Política

No Rio, 23 entre 60 já desistiram do Mais Médicos

Em Mesquita, selecionados queriam trabalhar apenas um dia por semana; coordenadora fala em boicote

RIO - Mais de um terço dos médicos brasileiros selecionados para o Mais Médicos no estado do Rio já desistiu de participar do programa. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que, entre os 60 profissionais inscritos na primeira chamada, pelo menos 23 abandonaram o cargo antes mesmo de assumirem os postos. Três municípios não responderam à solicitação da reportagem: Itaguaí, Seropédica, Belford Roxo.

Em Mesquita, onde eram esperados seis médicos, dois sequer deram notícias. Os outros quatro chegaram a se apresentar, mas dois deles alegaram ter apenas um dia disponível para fazer o trabalho, e por isso foram dispensados. A coordenadora da atenção básica e vigilância em Saúde do município, Gláucia Araújo Almeida, considerou uma ‘proposta indecente’ um médico oferecer apenas um dia de trabalho para ganhar um salário de R$ 10 mil, e admitiu a possibilidade de estar havendo um boicote ao programa:

— Acho que eles não leram o edital, eles já chegam com proposta indecente. Dois médicos chegaram falando que não podem trabalhar como médicos generalistas, apesar de o programa abrir vagas para a atenção básica. Uma ginecologista só queria atender na especialidade dela e só tinha um dia para me oferecer. O outro era psiquiatra e também só podia atender um dia e meio. Ele chegou perguntando ‘não precisam de psiquiatra?’, e eu respondi: ‘não pelo Mais Médicos’. Deve ter rolado um boicote (das corporações médicas ao programa).

Dos nove municípios do estado do Rio inscritos no programa e que forneceram dados ao GLOBO, apenas Itaboraí e São Gonçalo conseguiram preencher todas as vagas. Na primeira chamada, Itaboraí pediu quatro médicos, e São Gonçalo solicitou três. Todos já se apresentaram, mas ainda não começaram a atender. Outro problema para os municípios é a falta de comunicação entre o Ministério da Saúde e as secretarias municipais. No site do Ministério, está escrito que Guapimirim pediu cinco médicos brasileiros. Mas o presidente do Conselho de Saúde do município, Carlos Frederico Rodrigues de Almeida, disse que o MS ainda não informou quantos médicos irão para lá e nem quando chegarão.

Na capital, dos 16 inscritos, só seis se apresentaram. Nesta quarta, quatro deles começaram a trabalhar em clínicas da Zona Oeste e Zona Norte. Dos dois restantes, não se tem informação. Em Duque de Caxias, houve 11 inscritos, sendo que cinco desistiram e seis já começaram a trabalhar.

Em São João de Meriti, a única médica inscrita desistiu de participar. O mesmo aconteceu em Japeri. A justificativa, nesse caso, foi a de que o local de trabalho era muito longe da residência da profissional. Em Nova Iguaçu, o único médico que o município receberia na primeira fase também não se apresentou.