Ambientes
No sossego da serra
O som da cachoeira e o ar bucólico do rio do Capoeirão atraíram um casal carioca para uma pequena casa no distrito de Araras, em Petrópolis. Ampliada aos poucos, ela virou um delicioso refúgio
3 min de leituraNa década de 1980, muitos jovens casais deixaram as metrópoles em busca de uma vida alternativa e calma em pequenos paraísos escondidos entre as montanhas. Essa motivação, derivada do movimento hippie, levou, há 27 anos, a psicóloga Márcia Marinho e o consultor do mercado financeiro Paulo Pinho a trocarem a agitação do Rio de Janeiro pela tranquilidade de Araras, distrito de Petrópolis, na serra fluminense. Lá abandonaram suas profissões e encontraram na gastronomia uma nova vocação. Dois anos depois, eles montaram o restaurante Alvorada, para o qual se dedicam até hoje. “É nosso segundo lar, mas funciona apenas nos fins de semana”, diz Márcia.
A casa onde moram, recebem amigos e cozinham nos demais dias fica junto ao bucólico rio do Capoeirão. Quando a compraram, três anos atrás, era muito pequena, com apenas 100 m². Aos poucos, foram ampliando-a até deixá-la com os atuais 250 m². “Fomos atraídos pela beleza do rio e fizemos a casa como se fosse um balneário, com os principais cômodos voltados para ele”, conta a moradora.
Antes de dar início à obra, o casal passou meses juntando materiais de demolição: janelas e portas de madeira maciça, grades de ferro retorcido, assoalho de peroba e azulejos de antigas fazendas da região de Petrópolis. Tudo comprado em loja do vizinho distrito de Itaipava. “Nós focamos no reaproveitamento de coisas, incluindo os móveis de família, alguns pintados por mim”, diz Márcia.
Com a orientação do arquiteto Alexandre Sodré, do Studio da Mata, eles cuidaram sozinhos da construção. Primeiro, ergueram a nova sala e, em cima, a ampla suíte. Para garantir a boa iluminação, colocaram janelas grandes e duas portas-balcão: uma dá para a sacada e a outra para o terraço, protegidos por antigos guarda-corpos de ferro. Com a mesma linguagem, Márcia encomendou os varões das cortinas de linho branco bordadas por uma amiga de lá. “Dormimos ouvindo o som suave da cachoeira e, ao acordar, saio no terraço para olhar o rio”, diz ela.
De qualquer cômodo é possível ver as águas límpidas do Capoeirão. Ele passa na frente da janela da cozinha, integrada à sala de jantar e à de estar. Neste último ambiente reina uma grande lareira de ferro preto, que pertenceu a uma antiga casa de Petrópolis. “Ela é aberta para dentro e para fora. No inverno, nós a usamos também na área externa”, conta a moradora.
Em viagens pelo país e pelo exterior, quase sempre para festivais de gastronomia, o casal gosta de comprar objetos para a casa, como as panelas de cerâmica marrom, trazidas de Portugal, que ficam no parapeito da janela da cozinha. “São coisas que juntamos ao longo de nossas vidas.”
O mel e o fel da obra, por Márcia e Paulo
Qual foi o pior momento da reforma?
Quando caiu uma das paredes da casa, que era antiga e estava podre. Ficamos uma semana sem saber o que fazer.
E qual foi a melhor descoberta?
Depois da queda dessa parede, vimos que poderíamos construir uma sala maior embaixo e ter um quarto grande e um escritório em cima.
Houve mais frustração ou alegria na busca por materiais de demolição?
Ficamos apaixonados pelas portas e pelas janelas que se encaixaram perfeitamente em todos os lugares. A batalha difícil foi garimpar azulejos antigos.
E o que foi realmente um motivo de felicidade?
Queríamos uma lareira antiga e a única que encontramos era enorme. Achamos que não caberia na sala, mas ela coube perfeitamente. Fizemos até festa.