11/06/2013 07h19 - Atualizado em 11/06/2013 07h19

Carioca abre fábrica de pão de queijo na Dinamarca e vende 1,5 kg a R$ 50

Ele também faz coxinha, pastel e empada e vende na Dinamarca e Suécia.
Produção mensal é de 6 toneladas, sendo que 60% é de pão de queijo.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo

Fábrica de Vinicius Ferreira já produz 6 toneladas de pães de queijo e salgadinhos na Dinamarca (Foto: Divulgação) Ferreira já produz 6 toneladas de pães de queijo e salgadinhos por mês na Dinamarca (Foto: Divulgação)

Há cerca de 4 anos, o carioca Marcos Vinicius Ferreira, de 40 anos, ganha a vida vendendo pães de queijo na Dinamarca. A ideia veio após ele comer a iguaria brasileira na casa de uma amiga por lá e decidir aprender a fazer o produto. Atualmente, o empresário vende para cafés e restaurantes da Dinamarca e Suécia, além de fazer entregas de porta em porta para brasileiros que moram na região.

A gente luta diariamente, porque eu queria colocar o produto popular igual é no Brasil"
Marcos Vinicius Ferreira, empreendedor

A produção mensal é de 6 toneladas de alimentos: com o passar do tempo, ele incluiu também coxinha, pastel e empadinha no leque de produtos, mas o pão de queijo é o carro chefe, com participação de 60%.

E para ter a delícia de origem mineira na mesa, os escandinavos pagam caro: o preço final para o cliente, na porta de casa, é de aproximadamente R$ 50 o pacote de 1,5 kg.

O preço, de acordo com Ferreira, não é tão alto se comparado ao padrão de vida dinamarquês, mas mesmo assim não se trata de um produto barato naquele país. Ele explica que os custos de produção são altos.

Dinamarqueses pagam caro por 1 kg de pão de queijo, o equivalente a R$ 50 (Foto: Divulgação)Dinamarqueses pagam caro por 1 kg de pão de
queijo, o equivalente a R$ 50 (Foto: Divulgação)

“A gente luta diariamente, porque eu queria colocar o produto popular igual é no Brasil. Quando você tem uma empresa no Brasil e vai no fornecedor para comprar em grande quantidade, o preço muda [há desconto]. Aqui não, eu nunca vi, o preço é ‘x’ se você comprar um quilo ou dez toneladas.”

Antes de abrir a “Hr.Ostebrod”, que significa “Sr. Pão de queijo” em dinamarquês, contudo, Ferreira teve outra experiência empreendedora curiosa quando ainda morava no Rio: ele fabricava sozinho e vendia "garras" inspiradas no personagem do filme de terror Freddy Kruger (feitas com latas de alumínio recicladas). Também foi sócio em agências de design, trabalhou no ramo por conta própria e chegou a atuar como modelo – seu porte físico chama a atenção, diz, por ser negro e alto. Ele é formado em propaganda e marketing.

No caso das “garras do Freddy Kruger”, ele conta que vendia para um quiosque de produtos de filmes de terror em um shopping no Rio por cerca de R$ 75. O sucesso foi tanto, relata, que chegou a exportar o produto para um revendedor do Canadá. “Cheguei a vender 2.500 garras no ‘halloween’ canadense.”

Na Dinamarca
Ele foi para a Dinamarca em 2007 para morar com a então esposa dinamarquesa que conheceu no Brasil. Ao chegar naquele país teve dificuldade para conseguir trabalho na sua área, de marketing, pois era um estrangeiro sem contatos no novo país.

“O meu primeiro emprego foi limpando um cinema. Depois tive diversos outros, como limpeza de escritórios, empacotando frutas, roupas, lavando pratos em um restaurante grego e separando sorvete dentro de um freezer com 30 graus negativos, e por aí vai. Foram momentos difíceis por que eu trabalhava até 12 horas por dia”, relata.

Ferreira diz, contudo, que a remuneração não era tão baixa e chegou a receber o equivalente a R$ 6 mil ao mês – mesmo com o custo de vida lá sendo maior, ele afirma que dá para ter uma boa qualidade de vida no país com a quantia. "O valor do salário mínimo aqui é alto."

Primeiras entregas eram feitas de bicicleta ou de trem (Foto: Divulgação)Primeiras entregas eram feitas de bicicleta ou de
trem (Foto: Divulgação)

Pão de queijo
O pão de queijo entrou na vida do carioca cerca de um ano após ele chegar ao país. “Um dia eu vi uma amiga fazendo pão de queijo e fiquei louco para comer, foi aí que tive o primeiro contato com o produto aqui na Dinamarca.”

