Economia

Após medidas do BC, dólar recua 3,25% e encerra cotado a R$ 2,35, a mínima do dia

Banco Central ofertará dólares, tanto no mercado futuro quanto no mercado à vista

SÃO PAULO - O plano de ação do Banco Central para conter a escalada do dólar frente ao real surtiu efeito um dia depois do anúncio. A moeda americana encerrou em queda de 3,25% sendo negociado a R$ 2,351 na compra e R$ 2,353 na venda, a cotação mínima do dia. Foi a maior queda percentual desde 23 de setembro de 2001, quando a moeda americana recuou 3,48%. Na máxima, o dólar chegou a ser negociado a R$ 2,405. O BC anunciou um programa diário de venda de dólares para dar liquidez ao mercado, alternando leilões no mercado à vista e futuro. Na semana, o dólar caiu 1,78%, mas no ano ainda se valoriza 14,9% frente ao real. O cenário externo mais tranquilo, com dados mais fracos do setor imobiliário americano, também beneficiou a queda na moeda americana.

Para o ex-presidente do Banco Central e atual sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, os leilões diários de dólares anunciados são positivos porque dão horizonte ao mercado e tendem a reduzir a volatilidade no câmbio.

- Com os leilões, o BC sinaliza aos agentes do mercado que não se precipitem em comprar moeda estrangeira, porque haverá fornecimento diário, pelo menos até dezembro. É uma medida que dá tranquilidade e a reação dos investidores está sendo positiva, já que o dólar recua - diz Loyola.

Para ele, a utilização dos swaps cambiais é mais prudente do que oferecer dólares das reservas internacionais.

- Aliás, são as reservas internacionais elevadas (de cerca de US$ 374 bilhões) que dão lastro e permitem fazer essas operações com os swaps - diz o ex-presidente do BC.

Mesmo assim, Loyola adverte que a tendência de alta do dólar não vai ser revertida, já que os fatores que fazem a moeda americana subir são outros, entre eles a possibilidade de redução dos estímulos à economia americana pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

- Os leilões evitarão um overshooting do dólar, mas não devem levar à reversão da tendência de alta da moeda americana - diz Loyola.

Na Tendências, a previsão para o dólar em dezembro, ainda está em R$ 2,25 e R$ 2,30. Como o momento ainda é de muita volatilidade, qualquer revisão nessa estimativa pode ser precipitada.

Juros futuros caem e Bolsa sobe

As taxas futuras de juros também recuaram nesta sexta, acompanhando o movimento de queda do dólar e o recuo das taxas dos títulos americanos de dez anos. A taxa do contrato futuro com vencimento em janeiro de 2014 recuou para 9,16%, de 9,28% na véspera. O vencimento para janeiro de 2015 ficou com taxa de 10,24% frente aos 10,59% na véspera. E o contrato mais longo, com vencimento em janeiro de 2017, apontou taxa de 11,44% ante 11,87%.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência do mercado, apresentou volatilidade no início da sessão, mas fechou no campo positivo. O índice se valorizou 1,56% aos 52.197 pontos e volume negociado de R$ 7,7 bilhões. É a maior pontuação em dois meses. No dia 6 de junho, o Ibovespa havia atingido o patamar de 52.884 pontos. O Ibovespa foi puxado por papéis de construtoras e da Petrobras.

Nos Estados Unidos, os principais índices acionários também fecharam em alta: o S&P500 teve alta de 0,39%; o Dow Jones se valorizou 0,31% e o Nasdaq teve alta de 0,52%. As vendas de imóveis residenciais novos nos Estados Unidos caíram, 13,4% em julho ante junho, o que levou o mercado a acreditar que a redução dos estímulos à economia pode não começar em setembro.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale recuou 0,37% a R$ 32,28, refletindo a baixa do dólar; Petrobras PN subiu 1,58% a R$ 18,55, ainda no rastro das notícias de que os combustíveis devem aumentar este ano; OGX Petróleo subiu 5,19% a R$ 0,82; Itaú Unibanco avançou 3,41% a R$ 29,43 e Bradesco PN teve alta de 2% a R$ 28,08.

Entre as maiores quedas do pregão, ficaram ações de empresas exportadoras, que perdem diante de um cenário de queda do dólar. Os papéis ON da Marfrig apresentaram a maior perda com baixa de 3,07% a R$ 6,0. Também terminaram em baixa Firbria ON (queda de 2,97% a R$ 28,10); Siderúrgica Nacional ON (perda de 2,54% a R$ 8,81); Gerdau PN (baixa de 2,26% a R$ 17,31) e Cia. Suzano de Papel e Celulose (baixa de 1,99% a R$ 8,87).

