As irregularidades na
gestão da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) geraram um sentimento de
indignação nos jogadores da modalidade. O ponteiro Murilo Endres assumiu o
posto de porta-voz do grupo e fez uma cobrança à nova gestão da entidade máxima
do vôlei brasileiro para que os cartolas tomem as atitudes recomendadas pelo
relatório da Controladoria-Geral da União (CGU). A auditoria do órgão do Governo Federal
identificou irregularidades em contratos que juntos têm o valor de R$ 30
milhões em pagamentos feitos entre 2010 e 2013.
- É difícil
de se segurar. A gente acaba lendo as notícias na internet, e a rede social
está ali como um modo de desabafar. A gente acaba atingindo muita gente, e as
pessoas dão um feedback, então dá para ter uma ideia se você está falando
coisas boas ou se está falando besteira. Nesse caso, 100% dos meus seguidores
estão apoiando. Temos que deixar de ser o país da impunidade. Nós como atletas
envolvidos com o voleibol precisamos cobrar, precisamos dar a cara à tapa,
precisamos falar na televisão, precisamos pedir punição às pessoas envolvidas
nesses escândalos, precisamos pressionar a nova gestão da CBV para que peça o
ressarcimento desses valores que são destinados ao voleibol. Não é para mim,
não é para o Bernardo, não é para a seleção feminina, mas para o voleibol em
si, para o desenvolvimento, para o fomento do esporte. É isso que a gente
deseja - disse Murilo.
Medalhista olímpico
e campeão mundial, Murilo já se posicionava contra as irregularidades da CBV
antes mesmo da confirmação apontada pela auditoria da CGU. Ele conta que os
jogadores da modalidade têm conversado bastante nos últimos dias, especialmente
na última noite, e que o grupo quer a punição dos dirigentes envolvidos e o ressarcimento do dinheiro irregular.
- É um sentimento
de indignação, de traição por parte dessas pessoas. Estamos esperando uma
resposta da CBV, não em forma de nota oficial, que é muito fácil fazer uma nota
oficial. Nós queremos que a nova gestão venha a público e se pronuncie. Vamos
continuar cobrando para que eles se pronunciem e tomem uma atitude. Confiamos
que eles possam tomar as atitudes corretas, que foram até mesmo solicitadas
pela auditoria da CGU, que eles corram atrás e punam os responsáveis e sejam
ressarcidos desses valores. É isso que nós atletas esperamos para termos um
novo ponto de partida para o voleibol. A gente não vai compactuar com esse tipo
de ação, de desvio de dinheiro.
Entre as
irregularidades apontadas pela CGU está o não repasse de bônus de performance
aos atletas. Murilo pede esclarecimento sobre o que os contratos da CBV com seu
principal patrocinador, o Banco do Brasil, em relação às premiações.
- Precisamos entender
direito a forma com que isso é feito, porque a gente nunca teve acesso aos
contratos com o Banco. Não sabemos quais campeonatos são premiados ou não.
Temos um acordo direto com a CBV, a maioria dos casos a gente negocia os
prêmios, mas a gente não tem ideia de quanto o banco paga para eles. Agora deu
para ver que os valores são muito mais altos do que a gente imaginava. Acho que
a questão não é nem o dinheiro para mim ou para outros jogadores. É dinheiro
que seria usado na fomentação do voleibol. Isso é o que mais me preocupa. A
gente ganhar um pouco a mais ou um pouco a menos talvez não vá diferença, mas
para o voleibol, para a comunidade, faz uma grande diferença.
O Banco do Brasil,
que foi isentado de responsabilidade pela CGU, suspendeu o pagamento de valores
referentes ao patrocínio da CBV.
- Para ser sincero,
eu não me espantei com a interrupção. É uma medida preventiva do banco. É um
patrocinador que está junto da CBV há 23 anos. Achei uma ótima atitude dele (do
Banco do Brasil) de pedir uma solução para os casos denunciados e comprovados
agora pela CGU. O Banco está fazendo a parte dele, está cobrando atitudes da
nova gestão da CBV. É isso que a gente também quer cobrar. A gente quer cobrar
que eles se posicionem, que os envolvidos sejam punidos, que o dinheiro seja
ressarcido, porque o voleibol brasileiro não pode sair prejudicado dessa
maneira.
greve ou boicote à seleção?
Murilo afirma que no momento os jogadores não pensam em fazer greve na Superliga. Eles confiam que a nova gestão da CBV se posicionará e tomará as atitudes recomendadas pela CGU. Deixar de defender a seleção brasileira também não está nos planos no momento. A próxima convocação é apenas em maio. No entanto, se o cenário não mudar até lá, Murilo acredita que o boicote tem de ser cogitado pelos jogadores.
- Agora de imediato
não (pensamos em greve na Superliga). Vamos esperar um posicionamento da nova
gestão da CBV, precisa saber como eles vão proceder daqui em diante. Nós vamos
pressionar, nós vamos falar, nós vamos protestar, nós vamos nos manifestar, mas
acho que o momento para essa rodada agora não é de greve. É difícil falar em
convocação agora. A próxima convocação acho que vai ser só em maio. Acho que
muita água ainda vai rolar até lá. Hoje estou no meu clube (Sesi-SP),
represento o meu clube. Não posso falar como jogador da seleção. Quem me
convoca é o técnico, quem eu represento é o meu país, não é a CBV. Tenho fé que
a gente vai conseguir que tudo se solucione. Caso essas atitudes não sejam
tomadas até o dia da convocação é de se repensar se vale a pena a gente estar
em uma seleção, não falo só por mim, falo por todos os jogadores.