Rio

Jovem estuprada em van acusa bandido que atacou turistas

Agredida em fevereiro, só nesta terça-feira vítima teve coragem de ir à polícia

RIO - Vergonha. Foi o que sentiu a estudante de turismo, de 18 anos, de classe média, que não teve coragem de contar aos pais que fora vítima de estupro dentro de uma van, na volta de um programa noturno. O trajeto era Lapa-Copacabana, itinerário inverso ao que um casal de americanos pretendia fazer, no último sábado, quando pegou uma van na Avenida Atlântica e ficou seis horas em poder de bandidos, que espancaram os turistas e ainda estupraram a mulher. As coincidências não param por aí. A jovem só resolveu registrar o caso na polícia porque reconheceu pela TV Jonathan Foudakis de Souza, de 20 anos, um dos criminosos identificados pelos estrangeiros, como o motorista do veículo que a transportou durante quase duas horas de terror. Foi a primeira vez que a estudante viajou de van — e, segundo ela, será a última.

— Quando peguei a van, tinha bastante gente nela. Só peguei esse tipo de transporte porque me disseram que era mais rápido. Além disso, não passava táxi na hora. De repente, todos os passageiros saltaram e me vi sozinha com o motorista e o cobrador. Fiquei com medo e pedi para descer no próximo ponto. O cobrador veio para trás e começou a me tocar. Eu comecei a chutá-lo, mas o motorista parou a van e me segurou para o outro concretizar o ato. Foi horrível — contou a estudante.

Vítima ajuda a fazer retrato falado

O crime aconteceu por volta de 1h30m do dia 13 de fevereiro, uma Quarta-Feira de Cinzas. A voz de Jonathan xingando-a de “vagabunda” não saía da cabeça da jovem até esta terça-feira, quando procurou a Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat) para registrar o caso e reconhecer o bandido. Ela ajudou a fazer também o retrato falado do cúmplice — um menor — que está sendo procurado pela polícia. Três criminosos já foram presos.

A estudante diz que o ataque aconteceu já em Copacabana:

— Sei que não saí de Copacabana, pois cheguei rápido ao ponto em que havia pedido para saltar. Cheguei em casa, tomei um banho, mas fiquei com muita vergonha de contar até para minha mãe.

Para a jovem, o bando tem outros integrantes e fez mais vítimas. Por isso, ela apela para que outras pessoas atacadas procurem a polícia. Depois do caso dos turistas, a estudante foi a segunda mulher a denunciar ter sido vítima do grupo.

O governador Sérgio Cabral prometeu rigor no combate aos criminosos:

— Temos a obrigação de, em função de um fato tão chocante, mostrar que não há tolerância com esse tipo de crime num Estado democrático de direito. Quem cometeu esse crime será punido exemplarmente. O Executivo e o Judiciário devem dar esse exemplo.

Neste terça-feira, a polícia divulgou um vídeo que mostra a turista americana assaltada e estuprada numa van junto com os suspeitos. Nas imagens, a mulher aparece caminhando ao lado de um dos acusados. O vídeo já está com os investigadores da Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat).

A van em que o casal de americanos foi atacado não tem qualquer autorização para transportar passageiros. Segundo a prefeitura de São Gonçalo, o veículo não tem cadastro, nem foi beneficiado por qualquer liminar lhe garantindo o direito de circular. A van, que está em dia com o licenciamento anual do Detran, teria sido alugada pelos bandidos. A polícia descartou a participação do proprietário do veículo, Fabrício Soares, no crime. Ele foi procurado pelo GLOBO na tarde desta terça-feira, mas não foi encontrado.

Transporte irregular de passageiros

A van, placa KWC-4497, era uma das dezenas de veículos desse tipo que diariamente transportam irregularmente passageiros em São Gonçalo. Apesar de proibida, a atividade segue a todo o vapor no município, com base em decisões judiciais. Apenas uma delas, da 2ª Vara Cível de São Gonçalo, tem como beneficiários 22 donos de veículos. Segundo denúncias feitas ao Detro, muitos motoristas também estariam trafegando com fotocópias da liminar, usadas de forma fraudulenta.

A questão tem ainda um lado político. Em sua campanha, o prefeito Neilton Mulim (PR) assumiu o compromisso de regulamentar a atividade. Desde que ele assumiu, a repressão ao transporte ilegal de passageiros na cidade se tornou menos frequente.

Na capital, a prefeitura reforçou, desde a noite de segunda-feira, o combate ao transporte pirata. No primeiro dia da ação, foram apreendidos 49 veículos em situação irregular, entre eles 34 vans e Kombis. A ação ocorreu no entorno da Rodoviária Novo Rio e na Zona Norte.