01/06/2013 19h54 - Atualizado em 14/06/2013 17h06

Pequenas ações individuais podem aliviar o trânsito nas grandes cidades

Mudanças de hábitos simples e pontuais podem contribuir para um deslocamento melhor e sem estresse. Confira as dicas de especialistas

Atitudes simples como sair mais cedo de casa ou evitar ir de carro todos os dias para o trabalho pode evitar o estresse dos congestionamentos nas grandes cidades (Foto: Thinkstock/Getty Images)Atitudes simples como sair mais cedo de casa ou evitar ir de carro todos os dias para o trabalho pode evitar o estresse dos congestionamentos nas grandes cidades (Foto: Thinkstock/Getty Images)

O excesso de veículos nas ruas tem trazido um incômodo a mais para habitantes das metrópoles brasileiras. Além de lidar com poluição, violência e falta de infraestrutura, agora também é preciso encarar o trânsito cada vez mais lento. Mas existem soluções para aliviar o problema enquanto os governos não investem mais no transporte público.

Durante o mês de junho a questão da Mobilidade Urbana será tema do Globo Cidadania

Para evitar se estressar no trânsito, que tal sair de casa mais cedo? Esta foi a opção adotada por Eva Vider, engenheira de transportes da Escola Politécnica da UFRJ. “Você ganha uma qualidade de mobilidade gigante. E isso saindo de carro mesmo. Saindo meia hora antes você pode ganhar duas horas. Assim você aproveita bem o seu tempo”, garante.

Moradora da Zona Oeste do Rio de Janeiro, a professora precisa percorrer cerca de 30 km até a universidade. Saindo mais cedo, Vider consegue economizar mais de uma hora no trajeto, que antes seria perdida no anda e para sem fim do trânsito.

“Se você trabalhar em um lugar onde pode alterar seu horário é ainda melhor. Pode acertar de sair mais cedo e fugir dos horários de pico. Tenho visto várias empresas fazendo isso”, conta a engenheira, que cita o exemplo de uma companhia de transportes que trabalha no turno de 6h30 a 14h30, oferecendo melhoria na qualidade de vida para os funcionários.

“Tudo passa por mudança de atitude, de hábitos. Para a gente, não custa nada”, afirma. Outra forma de reduzir drasticamente seu impacto no trânsito é dar carona para vizinhos e familiares. Se um motorista compartilhar seu carro com três outros condutores, haverá apenas um carro na rua, em vez de quatro. Uma redução de 75%. E se todo o trânsito das cidades pudesse ser reduzido em 75%?

Transporte público é opção, mas problemas afastam motoristas (Foto: Thinkstock/Getty Images)Transporte público é opção, mas problemas afas-
tam motoristas (Foto: Thinkstock/Getty Images)

E mesmo se a carona não for viável, o bom e velho (não tão bom e frequentemente velho mesmo) transporte público pode ser uma opção. “O transporte público ainda não é ideal. No Rio nem é uma rede. Mas para certos movimentos ele pode funcionar muito bem”, completa Vider, que prefere pegar ônibus de integração com metrô para evitar o trânsito de alguns bairros da cidade. A carona com um familiar ou vizinho até uma estação também é uma boa alternativa, ela sugere.

E quem já depende de transporte público sem ter ninguém para dar carona pode ainda experimentar outros trajetos para ver como consegue economizar mais tempo ou ter mais qualidade de vida. Uma caminhada mais longa até uma estação de trem ou metrô, procurar outras linhas de ônibus mais rápidas e fazer integrações podem ajudar.

“Quando falo do uso racional do automóvel, não é que a pessoa não deva ter carro. Ela pode ter, mas é melhor para passear com a família, não para ir trabalhar todo mundo junto na mesma hora indo pela mesma via. Carro de passeio é melhor usar para passeio”, sentencia a engenheira. Outra dica é tentar concentrar as atividades - como academia, médicos e bares - perto de casa ou do trabalho para evitar deslocamentos desnecessários.

Marcos de Sousa, editor do portal Mobilize, é outro que defende o uso racional do carro. “A primeira resposta é pensar antes de sair de casa. Quando vai sair de manhã, você tem que pensar na roupa que vai usar de acordo com o lugar aonde vai. Com o transporte é igual. Tem que ver se não é melhor ir de transporte público, ou a pé, ou de bicicleta, pública ou particular”, explica. Sair de carro para qualquer lugar só piora, segundo ele. “Tem gente que usa carro como se fosse calçado. Só sai de casa com ele.”, complementa.

