Economia

BC reduz estimativa de inflação para o ano corrente pela primeira vez desde setembro de 2010

Segundo Relatório de Inflação relativo ao terceiro trimestre, IPCA deve fechar o ano em 5,8%
. Foto: Arte O Globo
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BRASÍLIA - O Banco Central reduziu sua estimativa para a inflação em 2013. Segundo o Relatório de Inflação relativo ao terceiro trimestre, divulgado nesta segunda-feira pela autoridade monetária, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 5,8%. Anteriormente, essa previsão era 6%. É a primeira vez desde setembro de 2010 que a autoridade monetária reduz sua projeção para a inflação do ano corrente.

No entanto, o BC elevou de 5,4% para 5,7% a estimativa para o IPCA em 2014. Para 2015, o número foi mantido em 5,5%. Os números são calculados com base no chamado cenário de referência do BC, que considera juros e câmbio estáveis.

"Em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária", informou o BC pelo documento.

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, afirmou nesta segunda-feira que a autoridade monetária continua trabalhando para trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%. Embora o Relatório de Inflação relativo ao terceiro trimestre traga uma projeção de 5,8% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013, o diretor destacou que o BC já começou a subir os juros para conter a alta dos preços, o que ocorrerá gradativamente ao longo do tempo.

O relatório projeta ainda uma inflação de 5,7% para 2014. Caso os números se confirmem, a média desse indicador no governo Dilma Rousseff ficará em 5,96%, mais próxima do teto da meta, de 6,5%, do que do centro. Em 2010, o IPCA ficou em 6,5% e, em 2011, 5,84%.

- A inflação, no horizonte com o qual estamos trabalhando, permanece alta. Contudo, existe um processo de ajuste das condições monetárias e precisamos aguardar um pouco para ver em que medida a inflação vai responder a esse processo. Vamos continuar trabalhando para trazer a inflação para o centro da meta - disse Araújo, que também afirmou:

- A inflação está alta, está desconfortável, mas isso é uma situação que pode evoluir para melhor a depender as ações que forem tomadas ao longo do tempo - disse.

Em agosto, o IPCA fechou em 0,24%, após registrar 0,03% em julho. Em 12 meses até o mês passado, o índice de inflação oficial desacelerou a alta para 6,09%.

"Nos próximos meses, a evolução dos índices de preços ao consumidor deverá refletir, de um lado, o efeito da recente depreciação cambial, e de outro, o efeito base da progressiva eliminação do impacto das elevadas taxas mensais de inflação no segundo semestre de 2012", disse o BC, em trecho do relatório.

No relatório, o BC alerta para o risco que os aumentos de salários no país podem representar sobre a inflação. Num momento em que várias categorias estão em negociação de reajustes, como é o caso dos bancários, a autoridade monetária acredita que a inflação dos salários não pode se descolar da inflação de bens e serviços para não pressionar ainda mais os preços:

- Moderação salarial é chave para que se tenha estabilidade macroeconômica. Não podemos ter um descasamento muito grande entre a inflação de salários e a inflação de bens e serviços - disse o diretor, acrescentando:

- A inflação ainda é elevada, ainda há riscos. A inflação de salários está crescendo menos, mas continua alta. É importante que ganhos de salários estejam alinhados com ganhos de produtividade.

Araújo informou ainda que, nas projeções para a inflação de 2013, está contemplado um impacto de 5% de reajuste da gasolina. Segundo ele, no entanto, esse número não se refere a um novo reajuste que o governo possa fazer ainda este ano nos preços dos combustíveis.

Desde o início de 2013, o BC trabalha com possíveis impactos que alguns produtos podem ter sobre o IPCA. Para a gasolina, foi estimada uma alta de 5% em 2013, sendo que, até agora, o impacto já foi de 2,15%.

Fôlego menor no terceiro trimestre

A economia perdeu fôlego no terceiro trimestre do ano. Esta é a avaliação é do Banco Central contida no Relatório de Inflação relativo ao terceiro trimestre de 2013. O documento afirma que, apesar do bom desempenho da economia no período abril-junho, que registrou crescimento de 1,5% em relação aos três meses anteriores, alguns indicadores apontam que houve uma desaceleração entre julho e setembro.

“Indicadores antecedentes e coincidentes sugerem desaceleração do crescimento no terceiro trimestre. Nesse sentido, por exemplo, aponta a retração na produção industrial em julho. Citem-se, ainda, os níveis relativamente baixos da confiança de empresários e famílias e a instabilidade dos mercados financeiros”, afirma o relatório.

No entanto, a autoridade monetária prevê que a atividade volte a “ganhar tração” no último trimestre, fechando o ano com uma alta de 2,5%. No Relatório de Inflação anterior, essa taxa estava estimada em 2,7%.

Política fiscal caminha para não ter influência inflacionária

No relatório, o BC adotou um tom mais cauteloso ao falar sobre a política fiscal. Se em documentos anteriores, a autoridade monetária vinha falando sobre o efeito expansionista da política fiscal sobre a inflação, desta vez, ela afirmou que o superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) sinaliza que “pode se deslocar para a neutralidade”.

O diretor evitou dizer o motivo da mudança no tom em relação ao esforço fiscal do governo e afirmou apenas:

- O Copom (Comitê de Política Monetária) avalia que criam-se condições para que a política fiscal possa se deslocar para a neutralidade. Isso não é uma promessa, mas é uma possibilidade - disse Araújo.