Economia

Petrobras estuda nova política de aumentos nos combustíveis, diz Graça Foster

A empresa, que faz 60 anos na quinta-feira, atingirá a autossuficiência no refino apenas em 2020
Foto: Simone Marinho
Foto: Simone Marinho

RIO — Nascida no mesmo ano da empresa que comanda, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, não poupa energia para cuidar da saúde financeira da estatal, que completa 60 anos nesta quinta-feira. Em agosto, a executiva fez uma viagem relâmpago à China, de três dias, para falar sobre Libra, no pré-sal, e garantir a participação de petrolíferas chinesas no leilão de outubro — o primeiro do regime de partilha. Na volta do Oriente, reuniu-se com representantes da agência de risco Standard & Poor’s, interessados nos números da Petrobras. Pediu paciência e enumerou as novas plataformas de produção da maior empresa do país, que vão elevar as receitas do grupo. No cenário atual, com o dólar em alta e a elevação de gastos com a importação de derivados, a preocupação com o caixa é pertinente. No Conselho da companhia, já há discussões sobre uma nova política de aumentos nos preços dos combustíveis. A mudança em discussão, explica Graça, busca dar previsibilidade às receitas da Petrobras. Para ela, o reajuste de preços deveria ser “para ontem”. Hoje, os aumentos são represados pelo governo, para que não pressionem a inflação.

Na última sexta-feira, chamada pela presidente Dilma Rousseff, Graça foi a Brasília de manhã cedo tratar de assuntos ligados à PPSA, a estatal que coordenará a exploração de petróleo no pré-sal — outra prioridade da executiva. No mesmo dia, após uma entrevista coletiva, recebeu O GLOBO. Orgulhosa, falou sobre a mesa onde o então presidente Getúlio Vargas assinou o decreto que criou a Petrobras, em outubro de 1953. Já em sua sala, um pouco envergonhada com a papelada sobre a mesa onde trabalha, mostrou uma maçã, que seria seu almoço tardio. “É, o tempo vale ouro. Quer dizer, vale petróleo”, afirmou.

Vai ter aumento nos preços dos combustíveis este ano?

O ministro Lobão (Edison Lobão, de Minas e Energia) disse que até o fim do ano é possível que ocorra. Eu trabalho para ontem. Foi de 5% em janeiro, mas esse percentual já concedido não cobre a defasagem (em relação aos preços internacionais, já que a Petrobras importa combustíveis). Mas não tem um número (previsto). Eu compreendo perfeitamente o governo (que segura os reajustes por causa da inflação), e isso não é conversa para fazer dengo com minha ilustre pátria. Eu preciso desse mercado, preciso que a economia flua bem, porque estamos fazendo refinarias para o Brasil. Esse cuidado com a inflação que o governo tem é muito importante.

Para a Petrobras é importante uma economia estável?

É essencial, fundamental para a Petrobras. Só se justifica esse investimento todo que a empresa faz com uma economia estável.

Mas sem caixa suficiente, conseguir recursos via financiamentos ou com redução de custos tem um limite. O que fazer?

Você se adequa ao tamanho da realidade. Temos vários projetos em avaliação, porque não cabem na capacidade financeira da Petrobras. Por isso não tem projeto novo.

Uma nova capitalização seria a saída para obter mais recursos?

Outra capitalização? Não, com a Graça, não! Já disse que não farei. Já disse ao acionista que não, não.

E agora, como fazer para investir?

A economia está se ajustando, os empregos se mantendo, o PIB deve voltar, e a inflação deve ficar controlada. Nesse cenário, é importante que tenhamos um aumento de combustíveis.

A Petrobras vai realmente mudar a política de reajuste dos preços dos combustíveis?

Pegando carona no que disse o conselheiro Quintella (Sérgio Quintella) à Agência Estado: ele comentou que tivemos uma discussão na última reunião do Conselho, em que a Petrobras apresentou teses para aumentos de combustíveis.

Que teses são essas?

