Economia

Ibovespa tem queda superior a 2% acompanhando pessimismo externo; dólar fecha a R$ 2,29

Cresce incerteza sobre fim dos estímulos à economia americana

SÃO PAULO - Declarações de membros do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, sinalizando que os estímulos à economia dos EUA podem começar a ser reduzidos já nas próximas reuniões do órgão provocaram uma onda de pessimismo nas principais Bolsas de Valores do mundo. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), se desvalorizou 2,09% e perdeu o patamar dos 48 mil pontos. O índice fechou aos 47.421 pontos e volume negociado de R$ 6,4 bilhões. No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda, acompanhando o movimento da moeda americana no exterior frente a divisas de países exportadores de commodities, mas continuou rondando o patamar de R$ 2,30.

A sessão terminou com a moeda americana negociada a R$ 2,297 na compra e R$ 2,299 na venda, uma baixa de 0,17%. Na máxima do dia, o dólar bateu em R$ 2,307 e na mínima foi negociado a R$ 2,289.

Nesta terça, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o Banco Central poderá ofertar leilões de linha a qualquer tempo, se julgar necessário. Essa perspectiva também ajudou a manter a moeda americana em baixa hoje, segundo um operador de corretora de câmbio.

Os leilões de linha são um tipo de operação que equivale a um empréstimo. O BC oferece os dólares às instituições financeiras com compromisso de recompra numa data futura. Com isso, os bancos podem repassar recursos a seus clientes em períodos de maior procura pela moeda. Até agora, o BC tem feito intervenções no mercado futuro. Desde maio, foram vendidos cerca de US$ 31 bilhões em contratos de swap cambial tradicional, mas a trajetória de alta do dólar frente ao real não foi interrompida. Hoje, não houve intervenções do BC.

Expectativa de redução dos estímulos nos EUA provocou pessimismo nas Bolsas

Pela manhã, o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Dennis Lockhart, afirmou que o banco central americano pode começar a retirar os estímulos à economia em qualquer uma das três reuniões que vão acontecer até o fim do ano: setembro, outubro ou dezembro. A declaração ofuscou dados positivos divulgados na zona do euro e detonou o movimento de venda de ações nos principais pregões. À tarde, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, não descartou que o banco central americano comece a reduzir seu programa de compra de ativos, atualmente em US$ 85 bilhões ao mês, em sua reunião de política monetária de setembro.

“Eu claramente não descartaria isso”, disse Evans ao ser questionado se o Fed pode começar a reduzir suas compras de ativos na reunião de 17 e 18 de setembro.

Foi a senha para que investidores intensificassem a venda de ações. Os principais índices acionários fecharam em queda: o S&P 500 perdeu 0,57%, o Dow Jones caiu 0,60% e o Nasdaq teve perda de 0,74%. E a taxa dos títulos americanos (Treasuries) de dez anos subiu a 2,64%.

- As declarações não trouxeram novidade, mas a preocupação com a possibilidade de que a quantidade de dólares circulando seja reduzida (o chamado enxugamento de liquidez) fez os investidores venderem ações. O problema é que o Ibovespa já está num patamar baixo, enquanto nos EUA os principais índices estão nas máximas - analisa Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Título Corretora.

Cardoso lembra que, internamente, os investidores já estão desconfiados com a perspectiva de crescimento menor da economia brasileira, inflação alta, saldo da balança comercial ruim.

Nesta terça, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o Banco Central poderá ofertar leilões de linha a qualquer tempo, se julgar necessário. Essa perspectiva também ajudou a manter a moeda americana em baixa hoje, segundo um operador de corretora de câmbio.

Os leilões de linha são um tipo de operação que equivale a um empréstimo. O BC oferece os dólares às instituições financeiras com compromisso de recompra numa data futura. Com isso, os bancos podem repassar recursos a seus clientes em períodos de maior procura pela moeda. Até agora, o BC tem feito intervenções no mercado futuro. Desde maio, foram vendidos cerca de US$ 31 bilhões em contratos de swap cambial tradicional, mas a trajetória de alta do dólar frente ao real não foi interrompida. Hoje, não houve intervenções do BC.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, todas apresentaram queda expressiva. Os papéis PNA da Vale recuaram 1,32% a R$ 28,37, enquanto as ações PN da Petrobras perderam 2,22% a R$ 16,28. O mercado está na expetativa do resultados de ambas, no segundo trimestre, que será divulgado esta semana. O analista Marcelo Torto, da Ativa Corretora, prevê uma redução forte no lucro líquido da Vale, com queda de 18% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo US$ 2,6 bilhões. Segundo ele, o resultado é afetado pelo efeito contábil da variação cambial do período.

- E o resultado da Petrobras também deve ser afetado pelo dólar, já que a empresa continua importando combustíveis a um preço mais caro do que vende - diz o estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi.

