Economia

Em dia de cautela, Ibovespa fecha com queda de 0,42% e dólar sobe a R$ 2,27

Investidores estão à espera da reunião do banco central dos EUA, na quarta

SÃO PAULO - O mercado financeiro teve um dia de cautela com os investidores na expectativa da reunião do Federal Reserve (o banco central americano) que vai decidir sobre a taxa de juro, na quarta-feira. Os investidores também esperam novas sinalizações do banco central americano sobre o prazo para a redução do programa de estímulo à economia dos EUA. No mercado de câmbio, o dólar se valorizou frente ao real, acompanhando o movimento de alta da moeda frente a outras divisas de países emergentes. A divisa subiu 0,62% sendo negociada a R$ 2,268 na compra e R$ 2,270 na venda, o maior nível desde 10 de julho, quando fechou a R$ 2,273. Na máxima do dia, o dólar bateu em 2,271 e, na mínima, a moeda americana foi negociada a R$ 2,256. Na Bolsa, o índice de referência do mercado, o Ibovespa, se desvalorizou 0,42% aos 49.212 pontos. O que chamou a atenção foi o baixo volume negociado - R$ 4,3 bilhões - pouco mais da metade da média diária do mês de junho. O baixo volume refletiu a cautela dos investidores, segundo analistas.

- O Ibovespa deve terminar positivo em julho, o primeiro mês fechado de alta no ano, e os investidores aproveitaram esta segunda para embolsar uma parte dos lucros. Há muitos indicadores importantes a serem divulgados como a prévia do PIB americano no segundo trimestre, números do mercado de trabalho nos EUA, além da reunião do Fed, o que deve fazer o mercado colocar o pé no freio pelo menos até quarta. E por aqui o mercado espera a divulgação de balanços importantes, como Vale, Petrobras e alguns bancos - diz João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa Vale PNA recuou 1,19% a R$ 28,95 e Petrobras PN teve queda de 1,59% a R$ 16,70. A queda de ambas pesou sobre o índice. Os papéis ON da OGX Petróleo subiram 6,66% a R$ 0,64, a segunda maior alta do pregão; Itaú Unibanco PN recuou 0,03% a R$ 28,99 e Bradesco PN teve perda de 0,10% a R$ 28,26.

A maior alta foi apresentada pelos papéis ON da Usiminas, que subiram 6,31% a R$ 9,60, enquanto os papéis PNA da siderúrgica tiveram valorização de 4,78% a R$ 9,43, a terceira maior valorização do índice. A companhia divulgou seu balanço na semana passada, reduzindo o prejuízo em 74% em relação ao mesmo período do ano passado.

Nesta segunda, contribuiu para a alta das ações da Usiminas, um relatório do banco Itaú BBA mudando a recomendação dos papéis preferenciais da siderúrgica de venda para compra. O banco elevou ainda o preço-alvo do papel de R$ 11 para R$ 12.

Já a maior queda do pregão foi apresentada pelos papéis PN da Oi, com baixa de 7,45% a R$ 4,47, enquanto as ações ON recuaram 6,43% a R$ 4,80. As ações da Oi devolveram parte da alta de cerca de 20% observada na semana passada, depois que a empresa divulgou que não vai mais pagar dividendos de R$ 1 bilhão, previstos para agosto, para equacionar seu endividamento.

Entre as empresas que divulgaram seus balanços, a BRF, maior processadora e exportadora de carne de frango do país, informou lucro líquido de R$ 208,4 milhões no segundo trimestre, abaixo dos R$ 360 milhões esperados pelos analistas. A companhia foi beneficiada pelo melhor desempenho das exportações. No mesmo período do ano passado, a empresa havia registrado lucro de R$ 6,4 milhões. As ações ON da empresa subiram 0,95% a R$ 48,80.

Em comunicado ao mercado, a empresa informou que a demanda no Brasil foi afetada pela alta da inflação e pela cautela dos consumidores diante do panorama da economia no curto prazo.

- Mesmo com um resultado abaixo do esperado que se beneficia do dólar mais forte, já que é exportadora, assim como tem bom desempenho no mercado interno - diz João Pedro Brugger, da Leme Investimentos.