São teses em estudo, nas quais a premissa número um é que a volatilidade dos preços internacionais (dos combustíveis) não será repassada ao mercado interno. Mas há, nessas teses, uma previsibilidade no médio prazo da recomposição para se chegar na paridade (desses preços em relação ao mercado internacional). Não é conta-petróleo, não é dinheiro do governo. É para ter uma previsão ao longo do ano ou ao longo do Plano de Negócios. Ou seja, uma equação que mantenha o mercado interno comprador (com inflação controlada) e dê à Petrobras uma previsibilidade no planejamento orçamentário.

A nova política tem prazo para sair?

Não posso falar isso. Mas é um trabalho que está sendo feito com muito empenho de várias áreas, e a gente precisa aprovar. E traz o primordial para o governo e para a Petrobras, que é não passar a volatilidade (dos preços lá de fora e do câmbio) aqui para dentro. Uma economia emergente não pode sofrer solavancos de petróleo.

Qual a previsão de o país ser autossuficiente no refino?

Em 2020. Com todas essas refinarias (Abreu e Lima/PE, Comperj/RJ, Premium I/MA e Premium II/CE), vamos aumentar a capacidade de refino de 2,1 milhões de barris por dia para 3,6 milhões de barris diários. Mas, em algum momento, sempre se poderá importar um ou outro combustível ou tipo de óleo. O importante é ter capacidade de refino, mas não estamos preocupados em estar autossuficientes em tudo, pois isso tem um custo absurdo.

E a PDVSA (estatal venezuelana) está, afinal, fora da Abreu e Lima?

Eu não tenho assinado mais aditivos prorrogando os prazos com a PDVSA (que seria sócia com 40% do negócio). Por que e para quê? Na hora que quiserem vir, pode ser uma boa opção. A PDVSA é uma parceira importante, mas ela precisa chegar. A refinaria já está com 82% das obras prontas. A Petrobras está investindo sozinha US$ 18,2 bilhões. A PDVSA queria entrar com apenas 10%, não com os 40%. Não aceito.

As refinarias Premium I, no Maranhão, e a Premium II, no Ceará, no início seriam voltadas para exportação. Agora mudou?

Fazer refino é só para o Brasil, não dá para exportar. É longe, tem custo, tem que ter quem venda lá fora. Você vai competir com alguém que está fazendo uma refinaria naquele país em que você quer entrar. Então, bom para nós é fazer refino aqui dentro, mas para isso o mercado tem que ser comprador.

O Brasil se tornará exportador de petróleo em 2020?

Somente a Petrobras poderá exportar 1,4 milhão de barris por dia de petróleo em 2020. E ainda há o volume de nossos parceiros no pré-sal e de outras empresas. Isso certamente levará a exportação de petróleo do Brasil para acima de 2 milhões de barris por dia em 2020.

Esse volume é significativo?

Para se ter uma ideia do que isso significa, países como Irã, Angola, Venezuela e Noruega exportaram entre 1,7 e 1,8 milhão de barris por dia ano passado. Iraque e Nigéria exportaram em torno de 2,2 milhões de barris por dia.

Um dos motivos da desistência de empresas do leilão de Libra teria sido o receio com a PPSA (estatal que coordenará a exploração do pré-sal)...

É porque é a primeira vez, é o novo. A PPSA será uma empresa de excelência, pequena e enxuta. O cara (presidente da PPSA, ainda não escolhido) que sentar comigo à mesa para negociar deve estar no mesmo nível. O que ele quer é o que eu quero: as melhores práticas aos custos de mercado. E tem que ser gente técnica, gente que sabe, com muita experiência.

A senhora é favorável ao modelo de partilha para explorar o pré-sal?

Sim. Quando não se tem um risco exploratório relevante, o modelo de partilha é o mais adequado. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) conduziu de forma brilhante os contratos no regime de concessão. Na partilha, a gente vai servir de referência mundial também.

Quais são os desafios para as próximas décadas?

O maior desafio é concluir os projetos que farão a Petrobras dobrar de tamanho até o fim desta década. São 947 projetos, envolvendo investimentos totais de US$ 236,7 bilhões no nosso Plano de Negócios 2013-2017, que formam a base para crescer nossa produção do patamar atual de 2 milhões de barris por dia para 4,2 milhões de barris por dia de petróleo em 2020.