Tradicional monumento da Praça Barão do Rio Branco de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná, a estátua de Tiradentes é uma réplica não autorizada do trabalho do artista paranaense João Turin. De acordo com o gestor do acervo de Turin, Maurício Appel, a escultura que foi inaugurada em Ponta Grossa em 1972 foi copiada da original, que está na Praça Tiradentes de Curitiba desde 1927.
João Turin, natural de Morretes, no litoral do estado, viveu até 1949. Desde a década de 20, a estátua de bronze permanece no marco zero de Curitiba, em frente à Catedral Nossa Senhora da Luz. Segundo Appel, em uma noite da década de 70, alguém foi até a praça curitibana, aproveitou os tapumes cercando o local, e retirou um molde da escultura. “O herdeiro de João Turin conta que na hora ninguém viu nada”, diz o gestor.
Em 1972, uma estátua com os mesmos traços foi instalada em Ponta Grossa, o que despertou a curiosidade da família Turin. De acordo com Appel, assim que os herdeiros descobriram, chegaram a questionar a prefeitura de Ponta Grossa. “Eles trocaram correspondências por um tempo, mas como não tinha muita explicação, deixaram a história de lado”, revela.
O diretor da Fundação Municipal de Cultura de Ponta Grossa, Cirilo Barbisan, disse que nunca ouviu falar na história, até ficar sabendo pela reportagem do G1. “Achei a história fantástica e curiosa. Imagina alguém ir até a praça, em Curitiba, fazer um molde durante a noite e ir embora? Não acredito que seja verdade, mas vamos atrás para ver se encontramos alguma correspondência da década de 70”, diz.
Detalhes coincidem
A diferença entre as duas esculturas é a de que o Tiradentes original foi feito de bronze, enquanto o de Ponta Grossa é de cimento. Segundo Appel, o molde veio da França na década em 1922. Cinco anos depois, João Turin criou a estátua de Curitiba. “A réplica foi toda feita em cimento, o que perde as características originais, a textura e o movimento que o bronze dá”, explica.
As olhar as duas imagens, é possível reparar nos detalhes de cada escultura. Ambas estão de corpo inteiro e com a cabeça de Tiradentes levemente para cima. O desenho da corda segue idêntica ao redor do pescoço e cai sobre o peito. Tanto na réplica quanto na original, as vestes estão abaixadas. Nas estátuas, também aparecem correntes presas aos pulsos.
O gestor acredita que a construção de uma réplica de Tiradentes sem autorização da família não tenha sido feita por má fé. “Eu acho que foi mais por falta de conhecimento. Na década de 70, não se dava tanta atenção aos direitos autorais do artista como atualmente. Na época, pode até ter sido normal”, acredita.
Tiradentes de Curitiba
A estátua de Tiradentes de Curitiba voltou à roda de discussões recentemente. Na noite do dia 25 de julho, restauradores da prefeitura da cidade encontraram uma garrafa lacrada com manuscritos embaixo da obra. Os funcionários trabalhavam para começar a restauração da escultura. O objeto permaneceu escondido por 85 anos. O projeto de restauro será feito no Atelier João Turin, que tem exibição permanente do acervo do artista e realiza projetos com escolas.
A previsão é de que a garrafa seja aberta na quinta-feira (1º) por membros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O gestor do acervo de João Turin, que também é gerente do Atelier, acredita que tudo é uma grande diversão. “Eu acho que deve ser uma brincadeira do Turin”, acredita. Questionado sobre a possibilidade de encontrar outra garrafa na réplica da estátua, Appel brinca. “Acho que não tem garrafa em Ponta Grossa, não”, brinca.