Política

Serra diz que ninguém, nem o PSDB, despreza seus 43 milhões de votos de 2010

Ex-governador paulista surpreende até aliados e aparece no Congresso para contatos políticos

José Serra com Pedro Taques (à esquerda) e Jarbas Vasconcelos
Foto: Ailton de Freitas / O Globo
José Serra com Pedro Taques (à esquerda) e Jarbas Vasconcelos Foto: Ailton de Freitas / O Globo

BRASÍLIA — Surpreendendo senadores e o próprio líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), o ex-ministro José Serra desembarcou nesta terça-feira no Congresso, que já estava em clima de recesso branco, e tomou a iniciativa de marcar reuniões e conversas políticas para discutir “saídas para o Brasil”. Em plena movimentação política para mostrar que está no jogo, Serra conversou com os senadores independentes do PDT, Pedro Taques (MT) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Na ausência do presidente do PSDB e provável candidato ao Planalto, Aécio Neves (MG), que não estava em Brasília, o ex-governador entrou em gabinetes, distribuiu sorrisos e tirou fotos.

Na reunião com os independentes discutiu o impacto dos movimentos de rua e a reação “virtual” do governo Dilma Rousseff. Não negou a saída do PSDB e, ao falar do patrimônio eleitoral de Marina Silva, do Rede, de cerca de 20 milhões de votos em 2010, Serra disse que seus 43 milhões de votos também não podem ser desprezados em 2014.

— Ninguém despreza! — respondeu Serra, quando questionado sobre sua votação. — O PSDB também não despreza.

Mas, quando perguntado se Aécio Neves desprezava seu patrimônio eleitoral, Serra disse que não iria cair em “casquinhas de banana”.

Sobre a possível saída do PSDB e convites para se candidatar ao Planalto pelo PSD e PPS, Serra deixou claro que tem alternativas, mas sempre com críticas a antecipação do debate eleitoral:

— Eu tenho muito boas relações com o Roberto Freire, do PPS, e também com outros políticos e outros partidos.

— O Serra é um grande político. A presença dele é um trunfo para o PSDB — disse o líder Aloysio Nunes, sobre sua saída do partido.

O passeio de Serra pelo Congresso despertou a curiosidade dos senadores. Ao passar pelo gabinete de Taques, o líder do DEM, senador Agripino Maia (RN), estranhou a movimentação e quis saber o que se passava. Mas não quis dar pitaco sobre as especulações da movimentação de Serra.

— Não tenho que mexer nesse ninho tucano, principalmente tucano inquieto — ironizou Agripino.

— Ele vai para o PSD? — perguntou o senador Sérgio Petecão (PSD-AC).

Logo quando chegou, Serra avisou que falaria sobre o Brasil. Disse que não iria comemorar a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas, mas que o pano de fundo dessa queda era um governo marcado pela falta de criatividade e corrupção:

—Não fico contente com a queda de ninguém em pesquisa, muito menos da presidente da República. Mas o fato é que temos hoje um governo fraco e uma crise. Há um crise a procura de um governo.

O tucano disse que a MP do programa Mais Médicos é “inacreditável”. E que a única maneira de salvá-la, seria oferecer imediatamente aos médicos e formandos em medicina no Brasil, o salário de R$ 10 mil e ajuda de custo para irem para áreas carentes do interior.

— Essa MP não é só um tiro de revólver. É um tiro de canhão nos pés, enfraquece o governo, que quis tirar o foco de sua responsabilidade jogando uma solução para 2022. A ideia é jogar no virtual, na propaganda, tentando passar para a opinião pública que está preocupado com a saúde — criticou Serra.