Economia

Preço do etanol no Rio caiu apenas 1,26% apesar da safra recorde, bem abaixo da média nacional: 6,8%

Combustível custa em média R$ 2,301 e corresponde a 76% do valor da gasolina, o que ainda o deixa em desvantagem

RIO - O consumidor do Rio de Janeiro ainda não foi beneficiado pela safra recorde de cana-de-açúcar (54% da moagem são destinados à produção de etanol) e pelos incentivos no PIS-Cofins concedidos pelo governo. Os preços no estado caíram bem menos do que no resto do país: da última semana de abril até agora, recuaram 1,26%, de acordo com levantamento feito com base nos dados divulgados semanalmente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), enquanto no país a queda é de 6,8%.

O preço médio do etanol no Rio estava em R$ 2,328 na última semana de abril. Em junho, entre a primeira semana e a última, caiu de R$ 2,316 para R$ 2,301, um recuo de 0,65%. Já em São Paulo, no mesmo período, o produto ficou 9,1% mais barato, baixando de R$ 1,951 em abril para R$ 1,787 em junho. No Brasil, o preço médio do etanol ficou em R$ 1,943.

Por sua vez, a gasolina, levada pelo efeito da mistura de 25% de álcool em sua composição, registrou uma queda média de 0,9% frente a abril. Com isso, a relação entre os preços entre o etanol hidratado e a gasolina comum caiu de 72% para 68% na média nacional, mas no Rio de Janeiro ficou em 76%, patamar em que ainda é mais vantajoso abastecer com gasolina. Enquanto em São Paulo o preço médio caiu 1,54%, recuando de R$ 2,768 em abril para R$ 726 em junho, no mesmo período, a gasolina no Rio passou de R$ 3,015 para R$ 3,005, menos de 0,332%. Além de São Paulo, já é vantajoso abastecer com álcool  em Mato Grosso, Mato Grosso de Sul, Goiás, Minas e Paraná.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Rio de Janeiro (Sindicomb), Manuel Fonseca da Costa, diz que os postos de gasolina repassam as reduções que vêm das distribuidoras, mas estas têm sido pequenas. A diferença do cenário do Rio para o nacional, afirma, pode ser explicada pela concorrência:

— O preço pode variar muito de acordo com o mercado. Em São Paulo, existe uma guerra de preços, e as distribuidoras acabam tendo que oferecer descontos maiores para competir. Com isso, no seu mix de preços, compensam com reduções menores para as regiões onde há menos concorrência, como o Rio. Para os comerciantes, quanto menor o preço, maior o giro, e portanto, a vantagem.

O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom) informou que não comentaria questões específicas relativas aos preços dos combustíveis, uma vez que o mercado é livre e cada associado tem sua política de valorização do produto determinada pela estratégia comercial.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) foi contatada pelo GLOBO não respondeu ao pedido de entrevista do GLOBO.

Moagem de cana cresce 10% em relação a 2012

De acordo com o banco holândes Rabobank, instituição mundial especializada em alimentos e agronegócio, a moagem de cana no Centro-Sul do Brasil ficará em torno de 585 milhões de toneladas, alta de 10% sobre a safra anterior. O valor está muito próximo do divulgado pela União Nacional das Indústrias de Cana de Açúcar (Unica), que mensurou em 590 milhões de toneladas a safra 2013/2014.

— Mesmo com a sazonalidade do etanol, geralmente os preços são bem mais baixos durante os meses de junho e julho. O Brasil produz etanol suficiente para ser consumido ao longo do ano inteiro — afirma Andy Duff, gerente da equipe de Pesquisa em Agroeconomia do Rabobank Brasil. — Uma percepção para os preços não chegarem ao consumidor pode ser em decorrência dos custos de produção, que subiram bastante, mas o preço do produto está limitado diante do preço da gasolina, que funciona como um teto.

Além disso, Andy reitera que o governo deixou o preço da gasolina subir em 6% no começo do ano e não tem intenção de autorizar novo aumento.

— Fazer mais aumentos no preço da gasolina é desafiador dado os reflexos na inflação. Outra maneira de olhar o problema é buscar aumentar a produtividade e assim baixar os custos unitários. Este é o foco do setor, neste momento.

A agência reguladora estabeleceu critérios para a aquisição e formação de estoque de etanol, mesmo durante a entressafra da cana-de-açúcar, esta é uma forma de regular os preços, mas não tem contribuído para empurrá-los para baixo, diante da demanda no Rio de Janeiro. Além disso, a medida tem como um dos objetivos facilitar a prever a produção do combustível.