíadas.

Os videogames enfrentam o mesmo obstáculo, mas estão fazendo o seu melhor para, pelo menos, agir como um esporte, adicionando medidas como um programa anti-doping.  Pardo argumenta que os e-sports poderiam ser visualmente atraente para um público amplo.

— Você pode fazer o que quiser com os gráficos, você pode fazê-los ser muito animados e competitivos.

A percepção de Pardo encontra paralelo na de Brandon Beck, um dos cofundadores da Riot, empresa responsável pelo "League of Legends", tido como um dos e-sports mais populares da atualidade. Em uma fala no evento Gamescom em 2012, Beck já dizia acreditar que os jogos digitais passariam a fazer parte das Olimpíadas eventualmente.

— Nós não estamos preparados para substituir o futebol agora, mas definitivamente pensamos que os e-sports tem um papel grande, importante e popular como uma atividade competitiva — afirmou. — Eu definitivamente acredito que os e-sports serão um evento olímpico ainda no meu tempo de vida.

Apesar do otimismo, Beck também reconheceu os desafios para que as competições digitais se tornem ainda mais populares, e o que as empresas por trás desses jogos devem fazer para alcançar esse objetivo:

— É importante que as companhias não apenas digam que estão animadas com o e-sport, mas que realmente se comprometam: do ponto de vista de desenvolvimento e do ponto de vista financeiro. Esses jogadores fazer um comprometimento maciço em se tornarem atletas profissionais, então deve haver um caminho viável de carreira para que isso cresça em algo.