Na ponta das maiores altas, ficaram as ações de construtoras.

- Com a queda do dólar, os juros tendem a ficar mais baixos, o que beneficia as construtoras - diz um operador de renda variável.

A maior alta foi apresentada pelos papéís ON da Rossi Residencial, que subiram 9,% a R$ 2,94; seguidas pelas ações ON da Gafisa (ganho de 8,39% a R$ 3,10); PDG Realt ON (alta de 8% a R$ 2,43) e Brookfield ON (ganho de 6,21% a R$ 1,88)

BC anuncia programa de venda de US$ 100 bilhões

Para conter a valorização do dólar, o Banco Central anunciou ontem um programa de leilões diários, alternado-se em ofertas de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, que começou hoje e se estende até 31 de dezembro deste ano. Em comunicado, o BC justificou a medida "com o objetivo de prover 'hedge' cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio.

- É acertada a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) de apoiar o BC na venda de câmbio futuro (“hedge”), inclusive aumentando a oferta deste instrumento. Com isso, o real deve se apreciar evitando o overshooting do dólar - diz Natan Blanche, sócio da consultoria Tendências e especialista em câmbio.

- Em nossa opinião, essa sinalização, mais importante que o pacote em si, deve promover a recuperação da confiança dos agentes e reduzir a volatilidade e pressão sobre o câmbio - escreve em relatório a equipe de economistas do Bradesco.

O Banco Central realizou nesta sexta, o primeiro leilão depois de anunciar as intervenções diárias de venda de dólar com compromisso de recompra, conhecido como leilão de linha. Foram ofertados até US$ 1 bilhão, entre 11h15m às 11h20m. A taxa de corte para recompra, que acontecerá em 2 de janeiro de 2014, ficou em R$ 2,4651, informou o BC.

Para o gestor da FLC Capital, Fernando Araújo, a estratégia do BC terá resultados no curto prazo, mas o dólar deve atingir um patamar entre R$ 2,50 e R$ 2,60 no curto prazo. Isso porque o movimento de valorização do dólar é global e moedas de outros países emergentes como o Brasil, entre eles Índia, Indonésia e Turquia, têm perdido valor em maior magnitude para a moeda americana.

- São países que se beneficiaram do fluxo de dólares baratos, que circulou pelo mundo em busca de oportunidades de investimento. Com a sinalização de que o Federal Reserve (Fed) vai reduzir o programa de compra de títulos de US$ 85 bilhões, e provavelmente os juros vão subir nos EUA, há uma mudança na direção desse capital - analisa Araújo.

Ele lembra que o real estava sobrevalorizado nos últimos anos e agora caminha para um câmbio de equilíbrio.

- Setores que eram competitivos no Brasil, como siderurgia, perderam com o real valorizado. Agora caminhamos para um câmbio mais justo, que deve ficar entre R$ 2,50 e R$ 2,70 em 2014 - diz Araújo, que é gestor do Fundo de Investimentos FCL Equities e montou uma carteira “dolarizada” ao longo dos últimos anos, com ações de empresas que são beneficiadas com a alta do dólar.

Pelo plano de ação do BC, há US$ 60 bilhões disponíveis para os leilões que serão feitos até o fim do ano, já que cerca de US$ 40 bilhões já foram ofertados ao mercado. Além disso, o BC não descarta a hipótese de recorrer a mais rolagens de contratos. Esta é a primeira vez desde 2002 — quando a tensão pré-eleitoral levou o dólar a bater R$ 4 — que a autoridade monetária recorre ao que economistas apelidaram na época de “ração diária do BC”. Analistas elogiaram a nova estratégia do BC por oferecer maior previsibilidade ao mercado, mas a maioria avalia que, por si só, não tem fôlego para inverter a tendência de valorização do dólar.

Todas as segundas, terças, quartas e quintas-feiras serão feitos leilões de swap com oferta de US$ 500 milhões ao dia. Às sextas-feiras será oferecida uma “linha de dólares” de US$ 1 bilhão. A operação é uma venda de moeda americana no mercado à vista com compromisso de recompra pelo BC. Por isso, teoricamente, não baixa as reservas internacionais do país.