• Por Marilena Dêgelo
  • Por Marilena Dêgelo
Atualizado em
 (Foto: Ana Paula Carvalho)

O barulho da cachoeira embala o sono dos moradores da casa, que fica no terreno ao lado do rio Capoeirão protegido pelo muro de pedras. Na foto à dir., as janelas, os guarda-corpos de ferro retorcido e a lareira metálica antiga, que também funciona na área externa, são materiais de demolição comprados na Galo Vermelho, em Itaipava. Os moradores foram armazenando as peças antes de iniciar a reforma (Foto: Ana Paula Carvalho)

Na década de 1980, muitos jovens casais deixaram as metrópoles em busca de uma vida alternativa e calma em pequenos paraísos escondidos entre as montanhas. Essa motivação, derivada do movimento hippie, levou, há 27 anos, a psicóloga Márcia Marinho e o consultor do mercado financeiro Paulo Pinho a trocarem a agitação do Rio de Janeiro pela tranquilidade de Araras, distrito de Petrópolis, na serra fluminense. Lá abandonaram suas profissões e encontraram na gastronomia uma nova vocação. Dois anos depois, eles montaram o restaurante Alvorada, para o qual se dedicam até hoje. “É nosso segundo lar, mas funciona apenas nos fins de semana”, diz Márcia.

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

No canto da sala, os móveis herdados de familiares ganharam acessórios novos, como a almofada bordada da Atelier Clementtina. Na foto à dir., a madeira peroba de demolição predomina no hall de entrada. Está na porta, com puxador de ferro, e no assoalho. Tudo da GaloVermelho  (Foto: Ana Paula Carvalho)

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

Aberta para a sala de jantar, a cozinha possui fogão
e bancada de inox, equipamentos industriais como
os do restaurante que os moradores montaram na
cidade há 25 anos. Cadeiras anos 1950 e outras
peças garimpadas ao longo da vida do casal (Foto:
Ana Paula Carvalho)

A casa onde moram, recebem amigos e cozinham nos demais dias fica junto ao bucólico rio do Capoeirão. Quando a compraram, três anos atrás, era muito pequena, com apenas 100 m². Aos poucos, foram ampliando-a até deixá-la com os atuais 250 m². “Fomos atraídos pela beleza do rio e fizemos a casa como se fosse um balneário, com os principais cômodos voltados para ele”, conta a moradora.

Antes de dar início à obra, o casal passou meses juntando materiais de demolição: janelas e portas de madeira maciça, grades de ferro retorcido, assoalho de peroba e azulejos de antigas fazendas da região de Petrópolis. Tudo comprado em loja do vizinho distrito de Itaipava. “Nós focamos no reaproveitamento de coisas, incluindo os móveis de família, alguns pintados por mim”, diz Márcia.

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

No parapeito da janela da cozinha fica a coleção
de panelas compradas em viagens. As pretas
de barro são do Espírito Santo e as de
cerâmica marrom pintada, de Portugal. No chão,
cestas de palha feitas pelos artesãos de Araras.
São peças usadas no dia a dia pelo casal 
(Foto: Ana Paula Carvalho)

Com a orientação do arquiteto Alexandre Sodré, do Studio da Mata, eles cuidaram sozinhos da construção. Primeiro, ergueram a nova sala e, em cima, a ampla suíte. Para garantir a boa iluminação, colocaram janelas grandes e duas portas-balcão: uma dá para a sacada e a outra para o terraço, protegidos por antigos guarda-corpos de ferro. Com a mesma linguagem, Márcia encomendou os varões das cortinas de linho branco bordadas por uma amiga de lá. “Dormimos ouvindo o som suave da cachoeira e, ao acordar, saio no terraço para olhar o rio”, diz ela.

De qualquer cômodo é possível ver as águas límpidas do Capoeirão. Ele passa na frente da janela da cozinha, integrada à sala de jantar e à de estar. Neste último ambiente reina uma grande lareira de ferro preto, que pertenceu a uma antiga casa de Petrópolis. “Ela é aberta para dentro e para fora. No inverno, nós a usamos também na área externa”, conta a moradora.

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

Márcia lê na cama de ferro com colchão forrado de tecido oleado, comprado em Paris, que fica sempre no meio do jardim. A helicônia faz parte do paisagismo de Rita Ribeiro, do Studio da Mata  (Foto: Ana Paula Carvalho)

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

Acima, na saída para o terraço, com piso de cimento queimado, tapete da Benedixt. Paulo conserva o Fusca 1973, adquirido ainda zero-quilômetro pelo tio da esposa  (Foto: Ana Paula Carvalho)

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

No quarto do casal, os móveis, incluindo a sapateira, acompanham os moradores desde a primeira casa. Na cama, lençóis comprados no Recife (Foto: Ana Paula Carvalho)

 (Foto: Ana Paula Carvalho)

No alto da porta-balcão, rosa de papel machê
da artista Analu Prestes. As cortinas de linho
bordado ficam em varão de ferro retorcido,
feito sob encomenda (Foto: Ana Paula
Carvalho)

Em viagens pelo país e pelo exterior, quase sempre para festivais de gastronomia, o casal gosta de comprar objetos para a casa, como as panelas de cerâmica marrom, trazidas de Portugal, que ficam no parapeito da janela da cozinha. “São coisas que juntamos ao longo de nossas vidas.”

O mel e o fel da obra, por Márcia e Paulo

Qual foi o pior momento da reforma?
Quando caiu uma das paredes da casa, que era antiga e estava podre. Ficamos uma semana sem saber o que fazer.

E qual foi a melhor descoberta?
Depois da queda dessa parede, vimos que poderíamos construir uma sala maior embaixo e ter um quarto grande e um escritório em cima.

Houve mais frustração ou alegria na busca por materiais de demolição?
Ficamos apaixonados pelas portas e pelas janelas que se encaixaram perfeitamente em todos os lugares. A batalha difícil foi garimpar azulejos antigos.

E o que foi realmente um motivo de felicidade?
Queríamos uma lareira antiga e a única que encontramos era enorme. Achamos que não caberia na sala, mas ela coube perfeitamente. Fizemos até festa.