Economia

Queda no preço de alimentos deixa inflação perto de zero em julho

IPCA, que será divulgado quarta-feira, pode ficar negativo. Mas alta do dólar deve pressionar no 2º semestre

RIO - Alimentos e transportes públicos devem frear a inflação de julho, que será divulgada na quarta pelo IBGE, mas o efeito de valorização do dólar frente ao real ainda poderá pressionar os preços da alimentação na segunda metade do ano, segundo analistas. A lista de projeções da agência Bloomberg para o IPCA, índice oficial de preços, varia entre -0,13% a 0,20%, com a média das expectativas em zero. Caso essas previsões se confirmem, o IPCA acumulado em 12 meses ficará em torno de 6,20% — ou seja, abaixo do teto da meta, que é de 6,5%. Em junho, o IPCA em 12 meses bateu 6,7%, com os alimentos subindo 12,8%.

Assim, os alimentos, que já foram o vilão da inflação, podem ajudar a segurar o índices agora. Dados mais recentes como o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), já mostram isso. Os principais recuos continuam vindo dos in natura como o tomate, que tem queda de 37,6% em julho; a batata inglesa, que cai 3,68%; o mamão papaia, com queda de 25,35%; e o feijão carioca, que recua 7,34%. Por outro lado, ainda pressionam o feijão preto, que sobe 4,62%; a farinha de trigo, com alta de 1,25%; o leite longa vida, com avanço de 6,16%; e as carnes bovinas, com 0,92%.

— Os preços da batata, da cenoura, do tomate e das frutas caíram. Folhagens estão baratas. A carne e o frango estão estáveis. Há muita oferta e, até o fim do ano, não vejo problemas na área alimentícia — afirma o presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios, José de Souza, sobre os preços no atacado.

A economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, espera que os preços dos alimentos no domicílio caiam 0,9% em julho. Ela estima que os preços de tubérculos, raízes e legumes registrem queda de 13%, hortaliças e verduras recuem 2,5% e os preços das frutas encolham 2,8%. As tarifas de transportes públicos, metrôs e ônibus urbanos, deverão ficar 2,5% menores, depois da suspensão dos reajustes como resposta às manifestações populares.

Segundo Alessandra, apesar da queda dos preços, os alimentos podem voltar a subir no segundo semestre em razão do câmbio. Pelas estimativas da Tendências, metade do IPCA projetado para o terceiro trimestre, de 0,8%, pode ter a contribuição do câmbio. Nas contas, entram todos os produtos influenciados pelo dólar, não só alimentos.

O economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, também estima que os preços de alimentos possam voltar a subir a partir de agosto com impacto do câmbio.

— O próprio governo está tentando se prevenir contra eventuais repasses do câmbio, reduzindo alíquotas de importação. O governo parece estar contando com a desaceleração da atividade econômica e das commodities para combater a inflação — opina.

Demanda fraca pode frear repasse do dólar

Alessandra Ribeiro ressalta, no entanto, que o cenário econômico é de atividade fraca, o que pode impedir os supermercados de repassar a alta da moeda americana aos preços.

— A demanda está muito fraca. É preciso saber se os varejistas terão espaço para repassar esse custo para a demanda final. Pode ser que os supermercados percam esse espaço — afirma.

Já o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, não vê o câmbio como uma ameaça aos preços de alimentos. Pelos seus cálculos, os alimentos devem encerrar 2013 em torno de 7%.

— Não vejo o câmbio como potencial risco para fazer disparar os preços de alimentos. O pior já passou. Pode ter uma volta dos preços de alimentos por geada, mas depois volta. Só o câmbio não é suficiente para ter outra dinâmica ruim como tivemos no ano passado ou no início deste ano — afirma.