Acostumado a surfar nos mares mais perigosos e assustadores do mundo, o big rider Carlos Burle fez as malas assim que soube que um swell atingiria a bancada de Jaws, na ilha de Maui, no Havaí, provocando ondulações de 40 pés (12m). O campeão mundial na remada e no tow-in teve uma de suas pranchas destruída pela força das águas em um dia de condições perfeitas. Ele levou uma série de ondas na cabeça, e o seu equipamento foi arremessado em direção às pedras. Os brasileiros Danilo Couto, Lapo Coutinho, Marcio Freire, Yuri Soledade, Pedro Calado, Diego Silva e Lucas Silveira também estavam por lá, assim como os havaianos Shane Dorian, Albee Layer, Ian Walsh e Kai Lenny.
Aos 60 anos, o surfista e apresentador Ricardo Bocão, um dos pioneiros do surfe no Brasil, surfou pela primeira vez no local e levou uma "vaca" incrível (caldo), inscrita para o prêmio de vaca do ano pelo XXL, uma espécie de "Oscar" das ondas grandes.
Quando soube do swell em Jaws, o pernambucano estava na ilha de Oahu, onde foi um dos convidados para a cerimônia do evento de ondas grandes em homenagem a Eddie Aikau, ex-surfista e salva-vidas havaiano. A competição na baía de Waimea, com janela aberta até o dia 28 de fevereiro, acontece apenas se as ondas alcançarem um mínimo de 20 pés (6m) e não é realizada desde 2009. Na ocasião, o americano Greg Long sagrou-se campeão.
- O surfe em Jaws foi legal, alto nível, com os melhores surfistas do mundo. Fazia tempo que eu não pegava um mar tão perfeito. É raro encontrar essas condições: ondas de 40 pés de face e sem vento. Foi o pico. Assim que eu cheguei no canal, vi o Shane Dorian pegar um tubo incrível. Um ponto alto do dia foi a presença do veterano Ricardo Bocão, o primeiro brasileiro a ser convidado para o Eddie Aikau. Eu venho todos os anos ao Havaí e nesta temporada vai ter bastante onda grande - disse Burle.
Assim como na Praia do Norte, em Nazaré, Portugal, formada por um desfiladeiro submarino de origem tectônica que faz as ondas viajarem em grande velocidade, chegando à costa com proporções gigantescas, Jaws também tem uma formação geológica capaz de formar paredões que mais parecem edifícios marinhos. Burle explica que o fundo de pedras vulcânicas da bancada havaiana, de formação mais recente do que no Brasil, por exemplo, faz com que as ondas sejam ainda mais perfeitas.
- A onda de Jaws combina vários fatores e tem um fundo que converge a potência do swell para uma bancada perfeita. As ondas grandes e tubulares quebram com muita força e perfeição. É como Nazaré, que também tem uma combinação de fatores, um fundo do mar que faz com que a energia vá para um só lugar. As ilhas do Havaí são novas, se comparadas à idade da Terra. A Ilha Grande, por exemplo, é uma terra jovem, que ainda está crescendo. As ilhas do Havaí são novas, assim como no Taiti e na Indonésia, o que propicia ondas perfeitas.
Outro lugar que promete estar o paraíso para os big riders nos próximos dias é Mavericks, na Califórnia. Burle contou que este será um bom destino para a nova geração "botar milhas em ondas grandes". As maiores ondulações devem chegar à costa americana na sexta-feira e na segunda-feira: "Mavericks vai estar incrível". Em outubro, Burle e seu companheiro de equipe, Pedro Scooby, voltaram a se aventurar na Praia do Norte, em Nazaré, um ano após o grave acidente de Maya Gabeira e do pernambucano surfar um "monstro" de cerca de 35m.
A decisão do Circuito Mundial de surfe (WCT) é em Oahu, outra ilha do arquipélago havaiano. O brasileiro Gabriel Medina, o australiano Mick Fanning e o americano Kelly Slater estão na briga pelo caneco. A janela de espera vai até dia 20.