Política

Presidenciáveis fazem corrida eleitoral antecipada

Prováveis candidatos, como Aécio e Campos, disputam apoio do PDT e do PP, que são da base de Dilma
Presidenciáveis Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos Foto: Reprodução
Presidenciáveis Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos Foto: Reprodução

BRASÍLIA - Dois partidos da base da presidente Dilma Rousseff, o PP e o PDT, tornaram-se o sonho de consumo de dois dos principais adversários da petista nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE). A um ano do início da campanha presidencial são muitas as incertezas no campo governista sobre o tamanho da coligação que disputará a reeleição. Mas, pelo olhar de hoje, Dilma não repetirá a parceria de dez partidos construída em 2010. As negociações de Aécio e Campos têm como objetivo suprir a necessidade de maior tempo de televisão, mas também permitir a montagem de palanques presidenciais em estados onde seus partidos enfrentam dificuldade. As negociações do PSDB e do PSB com o PP e o PDT são as mais adiantadas, mas outras articulações estão em curso.

A Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, ainda está absolutamente focada na validação das assinaturas necessárias para a Justiça Eleitoral formalizar a criação do partido, e não começou efetivamente negociações nos estados.

Embora PSDB e PSB estejam travando conversas tanto com PP quanto com PDT, há uma diferença de prioridade. Neste momento, enquanto o foco dos tucanos está nas conversas com o PP, o dos socialistas está sobre o PDT. Nos últimos dois meses, o PSDB incorporou o PP à base de todos seus oito governos estaduais — o último que faltava, no Pará, foi resolvido há cerca de um mês — e a avaliação entre os tucanos é que hoje ao menos a neutralidade da legenda na disputa nacional está a caminho de ser assegurada.

O sonho de Aécio Neves, no entanto, é que ocorra uma formalização da aliança, e para isso oferece apoio em estados onde o PP tem nomes fortes. Como o Rio Grande do Sul, onde lançará a senadora Ana Amélia Lemos, e no Amazonas, onde a pré-candidata pepista é a deputada Rebecca Garcia. Segundo o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, a legenda está dividida:

— Na eleição passada, nós lutamos para que houvesse uma aliança formal com o PT, e ficamos neutros. Eu continuo defendendo a aliança formal, mas está tudo indefinido porque temos alianças importantes também com o PSDB. No Rio Grande do Sul, a Ana Amélia é candidata do PP e quem for contra o PT estará no seu palanque, que pode ser (palanque) do Aécio, do Eduardo Campos, ou duplo. No Paraná, somos Beto Richa (governador do PSDB). Em Goiás, temos o vice do Marconi Perillo (PSDB), e nesses dois o palanque é do Aécio.

No PSB, o empenho no momento é fechar as negociações com o PDT nos estados. Os trabalhistas receberiam apoio a seus candidatos aos governos do Rio, com o deputado Miro Teixeira ou o prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos; do Mato Grosso, com o senador Pedro Taques; do Rio Grande do Sul, possivelmente com o deputado Vieira da Cunha; e de Alagoas, com Ronaldo Lessa — estados onde os socialistas têm dificuldades.

Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, o partido tem conversado com todos os grupos, mas não há qualquer definição. Ele diz, ainda, que a tendência hoje é de apoio à presidente Dilma, mas não deixa de se referir aos protestos de rua:

— Essa é uma fase de muita conversa e pouca decisão, até porque essas manifestações mexeram muito no cenário. A diferença entre as conversas com os dois partidos (PSB e PSDB) é que o PSB é mais do nosso campo, e isso fortalece a possibilidade de aliança. Mas cada estado tem uma fotografia e há o peso de estarmos no governo através do Ministério do Trabalho — pontua Lupi.

Além da negociação com o PDT, o PSB ainda sonha dividir com Aécio o palanque de candidatos tucanos em três dos seis estados mais populosos do país: São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Em todos os três, os socialistas integram os governos tucanos e já se preparam para apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR). Em Minas, há ainda o possível, mas difícil, lançamento de um candidato único (PSB e PSDB), que poderia ser o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB).

A articulação dos palanques duplos, no entanto, enfrenta um problema. Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que cada candidato ao governo só pode veicular na propaganda de rádio e televisão — principal ativo das campanhas — imagens e falas de um único candidato à Presidência. Ou seja, se for mantida a posição de 2010, Alckmin e Richa só poderão exibir na televisão imagens com Aécio — que é do mesmo partido deles —, nunca as com Eduardo Campos.

Independente da possibilidade ou não de formalizarem palanques duplos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm mantido conversas frequentes e se falaram inclusive na última semana. Ambos almejam o apoio do outro para um hipotético segundo turno da eleição. Aécio Neves, no entanto, minimiza o peso das conversas de hoje no resultado final das alianças, que serão formalizadas somente em junho de 2014.

Na próxima terça-feira, Aécio, que é também presidente nacional do PSDB, reunirá em Brasília os presidentes de todos os diretórios estaduais de seu partido para tratar da montagem das chapas proporcionais e analisar a situação em cada estado:

— O PSDB tem uma prioridade hoje que é conversar com a sociedade. Vamos fazer isso nos nossos novos programas e estimular os diretórios estaduais a ampliar os leques de conversa. Só vamos tratar objetivamente das coligações no próximo ano. Muitas dessas alianças vão depender do quadro que existir lá. Agora é hora de estimular os estados a se organizarem. No ano que vem é a hora das conversas formais de alianças e quanto melhor posicionado estiver o PSDB, maior facilidade vamos ter para essas alianças.

No PSB, os próximos meses serão decisivos para a construção da unidade em torno de Eduardo Campos. Os governadores da legenda evitaram até agora se posicionar abertamente a favor de sua candidatura, alguns deles por medo de retaliação por parte do governo federal. O governador Cid Gomes (CE) é mais ostensivo contra Campos e vem defendendo continuamente, e de público, o apoio à reeleição de Dilma. A expectativa, no entanto, é que todos se unam quando Campos anunciar o rompimento com o governo e se lançar à Presidência, o que deve ocorrer no primeiro trimestre de 2014.

O primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, avalia que ainda é cedo para sacramentar qualquer decisão, mas reconhece as conversas com o PDT e com o PSDB tendem a prosperar nos estados:

— Ainda é muito cedo, ninguém vai tomar essas decisões agora. Essa é a realidade. Há um esforço para que possa se realizar uma aliança com o PDT, existem vários lugares onde essa aliança com o PSDB já existe e algumas deverão se repetir. Mas é o plano local que será definidor delas, no plano nacional são dois projetos distintos. Até porque há muitos anos temos boas relações, mas nossas posições são diferentes nacionalmente.