Economia

Estagnada, indústria não recuperou nível de produção pré-crise

Estudo mostra que, em 2012, setor produziu 1,5% abaixo do registrado há quatro anos. Instituto diz que desindustrialização é "inquestionável"

SÃO PAULO - Enquanto o governo tenta costurar mais um pacote de estímulos à atividade econômica — que deve incluir novas desonerações da folha de salários e a provável redução de tributos a setores como o de etanol —, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgou estudo que pinta um quadro preocupante da economia e, particularmente, da indústria. Analisando o desempenho do PIB e de outros 20 indicadores econômicos ao longo dos últimos quatro anos e um trimestre, desde a eclosão da crise de 2008 (de setembro daquele ano a dezembro de 2012), o Iedi constata, por exemplo, que em janeiro o nível da produção da indústria ainda era 1,5% menor do que o registrado antes da crise.

— A desindustrialização tornou-se inquestionável e a indústria de transformação, o coração do sistema industrial, acumulou queda de 5,9% nesse período. Retrocesso que decorre do modelo de alto consumo e baixo investimento e exportações, sem políticas industriais e ações compensatórias no câmbio e na competitividade do setor — avalia Rogério César de Souza, economista do Iedi e autor do estudo.

Nos últimos quatro anos, ressalta o estudo, enquanto o consumo avançou 19,7%, os investimentos cresceram apenas 6,1% _ sendo que nos dois últimos anos (governo Dilma) houve uma queda de 2,6%. Outro indicador que dá uma medida do estado do dinamismo desbalanceado da economia é o da balança comercial. As importações de bens e serviços tiveram aumento de 34,8% no período, enquanto as exportações (mesmo com a pujança das vendas de commodities) cresceu 5,9%.

A análise do Iedi identifica outro problema nevrálgico que o país não consegue superar: o baixo nível dos investimentos. Em 2012, destaca o Iedi, a taxa de investimento sobre o PIB ficou em 18,1%, abaixo dos 19,3% de 2011. Mesma trajetória da taxa de poupança, que de 17,2% do PIB e caiu a 14,8% no ano passado.

— A análise dos dados deixa claro que o padrão de crescimento do país se assentou sobre o consumo e os serviços, em detrimento dos investimentos e da produção — diz Souza, que pergunta: — O dinamismo da economia mudou, mas é possível sustentar um crescimento mais forte apenas com a expansão dos serviços, abrindo mão do papel da indústria?

Para o Iedi, o avanço de 2,5% na produção industrial em janeiro deste ano é um dado positivo, já que 18 dos 27 setores analisados apresentaram crescimento, mas que deve ser visto com cautela por dois motivos. O primeiro é a baixa base de comparação, já que em janeiro de 2012 o setor abriu o ano com uma queda de 5,7%. E também porque o setor teve desempenho negativo no último trimestre de 2012, para fechar o ano com retração de 2,6% na produção.

— Isso faz com que a produção de janeiro apresente um "salto" maior. Isso sem contar que o setor automotivo foi quem puxou a alta, além do segmento de bens de capital para transportes (caminhões) que cresceu 63%. Então, esse número de janeiro tem correções (a recuperação dos caminhões, que haviam caído fortemente em 2012) e o anabolizante do IPI — observa Souza.

Ações pontuais, como as adotadas pelo governo nos últimos anos, na avaliação do Iedi pouco ajudam a mudar o quadro desfavorável à indústria. Sem uma participação mais ativa dos bancos privados, avalia a entidade, o país segue carente de fontes de financiamento para alavancar os investimentos. E não tem uma política industrial ampla e de longo prazo.

— A participação da indústria no PIB, que a pouco mais de 20 anos era de 34%, hoje é de 14%, uma perda muito grande em pouco tempo. As ações pontuais que o governo vem tomando são boas porque trazem um alento a determinados setores, mas para reverter esse quadro são necessárias ações mais profundas, de longo prazo, ações de Estado que transcendam governo.

A projeção do Iedi para este ano é de um avanço de 2,5% na produção industrial, embalada pelo reaquecimento da economia internamente e também pelo fato de que, no cenário externo, Estados Unidos e China devem crescer mais. De qualquer forma, observa Souza, a expansão esperada apenas vai repor a retração experimentada em 2012, mas longe de fazer de 2013 um ano de “bonança”.