Economia

Recuo mais forte do dólar é oportunidade para quem vai viajar

Segundo especialistas, quem quiser fechar pacotes agora deve aproveitar

SÃO PAULO - Se as férias de janeiro no exterior já estavam sendo canceladas depois que o dólar turismo bateu em R$ 2,57 em agosto, os viajantes ganharam uma chance extra de embarcar na semana passada. O dólar, tanto no câmbio comercial como no turismo, usado pelos viajantes, engatou uma trajetória de queda e perdeu mais de 2,8% em cinco dias. O dólar turismo começou a semana passada valendo R$ 2,49 e encerrou a R$ 2,42. Já no câmbio comercial, o dólar encerrou a semana com desvalorização de mais de 3%. E, nesta segunda-feira, segue em queda . Abriu-se portanto o que os especialistas chamam de “janela de oportunidade” para fechar a viagem em moeda americana.

— É o que se chama custo de oportunidade. Quem tem reais no bolso suficientes para pagar a viagem, ou outro compromisso em dólar, deve fechar o câmbio e aproveitar a baixa da moeda. Depois da volatilidade de agosto, o dólar bateu nas mínimas na semana passada. Por isso, faz bom negócio quem fecha a viagem agora — avalia Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora.

Assim como empresas que importam estavam desnorteadas com a alta do dólar, muitos brasileiros que estavam se preparando para as férias desistiram ou modificaram os planos. As agências de viagens registraram uma queda de 10% nos últimos meses na procura por pacotes para o exterior. Não é para menos. Uma viagem de uma semana para aproveitar as praias de Cancún, no México, saltou de R$ 6 mil em abril para R$ 11 mil na semana passada. Para não perder clientes, as agências estão negociando com fornecedores, de companhias aéreas a hoteis, descontos nos preços. E tentam repassar essa vantagem ao cliente.

— Mas na hora de fechar a viagem o turista olha mesmo é para o valor do dólar, sempre pensando se ele vai cair mais. A moeda americana pode até cair mais mais um pouco, mas é impossível prever até onde vai. Por isso, é preciso ter um objetivo: se o dólar a R$ 2,40 dá para pagar o passeio da família, feche o pacote — diz Bergallo.

O dólar engatou uma escalada frente ao real desde maio, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que os estímulos à economia americana seriam reduzidos. Todo mês, o Fed compra US$ 85 bilhões em títulos em circulação nos EUA, colocando mais dólares em circulação. Como por lá os juros estão muitos baixos, esses dólares voaram para países emergentes em busca de melhor oportunidades de ganhos. Um dos destinos foi o Brasil. Por isso, com muitos dólares chegando, a cotação vinha se mantendo em torno de R$ 2.

Agora, com a sinalização de que esse volume de dólares injetado na economia americana vai diminuir, os recursos que vieram para cá estão migrando de volta para os EUA. Os juros dos títulos americanos já começaram a ficar mais atraentes e esses papéis são considerados os mais seguros do planeta, já que o risco de calote do governo americano é muito baixo. E a cotação da divisa americana passou a subir frente ao real e a um grupo de moeda de países emergentes, como a Índia e a Indonésia.

Para Felipe Pellegrini, gerente de mesa de operações de câmbio do Banco Confidence, o dólar caiu na semana passada porque empresas trouxeram dólares para o Brasil e os leilões diários de moeda americana feitos pelo Banco Central começaram a fazer efeito. Mas a tendência para a moeda americana continua sendo de alta.

— E surgiu no horizonte um novo fator, que á a possibilidade de uma ação militar na Síria, que pode fazer o dólar subir mais. O real se desvalorizou demais frente ao dólar desde maio e está devolvendo um pouco dessa gordura. Mas deve ficar num patamar mais elevado. Ninguém deve esperar dólar comercial abaixo de R$ 2,30 por muito tempo — avalia Pelegrini.

Para muitos analistas, o dólar comercial deve terminar o ano em R$ 2,40. E, como o dólar turismo é cerca de 7% mais caro que o comercial, ele pode chegar a dezembro em R$ 2,60.

— Por isso, quem tiver reais deve aproveitar essa janela de oportunidade — afirma Pellegrini.

Os analistas lembram que o Banco Central lançou recentemente uma ferramenta que ajuda o viajante a pesquisar. Trata-se do “câmbio legal”, aplicativo para celulares em que se pode pesquisar a cotação do dólar. Por meio da ferramenta é possível localizar os pontos de câmbio em todo o país e assim encontrar o local mais próximo para comprar e vender moeda estrangeira, além de sacar ou trocar moedas por reais. O sistema informa o endereço, telefones, horário de funcionamento, serviços e tipos de atendimento da instituição selecionada. O aplicativo Câmbio Legal está disponível para download gratuito na App Store e no Google Play para os aparelhos que utilizam os sistemas IOS e Android.