Economia

Ibovespa fecha em queda de 0,48%; ações da OGX perderam quase quase 30%

Empresa anunciou inviabilidade em três campos e diz que Tubarão Azul, único em produção, pode parar em 2014

SÃO PAULO e RIO – A OGX, braço de petróleo e gás do grupo EBX, de Eike Batista, anunciou nesta segunda-feira que seu único campo em produção, o de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, pode parar de produzir petróleo ao longo de 2014. Outros três campos (Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia), também na Bacia de Campos, foram considerados inviáveis pela empresa, sob alegação de que não há “tecnologia capaz de tornar economicamente viável (seu) desenvolvimento”. O anúncio fez as ações da OGX tombarem 29,11%, a R$ 0,56, e arrastou para baixo o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo. O índice caiu 0,48%, aos 47.229 pontos, na contramão dos pregões internacionais.

Durante a manhã, as ações ON (com direito a voto) da OGX chegaram a recuar 39,24%, a R$ 0,48, a mínima histórica do papel desde sua estreia na Bovespa em 2008. A queda fez os negócios com as ações serem suspensos várias vezes. Sempre que uma ação cai mais de 10%, os negócios são interrompidos e os papéis entram em leilão até o preço se estabilizar.

A queda das ações pesou sobre o índice e o volume negociado na Bovespa foi de R$ 5,9 bilhões, abaixo da média diária. No mercado de câmbio, a moeda americana terminou com leve queda frente ao real: baixa de 0,04%, negociada a R$ 2,231. Na máxima do dia, o dólar foi negociado a R$ 2,238.

Comunicado surpreendeu mercado

O comunicado da OGX pegou o mercado de surpresa. Os três campos para os quais ela informou que não haveria tecnologia que viabilizasse a produção tiveram declaração de comercialidade anunciada em março passado, inclusive com expectativa de reserva. A empresa também recorreu à questão tecnológica para justificar que não seria possível realizar investimento adicional no campo Tubarão Azul, para elevar sua produção, atualmente de cerca de 6 mil barris diários de petróleo.

— Pode ter sido erro de avaliação técnica. Quando se declara a comercialidade de um campo já se tem estudos bem detalhados que mostram que é possível extrair o petróleo e que dará lucro — disse o consultor e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) John Forman.

A ANP disse que, caso a OGX não apresente o plano de desenvolvimento dos campos, terá que devolver as áreas.

Para especialistas, a empresa chegou numa situação crítica de alto endividamento e baixa geração de caixa. O Citibank, por exemplo, avaliou que a solvência é o principal desafio da OGX no curto prazo, descrevendo uma “situação em termos de balanço muito difícil para manter as operações nos próximos 12 meses e retornar valor para os acionistas”, escreve Pedro Medeiros, analista do Citi em relatório.

Dos cinco campos que a OGX tem na Bacia de Campos, apenas o desenvolvimento do campo de Tubarão Martelo foi mantido. A empresa vendeu 40% desse campo para a Petronas, petrolífera da Malásia, em maio. A OGX informou que todas as demais projeções feitas anteriormente, inclusive sobre metas de produção, não devem mais ser consideradas.

Encomendas canceladas

Como resultado desse rearranjo, a OGX cancelou uma série de encomendas feitas à empresa irmã OSX, o que causou efeito sobre a cadeia de fornecedores. Foram canceladas cinco plataformas. Uma delas, a WHP-1, já estava sendo executada no Paraná por um subcontratado da OSX, o grupo Techint. O contrato é avaliado em cerca de US$ 1 bilhão. A Techint disse em nota que “tomou conhecimento nesta data, assim como o mercado em geral, do cancelamento da execução da WHP-1 através da divulgação de fato relevante”. Segundo a OSX, o contrato será renegociado. A Techint finaliza outra plataforma para o grupo, a WHP-2, que foi mantida.

Pelo cancelamento dos contratos, a OGX terá de pagar US$ 449 milhões à OSX. Segundo a a corretora Planner, o montante equivale a 39% do que a OGX tinha em caixa no fim do primeiro trimestre. A OSX também vai continuar recebendo da OGX os US$ 263 mil diários pelo afretamento da plataforma usada no campo de Tubarão Azul, mesmo depois que ele pare de produzir e até a empresa dar novo destino à plataforma.

Procurada, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou que não comenta casos específicos, mas que a “legislação indica que companhias abertas devem divulgar informações verdadeiras”. A autarquia também declarou que “o eventual desvio em relação a essa regras sujeita os infratores à apuração de responsabilidades”. Norma Parente, ex-diretora da CVM, avalia que a atitude da empresa pode ser alvo de investigação na CVM, porque a veracidade das informações está em xeque.

— A CVM pode cobrar explicação por qual motivo essa falta de condição de comercialidade não foi vista antes. O cerne da questão é comprovar que realmente só agora percebeu que não é comercializável — disse.

A Comissão de Valores Mobiliários abriu nesta segunda-feira processo para investigar o compromisso de Eike de injetar US$ 1 bilhão na OGX Petróleo até 30 de abril de 2014, assumido em outubro do ano passado. A autarquia não fez comentários sobre a investigação.