Economia

Ata do Copom: BC muda o tom e afirma que consumo será ‘relativamente’ robusto

Segundo Comitê, economia brasileira precisa de recuperação ‘tempestiva’ da confiança de empresários e consumidores

BRASÍLIA - O Banco Central reformulou sua comunicação. Admitiu que passou a trabalhar com um cenário mais crível para a política fiscal, afirmou que o dólar alto tem pressionado fortemente a inflação e ainda fez um alerta: se não houver uma recuperação “tempestiva” da cadente confiança de empresários e consumidores, a velocidade de recuperação da economia brasileira pode ser contida. De acordo com a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira, a não reversão da queda nos índices poderia comprometer a esperança de um ritmo de atividade doméstica mais intenso neste e no próximo ano, o ritmo de retomada dos investimentos e continuidade do crescimento do consumo das famílias.

No documento, começou a dar sinais que as perspectivas para o crescimento não são mais as mesmas. Falou, agora, que o consumo do brasileiro deve se apresentar “relativamente” robusto. O termo é novo. Citou as “boas perspectivas” para os investimentos e não mais a “intensificação” deles. E excluiu ainda a parte em que previa a “recuperação” da produção industrial.

“O comitê nota que a velocidade de materialização desses ganhos esperados pode ser contida caso não ocorra reversão tempestiva do declínio que ora se registra na confiança de firmas e famílias”, diz o documento.

Apesar de o comunicado da decisão — tomada na semana passada de aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros — ter sido o mesmo que o anterior, a ata da reunião está completamente diferente. O Copom deletou da ata a parte em que dizia que ocorreram mudanças estruturais significativas na economia brasileira, as quais determinavam o recuo das taxa neutra, ou seja, dos juros de equilíbrio da economia. O colegiado admitiu que o ritmo de crescimento em “importantes economias emergentes” não tem correspondido às expectativas. No entanto, disse que no Brasil, seu cenário é de uma intensificação do crescimento neste e no próximo ano.

E ainda afirmou o BC que se os juros e o câmbio ficassem no patamar antes da reunião, a inflação para o ano que vem aumentaria. Da última reunião para a da semana passada, o BC anunciou que passou a usar em suas contas o conceito de “superávit primário estrutural”. O número é ajustado pelo momento econômico que o país vive e desconta, por exemplo, receitas e despesas extraordinárias. Ou seja, é uma medida que tira parte das manobras feitas pela equipe econômica para inflar a política fiscal.

Na ata, o Copom avalia que estilingada do dólar tem impacto na inflação de curto prazo. No entanto, classificou que os movimentos de câmbio no Brasil refletem perspectivas de transição dos mercados financeiros internacionais na direção da normalidade, entre outras dimensões, em termos de liquidez e taxa de juros.

“Importa destacar ainda que, para o comitê, a citada depreciação cambial constitui forte pressão inflacionaria em prazos mais curtos. No entanto, os efeitos secundários dela decorrentes, e que tenderiam a se materializar em prazos mais longos, podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária”.

O Banco Central afirmou que, nesse contexto, entende ser “apropriada” a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso. Apesar de incluir no seu cenário um refresco para a alta de preços. Por causa da revogação dos aumentos das passagens de ônibus, a projeção de reajuste do conjunto de preços administrados por contrato e monitorados caiu de 2,5% para 1,8% em 2013.