O empresário pegou a receita com a amiga e resolveu fazer um experimento. De lá para cá, não parou mais.

Certa vez, congelou uma porção e levou para a amiga provar. “Ela me aconselhou a vender para as amigas dela. Foi aí que tudo começou”. Ele disse que todos os ingredientes são iguais ao da receira original e o polvilho é importado do Brasil (ele chegou a comprar do Taiwan, mas não gostou do resultado).

A abertura da empresa, diz, foi mais uma visão de oportunidade. "Confesso que no Brasil eu não era nem apreciador de pão de queijo. Gostava, mas comia uma vez na vida outra na morte". Como buscava uma área de atuação no país, resolveu apostar nos pães de queijo.

Divulgação
Ele usou a internet para divulgar o produto para brasileiros no país. “Eu vendia a ideia de matar a saudade do Brasil comendo a iguaria brasileira”. No começo, produzia na cozinha da casa onde eu morava com a ex-esposa (com a qual ele mudara para a Dinamarca). “A produção era feita a mão, ‘bolinha por bolinha'".

Eu vendia a ideia de matar a saudade do Brasil comendo a iguaria brasileira"
Marcos Vinicius Ferreira, empreendedor

Depois, ele se divorciou e foi morar com a atual esposa, que na época ainda era namorada e vivia com outras duas amigas. Ferreira relata que chegou a fazer os pães de queijo na “cozinha minúscula” dividida com as três. “Lembro de brigas terríveis."

As entregas iniciais, de cinco ou seis caixas por mês, eram feitas de bicicleta e até mesmo de trem. Ele vendia pela internet e combinava com os clientes de entregar nas estações. “Eles me encontravam no caminho do trem para poder comprar. O trem parava às vezes só 2 minutos nas estações e os clientes já estavam me esperando."

Durante dois anos, o empreendedor diz que fez tudo sozinho: produzia, embalava e entregava. Aos poucos, a produção atingiu 200 quilos de pão de queijo por mês.

Em seguida veio a ideia de produzir pastel e coxinha e as vendas foram crescendo. A atual esposa e então namorada começou a ajudar na produção. Há cerca de três anos, eles investiram aproximadamente R$ 500 mil para instalação da fábrica, compra de carro, freezer e máquinas em Copenhague.

O empreendedor afirma que é extremamente caro abrir uma empresa na Dinamarca. “Compramos todos os equipamentos em outros países do leste europeu (...). Como aqui na Dinamarca as coisas são extremamente caras, tive que usar o meu 'jogo de cintura' de carioca e me virar para fazer tudo o que tinha que fazer dentro da lei e das exigências dinamarquesas, que são muito rigorosas."

Entre as medidas do "jeitinho brasileiro", ele cita que optaram por não contratar mão de obra para construir a fábrica. “Conseguimos, em seis meses, terminar a fábrica sozinhos”, diz, explicando que ambos usaram vídeos na internet para aprender como fazer. "Eu não sabia martelar um prego.”

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Para abrir a fábrica, ele investiu o equivalente a R$ 500 mil (Foto: Divulgação)Para abrir a fábrica, ele investiu o equivalente a
R$ 500 mil (Foto: Divulgação)

Crescimento
Hoje a empresa tem duas divisões, uma para venda aos brasileiros por lá (com a entrega feita de porta em porta) e a outra a cafés e restaurantes, que já representa 60% das vendas. Há sites específicos para cada público-alvo.

“A ‘divisão’ dos brasileiros funciona da seguinte maneira: são entregas gratuitas e diárias em toda a Dinamarca e Suécia de pão de queijo, coxinha, pastel e empada congelados”. Ele explica que, em cidades muitos distantes, são juntados pedidos grandes. “Já chegamos a fazer 36 cidades diferentes em um único dia."

O crescimento anual e na ordem de de 5%. "Dirijo a empresa sozinho e a minha esposa cuida da contabilidade, site, estoque". Ele afirma contrata trabalhadores temporários para ajudarem esporadicamente na produção.

Há ainda duas vendedoras que visitam os clientes, uma brasileira e outra dinamarquesa - a última, diz, para ajudar na abordagem, tendo em vista que o empresário avalia que haveria resistência dos compradores caso fosse ele quem realizasse as vendas, pelo fato de ser negro e brasileiro. "Eu não quero aparecer, sinto que vou ser prejudicado", revela.

Questionado sobre os resultados até agora, Ferreira afirma que se sente vitorioso e ainda vê muito potencial para crescer dentro da própria Dinamarca. Ele pretende, também, expandir ainda mais os negócios pela Suécia e entrar futuramente na Noruega.  "A minha meta da empresa é pegar a Escadinávia inteira."

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