Economia

Leilão do Galeão atrai 6 consórcios, com operadores de Paris, Londres e Frankfurt

Levantamento obtido com exclusividade pelo GLOBO mostra que cinco deles estão entre as empresas que administram os 20 maiores aeroportos do mundo

Grandes consórcios estão preparados para disputar os dois aeroportos: Galeão (foto) e Confins
Foto: O Globo / Gustavo Miranda
Grandes consórcios estão preparados para disputar os dois aeroportos: Galeão (foto) e Confins Foto: O Globo / Gustavo Miranda

BRASÍLIA E RIO - Levantamento do governo, obtido pelo GLOBO, aponta a existência de oito operadores aeroportuários, distribuídos em seis consórcios, que deram indicações de que vão participar do leilão de Galeão. Alguns deles também deverão brigar por Confins (Belo Horizonte). Cinco deles estão entre as empresas que administram os 20 maiores aeroportos do mundo e movimentam entre 51 milhões e 70 milhões de passageiros por ano. Devem entrar na disputa em consórcio com construtoras nacionais. São a BAA/Ferrovial (Londres), com Queiroz Galvão; ADP (Paris)/Schiphol (Amsterdã), com Carioca Engenharia e GP Investimentos; Fraport (Frankfurt) com Ecorodovias; Changi (Cingapura) com Odebrecht; ADC/HAS (Houston) com Fidens e Galvão Engenharia, além de Flughafen München (Munique) e Flughafen Zurich (Zurique), com a CCR.

- As empresas interessadas no leilão já vinham conversando com operadores com experiência em mais de 35 milhões de passageiros por ano, porque todo o trabalho feito pelo governo foi no sentido de trazer para o setor aeroportuário brasileiro um grande player - disse uma fonte diretamente envolvida nas concessões.

Segundo essa fonte, a redução da exigência para o operador de Confins, de 35 milhões de passageiros para 20 milhões, não vai resultar em maior concorrência na licitação do aeroporto. A avaliação é que há pouco tempo para a formação de novos consórcios, com alvo exclusivo no aeroporto mineiro.

- Os consórcios estão preparados para disputar os dois. Quem não ganhar Galeão, fica com Confins - destacou a fonte.

A avaliação de especialistas é semelhante. Primeiro, porque os consórcios que confirmaram interesse na disputa já se formaram. Alguns já haviam se articulado para fazer novas parcerias com o intuito de se enquadrarem na regra de corte dos 35 milhões de passageiros. E, agora, dificilmente vão rever suas associações.

Além disso, nem todos os operadores dos aeroportos que movimentam 20 milhões de passageiros por ano ou mais têm interesse em investir fora de seus países. Segundo o Airports Council International, órgão que reúne representantes de aeroportos ao redor do mundo e divulga estatísticas sobre o setor, 75 aeroportos movimentaram mais de 20 milhões de passageiros em 2012. Com o corte de 35 milhões de passageiros, seriam apenas 33 habilitados para a licitação.

Dos novos aeroportos que passaram a integrar a lista, muitos são chineses e americanos, sem apetite para investimentos no exterior. Para especialistas, os operadores que poderiam se somar aos consórcios já formados são o do aeroporto de Gatwick, em Londres, controlado por um grupo de fundos de investimento que tem como principal acionista o Global Infrastructure Partners; o operador do aeroporto de Melbourne (Austrália); e o do aeroporto de Zurique (Suíça). Este último já havia feito uma parceria com a CCR, mas a concessionária teve que correr atrás de outra parceira para se enquadrar na regra dos 35 milhões.

- Os grandes beneficiários da mudança são Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, da CCR. Poderão disputar com o operador de Zurique em BH e o de Munique no Rio - diz Jorge Leal, professor de Transporte Aéreo da Escola Politécnica da USP.

O TCU ressaltou que apenas 33 aeroportos preencheriam o critério dos 35 milhões de passageiros por ano, sendo que 21 são geridos exclusivamente por empresas públicas e que teriam algum tipo de restrição para entrar na disputa. Mas, segundo um levantamento do governo, existem 14 empresas público privadas no mundo, que atendem ao requisito, com participação em concessões.

Invepar quer Confins

Com a proximidade da licitação dos dois aeroportos, prevista para 22 de novembro, e redução da experiência exigida para Confins, a Invepar (empresa formada por fundos de pensão de estatais e a empreiteira OAS) aumentou a pressão sobre o governo para que possa disputar o aeroporto mineiro. O governo limitou a participação dos atuais concessionários a 15%, para assegurar a concorrência. Este percentual de participação, no entanto, não assegura direito ao conselho de administração, o que reduz o interesse da Invepar no negócio. A empresa já administra Guarulhos e alega que Confins não concorre com o aeroporto paulista.

- Há uma verdadeira queda de braço no governo. De um lado, estão as empreiteiras que ficaram de fora da primeira rodada de concessão, com parte do governo; de outro, a Invepar, que conta também com a simpatia de alguns integrantes do governo e do TCU - disse uma fonte do mercado, envolvida nas discussões.

- É um jogo pesado - admitiu um integrante do governo.

O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, tem insistido na tese de que é importante estimular a concorrência e que a concentração no setor prejudica o usuário. No momento, há uma enorme expectativa em torno da decisão do TCU, que deve se manifestar sobre a questão na próxima quarta-feira.

Se ganhar a queda de braço, a Invepar pode entrar na disputa, com a operadora de Mumbai (Índia), com experiência de 30 milhões de passageiros, mais a africana ACSA (que já faz parte do consórcio de Guarulhos, mas tem experiência com menos de 20 milhões de passageiros por ano).

- Os próximos dias serão decisivos. A Invepar vai tentar mudar as regras até o último minuto, para poder participar do leilão - disse uma fonte a par das intenções da empresa.

Segundo esta fonte, a Invepar está contrariada, mas tem se mostrado resistente a entrar na Justiça neste primeiro momento por entender que precisa manter uma boa relação com o governo, já que é concessionária em Guarulhos.