O chefe da equipe de pesquisas do BB Investimentos, Nataniel Cezimbra, lembra que os principais itens que provocaram uma pressão de alta nos custos da BRF foram aqueles corrigidos pelo câmbio como embalagens, fretes e vitaminas, além do reajuste salarial da indústria e elevação do preço de captação do leite devido à entressafra. O custo do milho no trimestre apresentou queda e teve um impacto positivo na margem bruta.

Segundo números divulgados pela BM&FBovespa, o saldo de investimento estrangeiro ficou positivo em R$ 557 milhões em julho, até o dia 25. No ano, até junho, o saldo de investimento estrangeiro está positivo em R$ 4,226 bilhões, após ter fechado 2012 positivo em R$ 3,303 bilhões.

No mercado futuro de juros, as taxas dos contratos subiram acompanhando a alta do dólar e uma elevação das taxas dos títulos do Tesouro americano, na expectativa da reunião do Fed.. A taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2015 subiu de 9,40%, na última sexta-feira, para 9,48%. Já o papel com vencimento em janeiro de 2017 teve alta de 10,52% para 10,68%, enquanto o contrato com vencimento em janeiro de 2014 avançou de 8,80% para 8,81%.

No mercado doméstico, os investidores analisaram também o boletim Focus, do Banco Central, com previsões sobre a economia brasileira. Para os economistas ouvidos pelo BC, o dólar deve terminar o ano na casa de R$ 2,25 frente aos R$ 2,24 da semana passada. Já para o crescimento da economia a previsão é de 2,28%, a mesma do último boletim.

Europa: Banco Central Europeu também vai se reunir

A possibilidade de o Fed reduzir o estímulo nos EUA, que todo mês injeta US$ 85 bilhões na economia através da compra de títulos, vem deixando os investidores nervosos desde o mês passado. O resultado foi uma alta global do dólar. Mas o Fed vem emitindo sinais de que não reduzirá os estímulos enquanto o desemprego não ceder abaixo de 7% e a economia não apresentar vigor. Atualmente o desemprego está em 7,6%. Para a reunião desta semana, a percepção é que o Fed não deverá mudar seu programa de estímulo, por enquanto. Os juros básicos da economia americana também deverão continuar entre zero e 0,25% ao ano.

"As decisões dos bancos centrais nos países desenvolvidos também poderão influenciar tanto os próximos passos de política monetária no Brasil como os preços dos ativos", prevê o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, em relatório divulgado nesta segunda. Além do Fed, haverá também reunião do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra nesta semana.

Além disso, o atual presidente do Fed, Ben Bernanke, será substituído e o nome do sucessor começa se transformar em mais um ponto de apostas no mercado. Grande parte dos investidores acredita que o sucessor de Bernanke será o ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o próximo presidente do Fed deverá ter como objetivo manter a “inflação sob controle” e “o dólar sólido”

Também serão divulgados dados do mercado de trabalho americano, esta semana, outro indicador importante que vem sendo acompanhado pelos investidores e pode influenciar a decisão do Fed de reduzir os estímulos.

Nesta segunda-feira, a Associação Nacional dos Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, o Indice de Vendas Pendentes de Imóveis Residenciais caiu 0,4% em junho, para 110,9 pontos, ante 111,3 pontos em maio. Em relação a junho do ano passado, quando a leitura apontou 100 pontos, houve ganho de 10,9%. Analistas esperavam queda de 1,7% no indicador.

Nos EUA, os principais índices acionários fecharam em queda: o S&P 500 perdeu 0,37%; o Dow Jones recuou 0,24% e o Nasdaq teve baixa de 0,39%.

Na Europa, as principais Bolsas começaram o dia em alta nesta segunda-feira, influenciadas por números positivos de balanços de empresas. Mas perderam força com o dado mais fraco das vendas de imóveis nos EUA. Na Alemanha, o índice Dax, da Bolsa de Frankfurt, subiu 0,17%, enquanto o índice FTSE, principal da Bolsa de Londres, se valorizou 0,08%.