Já as ações ON da OGX Petróleo fecharam com queda de 3,33% a R$ 0,58. A OGX Petróleo ainda não assinou os contratos da 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Parte das empresas que obtiveram as concessões para produção de petróleo e gás natural assinaram os contratos nesta terça. O diretor da ANP, Hélder Queiroz, disse que a companhia não havia sinalizado a possibilidade de assinar os blocos que arrematou até a noite de segunda. Segundo ele, as empresas têm até o dia 31 para assinar os contratos, mas a ANP fez um pedido para que as empresas antecipassem a assinatura.

E os papéis dos bancos também tiveram desvalorizações. As ações PN do Itaú Unibanco perderam 2,31% a R$ 28,79 e os papéis PN do Bradesco caíram 2,02% a R$ 27,06. A Itaúsa, holding que controla o banco Itaú Unibanco, anunciou lucro líquido de R$ 1,184 bilhão no segundo trimestre. Nos primeiros seis meses do ano, o lucro líquido ficou em R$ 2,562 bilhões, uma alta de 6,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo assim, os papéis PN da Itaúsa caíram 3,39% a R$ 8,26.

As maiores altas foram apresentadas pelos papéis ON da MMX Mineração, com alta de 11,61% a R$ 1,73, seguida pelos papéis ON da LLX Logística, com alta de 4,60% a R$ 0,91. Segundo analistas, as ações da MMX sobem com a notícia divulgada pela Bloomberg de que Bradesco e Itaú trocaram ações da OGX por papéis da mineradora, que estão atrelados aos royalties do Porto Sudeste, como garantia aos empréstimos concedidos. Segundo duas fontes consultadas pela Bloomberg, esses papéis têm perspectivas melhores que ações da OGX. A MMX divulga seu balanço do segundo trimestre nesta terça.

As maiores quedas ficaram para os papéis da Oi. As ações ON perderam 8,14% a R$ 4,40, enquanto os papéis PN recuaram 7,03% a R$ 4,10, devolvendo os ganhos apresentados ontem. Segundo Maurício Pedrosa, da corretora Queluz, as ações da Oi têm apresentado volatilidade, depois que a empresa suspendeu o pagamento de dividendos equivalentes a R$ 1 bilhão previsto para agosto e vendeu ativos. Ontem, a maior alta do Ibovespa foi apresentada pelos papéis ON da Oi, com valorização de 5,04% a R$ 4,79, seguidos pelas ações PN da empresa, que subiram 4,50% a R$ 4,41. Na semana passada, entretanto, as ações ON da empresa recuaram 11,11% enquando as ações PN perderam 12,63%. Ontem, um relatório do Bank of America Merrill Lynch informou que a Portugal Telecom poderia vender ativos na África, se capitalizando para uma possível injeção de recursos na Oi, o que foi recebido positivamente pelo mercado.

Juros futuros sobem no fim da sessão

No cenário doméstico, os investidores analisaram novos dados que mostraram desaceleração da inflação. O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu 0,14%, em julho frente aos 0,76% em junho, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Os preços ao consumidor tiveram deflação de 0,17%, enquanto os produtos agrícolas tiveram deflação de 0,27%. Em julho do ano passado, o indicador tinha subido 1,52%. O IGP-DI apresenta alta de 1,99% no ano e de 4,84% em 12 meses.

Com o IGP-DI mais fraco, as taxas dos contratos de juros futuros recuaram no início do dia. Mas acabaram fechando em alta após as declarações dos membros do Fed. O contrato com vencimento em janeiro de 2015 tinha taxa de 9,71% frente aos 9,69% de ontem. O papel com vencimento em janeiro de 2014 teve taxa de 8,91% frente aos 8,90% de ontem, enquanto o contrato com vencimento em 2017 tinha taxa de 10,85% frente aos 10,80% de ontem.

Na Europa, dados positivos foram ofuscados

Na Europa, as Bolsas fecharam em queda, apesar de bons dados econômicos divulgados nesta terça. Na Alemanha, os novos pedidos à indústria subiram 3,8% em junho. Na Grã-Bretanha, a produção industrial cresceu 1% em julho. O índice Dax, de Frankfurt, perdeu 1,17%; o Cac, do pregão de Paris, teve perda de 0,43% e o FTSE, da Bolsa de Londres, recuou 0,23%. As incertezas em relação às decisões do Fed derrubaram os índices europeus.

"Apesar do quadro econômico melhorar continuamente na Europa, os investidores parecem relutantes em impulsionar os preços das ações por causa da incerteza em relação ao momento em que novas medidas relacionadas ao estímulo monetário serão adotadas", disse o analista de mercado Michael Hewson, da CMC Markets UK, em nota.