18/06/2013 16h54 - Atualizado em 18/06/2013 18h16

Movimento quer diminuição de lucro de empresas para reduzir tarifa em SP

Grupo protesta contra o aumento do preço do transporte na capital.
Nesta terça, Haddad citou dificuldades para revogação de reajuste.

Do G1 São Paulo

Depois da reunião com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, nesta terça-feira (18), representantes do Movimento Passe Livre (MPL) defenderam, em nota, que a redução das tarifas de transporte seria possível com a diminuição dos lucros dos empresários da categoria. No encontro desta manhã, o prefeito admitiu pela primeira vez rever o valor da tarifa dos ônibus, depois de uma série de protestos contra o reajuste de R$ 3 para R$ 3,20, mas citou dificuldades para a revogação do reajuste.

De acordo com o movimento, o prefeito se comprometeu a marcar um novo encontro, ainda nesta semana, para discutir a redução da tarifa, mas explicou que para isso que precisaria aumentar o subsídio pago às empresas de transporte coletivo. "O prefeito insiste em dizer que baixar a tarifa é tirar dinheiro da educação e saúde. Isso não é verdade. Basta diminuir o enorme lucro dos empresários, já que 70% do custo do transporte é pago pelo usuário segundo a própria prefeitura", diz a nota do MPL divulgada nesta terça.

Esse cenário de congelamento da tarifa em R$ 3 não é um delírio"
Fernando Haddad

Na reunião do Conselho da Cidade desta terça, Haddad explicou que precisaria aumentar o subsídio pago às empresas de transporte coletivo para possibilitar a mudança na tarifa. "No exterior, um terço [do valor da passagem] é pago pelo empresário, um terço pelo Poder Público e um terço pelo usuário. Aqui a fatia do empresário é de 10%, a fatia do Poder Público é de 20% e a fatia do usuário é de 70%. Então nós temos um trabalho a fazer da parte do Poder Público e um trabalho a fazer do ponto de vista do empresariado porque nós não temos receita para subsidiar a tarifa além do esforço que está sendo feito", afirmou Haddad.

Em nota ao G1, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SP-URBANUSS) informou que as empresas de ônibus de São Paulo não são remuneradas pelo sistema tarifário, "mas sim por um valor de remuneração por passageiro transportado previsto nos instrumentos contratuais." O valor pago por passageiro, porém, não foi informado pelo sindicato.

Aumento de subsídio
Atualmente, o subsídio é de R$ 1,4 bilhão ao ano. Se o valor da tarifa fosse reduzido este ano, seriam necessários mais R$ 1,2 bilhão. Segundo estimativa do prefeito, em 2016 o governo municipal pagaria R$ 2,7 bilhões se a tarifa fosse congelada em R$ 3, como exigem os manifestantes. De acordo com a estimativa da prefeitura, seriam gastos R$ 8 bilhões em subsídios até 2016.

Segundo Haddad, esse aumento pode trazer prejuízos a outros serviços públicos. “Eu vou ter que explicar para a cidade que são R$ 2,7 bilhões que eu vou ter que arrumar. Apresentei nesse conselho um programa de metas que está aprovado no Orçamento”, disse o prefeito.

Ele disse que é preciso se preparar para essa "nova agenda". “Esse cenário de congelamento da tarifa em R$ 3 não é um delírio, é um exercício de como o gestor público vai se preparar para enfrentar esta nova agenda que está na rua e a gente respeita”, afirmou.

Mais cedo, o prefeito disse ainda que o congelamento do valor da passagem de ônibus em R$ 3 até 2016 seria o equivalente a construir 200 mil casas populares, dobrar a rede de hospitais e contratar 20 mil médicos.

Desoneração
O prefeito viaja para Brasília nesta quarta-feira para cumprir uma agenda anteriormente marcada, mas disse que vai tentar falar com os representantes do governo federal para saber se haverá alguma desoneração de tributos da União em relação aos municípios.

O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, sugere outras fontes de recursos, além do valor pago pelos cofres municipais para subsidiar o valor da passagem. Uma das iniciativas, segundo ele, seria através da tributação do litro combustível diretamente nas bombas dos postos, e com repasse de verbas para a administração municipal.

O secretário voltou a rebater as críticas sobre investimento nos ônibus municipais, dizendo que trem e Metrô são "transporte de massa" e que o ônibus deveria ser apenas um complemento.

Palavras
No início da reunião, Haddad disse nunca ter usado “nenhuma palavra que desmerecesse o movimento”. "Eu nunca utilizei nenhuma palavra que desmerecesse o movimento. Nunca utilizei a palavra vândalo, baderneiro, isso não faz parte do meu vocabulário político, embora tenha recriminado a violência", disse o prefeito, em clara referência ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que, ao falar sobre um protesto na semana passada, disse que era “intolerável a ação dos baderneiros”.

O prefeito falou também sobre a manifestação desta segunda. “A manifestação de ontem, para a nossa felicidade, teve pouquíssimos incidentes. A cidade soube acolher, isso da parte das autoridades, da segurança pública, todo mundo compreendeu o sentido de conviver em São Paulo, isso foi muito bom”, opinou.

Haddad fala em reunião do Conselho da Cidade (Foto: Tatiana Santiago/G1)Haddad fala em reunião do Conselho da Cidade
nesta segunda (Foto: Tatiana Santiago/G1)

O convite para uma reunião com Haddad nesta quarta-feira (19) na sede do Sindicato dos Jornalistas foi refeito. O movimento diz que são 37 milhões de pessoas excluídas, no país todo, por causa do preço da tarifa e o aumento da passagem agrava ainda mais esse quadro.

5º dia de protesto
O quinto dia de protestos contra o aumento da tarifa do transporte em São Paulo foi marcado pela mobilização de mais de 65 mil pessoas em um movimento pacífico, que transformou vias importantes da cidade em "calçadões". Apesar disso,  o ato teve um tumulto isolado em frente ao Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul da capital paulista.

As passeatas começaram pouco depois das 17h desta segunda-feira (17) no Largo da Batata, em Pinheiros, e passaram por ruas da região central, percorreram a Marginal Pinheiros e chegaram à sede do governo do estado.

No Palácio dos Bandeirantes manifestantes arrombaram um portão, atiraram rojões contra policiais e vandalizaram dois ônibus nos arredores. A PM reagiu e não houve invasão. Ninguém havia sido preso até as 2h desta terça.

O ponto onde ocorreu o tumulto foi apenas um dos destinos das passeatas desta segunda. As milhares de pessoas que inicialmente estavam concentradas em Pinheiros se dividiram pela cidade quando o ato começou.

Uma parte seguiu pela Marginal Pinheiros, outra pela Avenida Faria Lima e um terceiro grupo ocupou a Avenida Paulista. Houve ainda protesto na frente da Assembleia Legislativa de São Paulo. O trajeto dos grupos foram apenas acompanhados pelos policiais, que não interviram e nem impediram a ocupação de vias.

 

tópicos:
Shopping
    busca de produtoscompare preços de