Economia

Libra disputa investimentos com 20 países

Apesar de área no pré-sal brasileiro ser a maior hoje em oferta, centenas de blocos pelo mundo rivalizam com país

Área terá leilão em agosto deste ano no litoral do Texas
Foto: FOTO: Eddie Seal / Bloomberg
Área terá leilão em agosto deste ano no litoral do Texas Foto: FOTO: Eddie Seal / Bloomberg

RIO  — A área de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, não está sozinha na disputa por investimentos das grandes petrolíferas internacionais. Além do Brasil, 20 países oferecem hoje centenas de blocos para exploração de petróleo e gás. A lista de opções inclui nações de todas as partes do mundo, desenvolvidas ou não, segundo levantamento da consultoria Deloitte. Apesar de Libra ser a maior área do mundo em oferta hoje, especialistas destacam que as empresas não estão satisfeitas de a Petrobras ser a operadora única da área e ainda avaliam os riscos do primeiro leilão brasileiro no regime de partilha.

Confira aqui as ofertas pelo mundo.

Com as atividades em alta, o setor de exploração e produção deve investir no mundo cerca de US$ 678 bilhões neste ano, valor 10% maior que em 2012, diz relatório da Barclays. Na América do Sul, os países que podem “roubar” investimentos são Suriname e Trinidad & Tobago, onde há potencial de óleo também na camada do pré-sal. Na Ásia e Oceania, Indonésia, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, correm com suas rodadas para atender ao aumento de consumo local de combustíveis.

No Oriente Médio, tradicional produtor do petróleo, mais oportunidades. A principal delas está no Líbano, que pela primeira vez fará um leilão nos moldes dos países ocidentais e vai iniciar a exploração no mar, onde há a expectativa de reservas férteis. Para os dez blocos em disputa no país com histórico de conflitos bélicos, a Petrobras já está pré-qualificada como operadora, ao lado de multinacionais como Exxon, Repsol, Shell, Petronas e Total — todas possíveis candidatas também à área de Libra. O mercado aguarda ainda o leilão da quinta rodada no Iraque, anunciada em março deste ano para dez blocos.

Ritmo na Ásia impressiona

Especialistas destacam as áreas que serão ofertadas nos EUA. Além dos planos para uma rodada no Alasca neste ano, haverá a terceira rodada do Golfo do México em agosto, no litoral do Texas. Após as duas primeiras licitações terem atraído US$ 1,2 bilhão, as expectativas, dizem analistas, são elevadas, com blocos que contam com reservas de até 200 milhões de barris de petróleo e 938 bilhões de metros cúbicos de gás natural.

— Mesmo com leilão em tantos países, Libra (que tem entre oito e 12 bilhões de barris de petróleo recuperáveis) é uma área superior, pois já há poços perfurados e testes realizados. Por isso, o risco é baixo. É algo atípico — destaca Ricardo Savini, especialista na área de óleo e gás da Deloitte. — Nos outros países, as áreas contam com risco exploratório maior. Até nos EUA, a escala de produção é menor. Na América do Sul, há Suriname e Trinidad & Tobago, onde há muito potencial. Muitas empresas estão olhando para lá, já que a área é análoga ao pré-sal do oeste da África. Por isso, na 11ª rodada do Brasil em maio, a margem equatorial (na bacia do Foz do Amazonas) foi muito disputada pelas companhias. O Peru vai ter rodada para o mar em setembro, o que não é tradicional no país. O prêmio pode ser alto, mas o risco também.

Segundo a consultoria, o Equador ofertou 13 blocos, alguns na Região Amazônica. Quem se prepara para entrar na lista é a Argentina, que anunciou mudanças nas regras do setor para beneficiar as empresas na exploração de gás não convencional ( shale gas ). Fábio Fontoura, sócio do escritório Bornholdt Advogados, destaca que outros fatores, como o risco político, pesam na decisão das empresas:

— A volta dos leilões é novidade só para os brasileiros. Do ponto de vista das empresas, há muitas opções na busca de novas reservas. Porém, não é só uma questão de óleo. O Paquistão fez leilão neste ano em áreas na fronteira com o Afeganistão. Mas, por causa do risco político, muitas empresas acabam optando por outros países com risco político zero.

Enquanto o Brasil ficou cinco anos sem leilões, países como Austrália impressionam pelo ritmo de ofertas. Só neste ano, está com cinco leilões simultâneos, com quase 50 blocos em áreas espalhadas por todo o país, em um processo que só vai terminar em maio de 2014. A Rússia faz leilão todo mês. Já a Indonésia terá seu primeiro leilão em outubro, assim como Nova Zelândia e Sri Lanka.

— O consumo no mercado asiático cresce muito. Por isso, há essas ofertas. Esses países têm uma vantagem competitiva em relação ao transporte do óleo — afirma Savini, da Deloitte.

Para Alexandre Rangel, sócio da consultoria EY (ex-Ernst & Young), se o leilão de Libra tivesse ocorrido há três anos, a disputa seria maior:

— O real não estava tão valorizado como hoje. Ainda assim, Libra ainda é um filé mignon, mesmo com as incertezas por ser o primeiro leilão do regime de partilha e da obrigatoriedade de a Petrobras ser a única operadora.

Para 2014, mais leilões estão previstos. Alguns países, de forma a tornar suas ofertas mais disputadas, já programaram rodadas. Segundo a consultoria Bain & Company, a Grécia prepara para o primeiro semestre ofertas no Mar Jônico e na Ilha de Creta. O Reino Unido terá sua 28ª rodada, assim como a Noruega, com a 23ª rodada. Serra Leoa também está na lista.

O advogado Rodrigo Marcussi Fiatikoski, do escritório Vieira Rezende, lembra que, até a descoberta do pré-sal, o campo de Kashagan, no Cazaquistão (com dez bilhões de barris de petróleo recuperáveis), foi a última novidade do setor:

— Poucos países com reservas do porte de Libra utilizam processos abertos como os nossos. Geralmente, a aproximação entre governos e petroleiras é bem discreta.