A despeito dos seus 22 anos de idade, o atacante Lucarelli já
é considerado por muitos uma referência técnica na seleção brasileira – não por acaso ele foi eleito o melhor ponteiro do Mundial da Polônia, em setembro, quando
o Brasil foi vice-campeão. Agora, em
meio à crise gerada pela identificação de que a Confederação Brasileira de
Vôlei (CBV) fez contratos irregulares que somam R$ 30 milhões, entre 2012 e 2013, o jogador do Sesi-SP demonstrou que não se esconde na
hora de se posicionar politicamente para lutar pela transparência no vôlei nacional.
Em uma referência ao protesto no qual jogadores usaram narizes de palhaço antes
da rodada da Superliga no fim de semana, Lucarelli diz que dirigentes da gestão do presidente Ary Graça na CBV, encerrada em março deste ano, transformaram
a modalidade em um picadeiro. E, por conta disso, o jovem talento pede que os culpados devolvam o suposto dinheiro desviado ou sejam mandados para a cadeia.
- Infelizmente, essas pessoas mancham o vôlei
brasileiro que nos últimos anos construiu uma coisa tão bacana, com jogadores com
integridade acima da média. Transformaram o vôlei brasileiro em um picadeiro, por isso nos usamos nariz de palhaço. Eles usaram de forma errada o dinheiro para o investimento em um esporte que pode
tirar gente das ruas, incentivar uma nação e mudar vidas. Foi uma palhaçada. Essa é uma
mensagem direta para essas pessoas. Quem tiver que pagar, que devolva o
dinheiro ou seja preso - disse Lucarelli, que está bem acompanhando na onda de protestos.
Ciente do seu papel como jogador da seleção brasileira, o
jovem reitera que os atletas decidiram que fazer greve na Superliga não seria o
caminho ideal para protestar contra a crise da CBV, que fez com que o Banco do Brasil, principal apoiador da CBV há 21 anos, suspendesse o pagamento do importante patrocínio. O que os desportistas podem fazer é
fiscalizar o andamento das investigações e continuar se movimentando para aumentar a união
entre os jogadores das 12 agremiações que disputam a Superliga masculina.
- Os
jogadores mais experientes e mais novos já estão se movendo, todos os jogadores
de todos os times estão unidos, estamos nos falando. O vôlei brasileiro não
pode se manchar por uma cagada dessas. Temos que continuar batalhando e lutando
pelos nossos direitos.
Emergente líder do movimento criado pelos jogadores para
cobrar que se puna os culpados pelas irregularidades apontadas pela Controladoria-Geral
da União (CGU), Lucarelli lamenta um dos efeitos colaterais causados pelo posicionamento
dos atletas e da nova gestão da CBV. Um
dia após as denúncias seguidas de reclamações dos citados, a Federação
Internacional de Vôlei (FIVB), presidida justamente por Ary Graça, puniu a seleção
brasileira por uma confusão na partida contra a Polônia na segunda fase do
Mundial: Bernardinho foi suspenso por 10 partidas e recebeu uma multa de US$
2.000 (cerca de R$ 5.300) ; o líbero Mário Junior foi suspenso por seis
jogos; Murilo Endres por uma partida; e Bruninho recebeu multa de US$ 1.000
(cerca de R$ 2.650). Por considerar que se tratou de uma retaliação da entidade que comanda o vôlei mundial, a CBV abriu mão de receber as finais da
Liga Mundial, em julho de 2015.
- Receber as finais da Liga seria muito importante já
pensando nas Olimpíadas do Rio, em 2016, porque nós mesmos e a torcida brasileira
precisamos nos acostumar com a pressão de jogar em casa uma grande competição.
Eu não sei se isso é definitivo, mas tem uma grande chance de acontecer. É uma
pena. Quem sai perdendo são os jogadores e a torcida.