Assim como Vider, Sousa diz que é preciso compartilhar o automóvel. “Evite andar com o carro vazio. Em São Paulo, a média de pessoas por veículo há alguns anos era de 1,4. Hoje, acreditamos que esse número seja de 1,2. Ou seja, de cada dez carros, oito andam com uma pessoa só”, observa.

“Se parar para pensar, veja como o carro pode ser irracional. A pessoa sai de casa sozinha transportando uma tonelada de aço, ocupa espaço, gasta dinheiro e usa por umas duas horas do seu dia para fazer um trajeto de 8 ou 10 km que podia ser feito de transporte público”, comenta Sousa.

Metrô é meio de transporte mais eficiente (Foto: Thinkstock/Getty Images)Metrô é meio de transporte mais eficiente
(Foto: Thinkstock/Getty Images)

O especialista afirma ainda que andar a pé trajetos de menos de 3 km (cerca de meia hora) pode ser uma boa prática. “É mais vantajoso do que ficar no congestionamento se estressando, brigando. A pé, com o tempo, você vai descobrindo lugares lugares bonitos da cidade, vai ficando mais consciente dos problemas, das questões urbanas”, argumenta o especialista.

A única contraindicação do editor é para quem trabalha de roupas sociais: “Claro que terno embaixo do sol em um dia de calor não é uma boa ideia, mas nessa época do ano, com clima ameno, dá para andar 2 ou 3 km a pé tranquilamente.” Para estimular as caminhadas, o editor recomenda que os moradores mantenham sempre suas calçadas em bom estado para o trânsito de pessoas: “É bom até para o bairro.”

O aluguel de bicicletas, que vêm se popularizando em capitais brasileiras nos últimos três anos, é uma boa alternativa para esses deslocamentos curtos, mas os riscos do trânsito ainda afastam alguns ciclistas.

A mãozinha da tecnologia
Quem abandonou o transporte público há muitos anos e não sai mais de casa sem o carro pode contar com uma ajudinha da tecnologia. A maioria das principais cidades brasileiras têm sites de consultas com todas as linhas de ônibus municipais, seus itinerários, preços e horários (mesmo que não muito precisos).

As lojas de aplicativos para smartphones também contam com diversas opções atendendo diferentes capitais para informar sobre linhas de ônibus, trem e metrô. Outra opção é recorrer ao Google Maps, que mostra trajetos, condições de trânsito e tempo de viagem.

Para quem não pode ou não quer de jeito nenhum abandonar o automóvel nem conhece um vizinho para dar carona, o site Caronetas pode ser de grande ajuda. O portal funciona como uma rede social de caronas, indicando pessoas que moram ou trabalham por perto e que podem viajar juntas no mesmo carro. E sem o risco de andar com algum mala sem alça, visto que o site permite buscar viajantes por interesses parecidos.

Elétrico e público
No futuro, também será possível usar automóveis públicos para se deslocar. Paris inaugurou seu sistema há menos de dois anos e já tem sucesso na operação. O modelo de funcionamento foi inspirado no aluguel de bicicletas que já existia na cidade e que hoje é usado em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil. O usuário pode pegar o carro em qualquer estação e devolver em outra que tiver vaga.

Há diversos planos de assinatura, e a ideia é estimular o uso por menos de duas horas. Passando desse tempo, o preço de uso dos carrinhos mais que dobra. Também há fabricantes com modelos que ocupam ainda menos espaço que os parisienses (que carregam quatro passageiros). Além de ser apenas para duas pessoas, os veículos se dobram quando estacionados, preenchendo um terço de vaga de um carro de passeio médio.

No Brasil, apenas Florianópolis, Curitiba e Rio de Janeiro se interessaram por testar um sistema de aluguel de veículos públicos, mas a ideia ainda não saiu do papel.

Acervo do Museu da Pessoa

O Museu da Pessoa, que há 20 anos registra histórias de indivíduos para transformá-las em fontes de conhecimento, destacou em seu acervo relatos de pessoas que trocaram o carro pelo transporte público e a bicicleta.

Gente como o ciclista Beto Dias, criador do Portal Via Pedal, que utiliza a bicicleta como meio de transporte.

(Confira seu depoimento ao lado)

 

 

 


Ou a arquiteta Ana Carolina Zullo, que se preocupa em não ocupar o espaço público com carro.

(Assista ao lado)

 

 

 


O Museu da Pessoa é um museu virtual e colaborativo de relatos de vida. Toda e qualquer pessoa é convidada a contar histórias e a explorar o acervo de narrativas em textos, imagens, vídeos e áudios. E você pode participar dessa iniciativa contando sua história. Tem material relacionado à questão da mobilidade urbana? Envie para o Museu da Pessoa.

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