Economia

Analistas reforçam apostas em Vale e Petrobras após resultados

Corte de custos da mineradora e lucro da petroleira surpreenderam mercado

RIO - Duas das maiores empresas brasileiras listadas na Bolsa, Vale e Petrobras, divulgaram balanços na semana passada que revelaram queda no lucro do segundo trimestre, impactado principalmente pela alta de 10% do dólar no período. Apesar de as ações das duas companhias apresentarem queda no ano, analistas reforçaram recomendações de compra com o desempenho.

De 15 recomendações divulgadas por analistas para os papéis da Vale, desde junho, 14 são de compra das ações preferenciais (PNA, sem voto), segundo dados da Bloomberg News. O preço alvo — valor projetado para a ação daqui a 12 meses — varia de R$ 41 a R$ 54, o que presume possível valorização de 36% a 80%.

As apostas na gigante da mineração não foram abaladas pelo resultado no segundo trimestre. O lucro encolheu 84% de abril a junho, em relação ao mesmo período de 2012, para R$ 832 milhões. Segundo o analista Victor Penna, do BB Investimentos, o número pode “chocar muita gente”, mas diz pouco sobre a realidade da mineradora. Ele diz que a companhia tem conseguido cortar custos — foram R$ 1,58 bilhão no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado — e se ajustar ao momento de desaceleração da China.

— A Vale atual é mais focada do que a Vale do ex-presidente Roger Agnelli, que tinha atuação na área de petróleo e siderurgia, por exemplo. Hoje, é uma empresa que se voltou para dentro de casa, com foco em mineração e logística e na eficiência, que escolhe projetos mais rentáveis — diz Penna.

A queda das ações da Vale neste ano teve influência do desaquecimento da economia chinesa. Isso afetou preços de minério de ferro, que recuaram de US$ 150 a tonelada em janeiro para US$ 130 na última quinta-feira. Segundo Gustavo Mendonça, economista da Saga Capital, o cenário da China e a entrada em produção de projetos de mineração na Austrália — que vão acrescentar de 30 milhões a 40 milhões de toneladas na oferta de minério de ferro no mercado até o ano que vem — devem colocar o preço da commodity entre US$ 120 e US$ 130 a tonelada.

— O maior risco está na China. Os números do país não são muito confiáveis e acredito que o crescimento pode voltar a decepcionar — explica Mendonça.

A Petrobras conseguiu reduzir perdas cambiais que seriam de R$ 11 bilhões para R$ 3,1 bilhões no segundo trimestre ao utilizar a contabilidade de hedge a partir de maio, segundo cálculos do consultor Cesar Ramos. Essa prática contábil é utilizada para amenizar o impacto da valorização da moeda americana e permite vincular 70% da dívida em dólar a receitas com exportações, o que tirou R$ 8 bilhões em perdas cambiais dos resultados. Assim, o lucro líquido do segundo trimestre caiu 19%, para R$ 6,2 bilhões na comparação com o primeiro trimestre, mas veio 23% acima da projeção média de analistas consultados pela Bloomberg. Imediatamente após o balanço, analistas reforçaram recomendação de compra para a companhia.

A analista Carolina Flesch, da BB Investimentos, recomendou compra após o resultado, porque é esperado aumento da produtividade para o segundo semestre, com o início do funcionamento de novas plataformas. Pedro Galdi, analista-chefe da corretora SLW, sugere a aquisição dos papéis somente para investidores que vislumbram o longo prazo e possam ficar anos com as ações em carteira. Antes da divulgação do desempenho no segundo trimestre, levantamento da Bloomberg mostrava que 12 analistas mantinham recomendação de compra de ações preferenciais (PN, sem voto) enquanto seis sugeriam a manutenção para quem já tem os papéis em carteira ou ficar de fora para quem não tem.

— Gatilho de alta da Petrobras vai ser quando explorar mais o pré-sal e gerar riqueza para melhorar a estrutura de capital. A curto prazo, os resultados vão continuar comprometidos — disse Galdi.

Os principais entraves para a valorização da petrolífera são a falta de reajustes na gasolina para níveis próximos aos praticados no mercado internacional, que gera prejuízo com a importação de combustíveis para suprir o mercado doméstico, e os riscos de alta do dólar e do petróleo, segundo analistas. Por outro lado, se ficar confirmada uma trajetória de crescimento da produção de petróleo, após a alta de 4,8% em junho para 2,378 milhões de barris de óleo por dia, a ação pode valorizar, destaca Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Canepa Asset Brasil.

— É uma aposta de risco no curto prazo, porque depende de variáveis econômicas que não dependem da empresa. Vamos dizer que a produção cresça, mas o câmbio dispare para R$ 3? Não adianta nada — reconheceu Póvoa.

Como ele, Luís Felipe Amaral, sócio da Equitas, também comprou o papel recentemente por acreditar que a ação já caiu demais pela falta de reajuste de gasolina e pelo impacto do câmbio:

— Chegou a um ponto em que qualquer melhora pode representar valorização.